SOU RESPONSÁVEL PELO QUE EU FALO, NÃO PELO QUE VOCÊ ENTENDE
(por Solange Galante)
Recebi na tarde dessa sexta-feira, no meu e-mail que serve também para contatos referentes a este Blog, uma mensagem de um leitor de minhas postagens abrindo um tema espinhoso que atraiu mais a atenção das redes sociais que o acidente em si, da semana anterior. E, após pedir permissão ao remetente para publicá-lo e respondê-lo aqui, eis-lo:
Eu nem tinha assistido ao programa da Globo na noite da terça-feira e durante toda a quarta-feira recebi dezenas de imagens de posts, comentários, links de vídeos referentes ao assunto... Daí, resolvi assistir ao programa pelo Globoplay para tentar entender o que acontecera. E só aumentou a minha dúvida...
Como diria "Jack" (ele mesmo...) vamos por partes, para tentar "desenhar" minha opinião:
1) Como aconteceu em outros programas/reportagens a que assisti, na TV e/ou internet, com uma variedade de especialistas em aviação, daqueles com e sem aspas, no Profissão Repórter (PR) houve explicações, inclusive por parte do Sr. Lito, "meramente ilustrativas", usando um termo bem conhecido da publicidade, do que todos já havíamos forçosamente assumido como uma das hipóteses para o acidente. E porque "havíamos assumido"? Porque menos de duas horas após o sinistro já havia quantidade exagerada de lives sobre essa e outras hipóteses em todo canto: televisão, computadores, celulares, quiçá até nas sapopembas das sumaúmas da Amazônia, usadas para comunicação na selva. Por sinal, num claro desrespeito às vítimas e seus familiares e amigos. Ou seja: todos fomos bombardeados pelas supostas hipóteses com os destroços ainda bem quentes, lá em Vinhedo.
2) Mesmo sendo explicações "meramente ilustrativas", ou seja, sem a intenção de relacioná-las diretamente ao "caso 2283", considerando-se o contexto em que estavam inseridas, qual seja:
a- Um acidente gravíssimo recente
b- Um programa não especializado em aviação indo ao ar poucos dias depois e elegendo um especialista em aviação para dar entrevista
c- O entrevistado segurando uma maquete de avião igualzinho ao modelo que se acidentou, da mesma empresa etc
Tudo isso, portanto, "poderia" de fato compor uma relação A = B sobre o que foi falado, explicado, em uma das inserções do entrevistado, sugerindo que estava-se comentando, no caso da formação de gelo, uma possível causa do acidente em questão.
3) Entretanto em momento algum se fez diretamente essa relação durante as perguntas do repórter e respostas do entrevistado. Considerando só o que todos vimos, não o que não foi utilizado, do material bruto da entrevista. Desde que pudéssemos excluir o contexto supra citado (quase impossível, por sinal...). Deixando mais claro: para mim, para o Renato Rayal da mensagem para mim e até para um amigo meu, que opinou por Whatsapp para mim, conforme abaixo:
E não só sobre o trecho do "barulho" mas nos demais (possível passageiro sobrevivente e gelo nas asas) também.
4) Na mesma semana eu havia coincidentemente criticado outro youtuber por sua alta exposição na mídia a partir do acidente. Porque para dar entrevista para não-especialistas no assunto sempre se exige cuidados. Seja entrevista ao vivo ou gravada. Todo mundo deveria ter aulas de como dar entrevistas, essa é a verdade. Na maioria das vezes, se sai algo errado (e como sai!) não é por má fé do repórter, é por falha na explicação do entrevistado. E se ocorre algo errado na edição, também é possível que o editor não tenha entendido bulhufas do que foi dito na gravação.
5) Uma prática normal, comum, frequente do jornalismo é fazer entrevistas longas para se utilizar um tiquinho delas apenas. Isso ocorre porque, ao contrário dos canais nas redes sociais, geralmente sem um limite definido de tempo, as matérias escritas ou em vídeo ou áudio nas TVs, jornais, revistas e mesmo nas versões para internet dos veículos de comunicação tradicionais (em oposição às redes sociais, sejam elas Youtube, Instagram, X, Facebook etc) há um tempo ou espaço limitado para a matéria. A publicidade nessa mídia hoje chamada de "tradicional" trabalha com isso de maneira diferente das redes sociais. Então 3 horas de entrevista viram 5 minutos, e assim por diante. Até eu fico magoada quando o que falei em entrevista não é usado na íntegra ou quando eu entrevisto alguém e não posso usar tudo o que ele ou ela fala...
6) Agora, um ponto muito importante a se observar é que vivemos num mundo onde engajamento, visualizações, curtidas e compartilhamentos valem muito mais (e dão muito lucro para as Big Techs) do que a informação séria, checada, educativa e realmente relevante. Este Blog não é monetizado, nem minhas redes sociais, mas se eu começar a postar sensacionalismo, por exemplo, dizer que testemunhei algo inacreditável, mesmo que seja mentira, desde que seja emotivo a ponto que atrair um público sedento por esse tipo de emoção (ex: fotos dos cadáveres envoltos em chamas), vai viralizar, com absoluta certeza. Foi por isso que muitas décadas atrás um monge vietnamita ateou fogo em si próprio e assim morreu, inclusive em posição de meditação, para um protesto político-religioso. E foi fotografado, e sua mensagem e seu martírio correram o mundo. "Viralizou" mesmo sem existir a internet. Por isso, o horrível, o doloroso e mesmo o enfrentamento, a luta, a guerra, a polarização são tão "curtidas".
Há muitos outros pontos a se comentar mais ficarei nestes aqui, pelo menos por enquanto. A meu ver, quem entendeu errado o conteúdo do PR e criou posts ou mesmo matérias alegando que Lito tinha dado uma hipótese para o acidente, o que não me pareceu ter dado, esses que repercutiram erradamente o conteúdo do PR, ou o fizeram de má fé ou na "boa fé" de ter ou dar mais visibilidade a quem não precisa disso, muito menos dessa maneira.
E sejamos todos menos inocentes na hora de buscar alta exposição em momentos trágicos.
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