EXCLUSIVO
AINDA SOBRE A
AERONAVE IRREGULAR QUE TRANSITOU PELO ESPAÇO AÉREO BRASILEIRO SEM SER INCOMODADA...
... E CAIU NO FINAL DE JULHO EM MATUPÁ, NO MATO GROSSO
Você viu, aqui no Blog, há alguns dias (link https://caixapretadasolange.blogspot.com/2024/07/plantao-caixa-preta_26.html ), mais do que apenas curiosa, a estranha história do PP-ERR, o Learjet que caiu na região de Matupá no final do mês passado.
Afinal, por que uma aeronave com Certificado de Aeronavegabilidade cancelado e que tinha supostamente adquirido uma Autorização Especial de Voo (AEV) para se deslocar a um aeródromo em Campo Grande para se submeter a manutenção adequada e provavelmente completa para recobrar suas condições de voo, foi fazer tão longe, onde infelizmente se acidentou deixando vítimas fatais?
Entrei em contato com a ANAC – que foi quem havia me falado do destino do avião nessa AEV – para nova solicitação. Meu objetivo era ter mais informações sobre o deslocamento do Learjet para fora do Aeroporto de Brasília, onde estava AOG (Aircraft on Ground). A partir do momento que deixa a terminal, precisaria ter um plano de voo para entrar no sistema integrado de controle do espaço aéreo. E a resposta que recebi por e-mail da Agência Nacional de Aviação Civil foi esta:
"O órgão responsável pelo monitoramento do espaço aéreo em território brasileiro é o Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea). Para levantar informações sobre planos de voo, a recomendação é entrar em contato com o órgão.”
Sim, eu sabia disso mas,
nesse caso específico, eu precisaria de mais dados, no caso da AEV, para
confirmar ou tentar descobrir o que eu queria.
Minha surpresa, no entanto, foi a sequência da resposta da ANAC para mim:.
“É necessário pontuar, no entanto, que é improvável que o piloto de uma aeronave que não possui autorização para realizar operações tenha apresentado um plano de voo ao Decea.”
Pensei “Ué... então uma aeronave sem autorização para realizar operações (!!!) pode sair voando por aí sem plano de voo?
Fui consultar quem entende disso mais do que eu, explicando o caso. Algumas das respostas (todas seguindo a mesma linha de pensamento), cujos autores eu não citarei mas são realmente profissionais da aviação brasileira há muito tempo, estão a seguir:
(Minhas perguntas/respostas para/da PRIMEIRA fonte):
– Uma aeronave com o Certificado de Aeronavegabilidade cancelado pode voar? Pode constar em plano de voo? Recebi uma informação que não e não... Procede?
– Procede.
– Então como o Learjet que caiu “ontem” em Matupá voou para vários lugares desde o ano passado com o CA dele cancelado? Não estava simplesmente "vencido"...
– Voou sem plano, provavelmente...
(Minhas perguntas/respostas para/da SEGUNDA fonte):
– O que quero saber: o Learjet PP-ERR poderia ter ido de Brasília para Campo Grande, com AEV, a pretexto de manutenção, SEM plano de voo?
– Não, só voa com plano de voo. É enviado pro Decea a AEV. Pra autorizarem o plano.
(Minhas perguntas/respostas para/da TERCEIRA fonte):
– Uma aeronave com o Certificado de Aeronavegabilidade cancelado pode voar? Pode constar em plano de voo?
– A princípio, Solange, quando se preenche um plano de voo com uma nave com o certificado vencido ele não é aprovado.
– Então apenas com a Autorização Especial de Voo pode-se voar sem se submeter a controle?
– Não se pode voar com o certificado vencido.
A seguir ele me enviou um áudio dizendo que a autorização (especial) vale só para voo de translado para a base de manutenção, só com a tripulação, de aeronave AOG.
Pedi novamente à ANAC cópia do documento AEV mas me responderam que “Como se trata de documento, via de regra, reservado, não será possível atender a sua solicitação.”
Diante disso, informei que eu já havia checado ser inverídica a informação que haviam me passado (“é improvável que o piloto de uma aeronave que não possui autorização para realizar operações tenha apresentado um plano de voo ao Decea”)
Mas eu já supunha que a AEV deveria ser entregue ao Decea para gerar um plano de voo para aquele translado. O documento que se recusaram a me mostrar (AEV) provavelmente era semelhante ao “plano de voo” que estaria substituindo, com dados dos tripulantes etc.
Bem, então contatei o Cecomsaer (Centro de Comunicação da Aeronáutica) com as informações que eu tinha, indagando ao órgão dessa maneira:
“Em relação à aeronave PP-ERR, um
Learjet que se acidentou em Matupá (MT) no último dia 23 de julho, eu gostaria
de obter do DECEA confirmação de que realizou um translado por AEV entre
Brasília (SBBR) e Estância Santa Maria (SSKG) para manutenção e se foi deste
destino que decolou depois vindo a se acidentar em Matupá.
Não tenho a data exata de decolagem porque a ANAC se recusou a me fornecer mas
disse que foi em novembro de 2023.
Por outro lado, testemunhas me afirmaram que essa aeronave nunca esteve lá em
SSKG nesse período.”
Felizmente, o Cecomsaer não tardou a responder que:
“A Força Aérea Brasileira (FAB), por meio do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA), informa que o último registro de plano de voo no Sistema Integrado de Gestão de Movimentos Aéreos (SIGMA) referente à aeronave solicitada é partindo de Brasília (SBBR) com destino a Santa Maria (SSKG), no dia 03/12/2023. No sistema, consta decolagem às 9 horas UTC (6 horas)”.
Portanto, o PP-ERR teria partido de Brasília para aquele destino no Mato Grosso e depois, seja de onde partiu posteriormente, foi para em Matupá (MT) sem plano de voo algum, onde se acidentou.
Na foto acima, que circulou em algumas redes sociais especialmente após o sinistro e cuja autoria não foi identificada, o avião repousa sobre macacos por que estaria trocando a roda que falta na imagem. A foto foi feita justamente no aeródromo de Matupá, segundo as fontes que me enviaram, e a aeronave teria treinado pilotos com toque-e-arremetida no mesmo local.
De acordo com as informações que obtive, o PP-ERR, no entanto, NÃO esteve no aeródromo de Estância Santa Maria mas teria estado em outro aeródromo para manutenção, como Amarais (Campinas/SP). Talvez até decolado de lá direto para Matupá.
Um jato executivo com CA vencido, que foi trocado de dono diversas vezes (veja no meu texto anterior aqui no Blog), constando até uma laranja como proprietária, cruzou o país pelo menos uma vez sem controle das autoridades competentes.
Quantas outras aeronaves, em situação semelhante, (ainda) não acidentadas, cruzam nosso país em situação tão irregular e ilegal quanto ao controle sobre seu(s) voo(s)? E se não tivesse se acidentado, por quanto mais tempo ficaria voando anonimamente o PP-ERR?
Se alguém souber responder isso, me informe, por gentileza!
Eu diria que pelo menos mais um, de acordo com o vídeo no YouTube do Pilot Debrief https://youtu.be/kjGYpAbvjsI
ResponderExcluirNão só no exterior, Andreas, mas no Brasil também...
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