sexta-feira, 24 de julho de 2020

NOTÍCIAS CAIXA PRETA

EMBRAER DESENVOLVE SOLUÇÕES DE TRANSPORTE DE CARGA PARA AERONAVES COMERCIAIS


(Texto e ilustração: Assessoria de imprensa da Embraer)
São José dos Campos - SP, 24 de julho de 2020 – Motivada pelo significativo declínio do número de passageiros de companhias aéreas e pela crescente demanda por capacidade de carga aérea, a Embraer desenvolveu soluções de transporte de carga para sua linha de aeronaves comerciais. Com menos voos comerciais, que transportam passageiros e mercadorias, há uma necessidade crítica por mais espaço de carga.

“Os engenheiros da Embraer aceitaram o desafio quando os clientes perguntaram se conseguiriam encontrar uma maneira das aeronaves comerciais transportarem carga na cabine de passageiros”, explicou Johann Bordais, Presidente e CEO da Embraer Serviços & Suporte. “Hoje, os clientes podem escolher entre um portfólio de soluções para transportar carga nas cabines de seus EMB 120, ERJ 145 e E-Jets.”

A Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) concedeu isenção para o transporte de carga adicional em aeronaves de passageiros da Embraer. A Embraer publicou Disposições Técnicas para as famílias de jatos comerciais ERJ 145 e de E-Jets, incluindo os E-Jets E2, que explicam como acomodar a carga na cabine. Um Boletim de Serviço também está disponível para o EMB 120.

Além de possibilitar o transporte de cargas menores nos compartimentos de bagagem acima dos assentos, itens maiores também podem ser transportados nos assentos, respeitadas as restrições. A capacidade de carga útil é significativa. Por exemplo, um jato E190 de 96 lugares totalmente carregado pode transportar três toneladas métricas (ou 6.720 libras) de carga na cabine, além da carga do bagageiro inferior. Já um E195 de 118 lugares, pode transportar até 3,75 toneladas métricas (ou 8.260 libras).

Os clientes podem optar por uma configuração de frete montada no piso caso a carga transportada não caiba nos assentos para passageiros. Essa solução permite a remoção de até 70% dos assentos, com as demais áreas acomodando itens no piso da cabine. A carga deve estar contida em uma rede de proteção previamente aprovada, que é fixada aos trilhos interno e externo dos assentos. Esta solução já foi desenvolvida para um jato E195 de primeira geração, para a Azul Cargo, no Brasil.

A capacidade de carga útil da cabine do ERJ145 é de até 800 quilos (ou 1.750 libras) e a do E190-E2 de até 2,36 toneladas (ou 5.194 libras). Para clientes que precisam de ainda mais capacidade, a Embraer pode oferecer um Boletim de Serviço para configurações completas de carga, como, por exemplo, no EMB 120. Essas configurações oferecem aos operadores a flexibilidade de transportar itens de carga maiores montados no piso na cabine.


Sobre Embraer Serviços & Suporte 
A rede da Embraer Serviços & Suporte oferece cobertura global e conta com 77 centros de serviços autorizados e próprios, além do TechCare Contact Center 24/7 na sede da Embraer, no Brasil. 
A organização emprega 2.300 funcionários, que dão suporte a mais de 1.700 clientes e 5.600 aeronaves de defesa, comercias, agrícolas e executivas. Os estoques de peças de reposição, avaliados em mais de US$ 1 bilhão, são distribuídos em 24 centros de distribuição nos cinco continentes.

Nossos profissionais são especialistas em desempenho de aeronaves, reparo de componentes, distribuição de peças, treinamento, planejamento de peças de reposição, modificações de interior e logística global. 
A Embraer Serviços & Suporte lançou o TechCare, uma plataforma projetada para fornecer um portfólio abrangente de soluções inovadoras e competitivas, prolongando a vida útil das aeronaves e maximizando o potencial da frota da Embraer. 

PÉROLAS VOADORAS


DESCOMPLICAR É SEMPRE MELHOR!


Citação do acidente abaixo citado, no Wikipedia. (reprodução da internet)


(por Solange Galante)

Sintam a diferença entre essas três "Cabeças" (Texto lido pelo locutor para anunciar uma matéria, informando ao telespectador o que ele verá a seguir) de uma mesma notícia do dia 16 de maio deste ano: 

"Quatro pessoas morreram na queda de um monomotor no Ceará. Uma das vítimas é um médico que contraiu a Covid-19 e seguia para uma UTI no Piauí." (Jornal da Band)

"Quatro pessoas morreram na queda de um bimotor ontem à noite em São Benedito a 317 km de Fortaleza." (Jornal Nacional)

"Três médicos e um piloto morreram na queda de um avião de pequeno porte no interior do Ceará." (Rede TV News)

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O avião em questão era este, que aparece neste vídeo do Youtube. Sua matrícula é PT-RMN. Trata-se de um Piper/Embraer 810 Seneca.

https://www.youtube.com/watch?v=-3dO2ExTZXE


Isso já nos leva a concluir que:

No caso do Jornal da Band o erro foi chamar esse avião de monomotor, o que ele não é.
No caso do Jornal Nacional, acertaram, trata-se, sim, de um avião bimotor.
Mas quem foi mais feliz foi o jornal Rede TV News: o que o telespectador mais quer saber, isso eu garanto, é se foi um acidente com uma pequena aeronave e poucas pessoas a bordo, geralmente associado a menor quantidade de danos a terceiros em solo, ou uma tragédia com um avião de grande porte, com dezenas ou centenas de vítimas etc. Pois isso sim faz a diferença a quem assiste.

Identificar esse avião como um bimotor mostra que o JN teve fontes mais confiáveis, com informação correta, mas até um avião bem maior, como o da TAM que caiu em São Paulo em 2007 era bimotor. E até mesmo o A330 da Air France, acidentado em 2009, também era um bimotor.

Agora, se alguém disse à reportagem da Band que era um monomotor (isso não está informado na reportagem em si, só na "cabeça"), aí foi o uso de uma informação incorreta de fonte, mas eu acredito que, na verdade, mais uma vez, os jornalistas da emissora usaram a palavra "monomotor" como sinônimo de "avião pequeno", em oposição a um Boeing, por exemplo.Quanto mais se tenta usar termos técnicos onde isso não se encaixa bem, maior o risco de cometer erros.

Impossível confundir a expressão "avião de pequeno porte",usado pela Rede TV, com qualquer outra imagem essencial ao conhecimento público.

No caso,  nossa "pérola" foi do Jornal da Band. E mais o seria se o avião pudesse ser identificado nas fotos, mas o acidente foi muito feio, deixando o Seneca praticamente irreconhecível. Mais um motivo para não se inventar que teria sido um "monomotor".

O avião está bem nítido na foto anterior ao acidente, neste site:
https://gramho.com/media/2310330957628185610

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terça-feira, 21 de julho de 2020

SPEECH

NÃO É "PÉROLA VOADORA",
É "FAKE NEWS" MESMO!!!

(por Solange Galante)

O termo "fake news" já faz parte da nossa vida há anos. É a notícia falsa, deturpada, fora de contexto ou completamente mentirosa publicada por puro desconhecimento de quem a produziu ou a transmitiu com capacidade de gerar mau entendimento (por exemplo: a pessoa divulga que determinada vacina faz mal por achar que faz mesmo, e isso pode comprometer uma campanha pública e idônea de prevenção a doenças como o sarampo) OU com o intuito, desde o inicio, de realmente plantar uma ideia para mudar um foco de atenção ou até derrotar um inimigo (como aconteceu nas eleições presidenciais dos Estados Unidos em 2016). E o que falar dos investidores e empresários que acreditaram no Eike Batista?

Mas é inocente quem acha que "fake news" só acontece e causa danos nos campos da saúde, política e economia. Também pode acontece na aviação, sim!

Há alguns dias falei sobre "balão de ensaio" e maus jornalistas que "surfam" numa ideia, levando esperança de emprego a pessoas desesperadas por um. Poucos dias depois de ter publicado meu artigo, dei de cara com esta outra publicação:


Sim! É o que você leu: "...a Nella Linhas Aéreas, que já opera em Guarulhos..." e "A informação dessas rotas foi passada por uma fonte da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC)".

Para o "Plox" sua fonte teria sido o "Tudo Viagem". Onde achei esse artigo (o destaque foi por minha conta):



Esse site afirma que a fonte da ANAC teria passado as informações de rota. Mas, em nenhum momento diz que a empresa já opera a partir de Guarulhos, informação provavelmente criada pelo Plox e que pode levar os menos avisados a acreditar que a Nella JÁ é uma realidade. Ou seja: Plox divulgou Fake News. Mesmo que a Nella se torne realidade algum dia, no momento isso não existe.

Com já comentei aqui no Blog, o importante é buscar as fontes corretas, então, foi o que eu fiz:  procurei a própria ANAC.

Eis a resposta oficial da Agência, por e-mail, para mim (obs: por política própria, omiti os contatos do assessor responsável na assinatura):




recomendação "Sempre que você ler uma notícia duvidosa como essa, por favor, cheque com a gente" vale para TODOS que são jornalistas ou se acreditam jornalistas.

Agora, se a "Fake News" era  proposital, provavelmente tinha algum objetivo. Qual poderia ser?

Uma pista pode estar neste email que recebi em um endereço meu (do Bol) que estou desativando, portanto, não mais o utilizo mas, como estava vinculado a esse Blog, para ele foi enviado. Por acaso entrei no email para ver se ainda estava ativo e, ao contrário das promessas da Bol/Uol, ainda estava sim. E encontrei esta mensagem, cujo remetente aqui omiti, pelos mesmos motivos explicados acima em relação à mensagem da Anac:



Optei por não responder diretamente à pessoa. Mesmo tendo um palpite de onde trabalha e quais são seus objetivos. Mas posso responder uma coisa por aqui para ela, mesmo achando desnecessários papéis, pois atitudes profissionais, a meu ver, valem mais:




como diria o personagem Gaguinho, "Por hoje é só, pe-pe-pe-pessoal!!!" 

quinta-feira, 16 de julho de 2020

NOTÍCIAS CAIXA PRETA

(texto: Solange Galante)

Da noite para o dia, devido à pandemia da Covid-19, a Lufthansa Cargo perdeu pelo menos 40% de capacidade de transporte devido à paralisação dos aviões de passageiros, em cujos porões transporta grande parte dos produtos de seus clientes. Foram 480 porões disponíveis a menos.

A consequência disso, considerando que o transporte cargueiro praticamente não parou durante os últimos meses, tendo apenas se adaptado à demanda urgente, foi, entre outras medidas, o adiamento da desativação de seus McDonnell Douglas MD-11F – restam ainda nove deles na frota – e aceleração das entregas do Boeing 777F pela fabricante – hoje já são sete na frota da empresa alemã, que ainda conta com 11 do mesmo modelo na Aerologic, sua joint-venture com a DHL. Os MD-11F tornaram-se adequados onde era necessário aumentar ou manter as frequências sem aumento da capacidade.

Todas as empresas do Grupo Lufthansa, em voos com passageiros ou apenas cargueiros, alcançam 91 destinos, dos quais 10 são na Europa, 42 na Ásia e Oriente Médio e 39 nas Américas, onde oito são para a América Latina, destacando-se quatro operando no Brasil: Guarulhos-Viracopos-Dacar-Frankfurt (uma vez por semana);  Curitiba-Viracopos-Natal-Dacar-Frankfurt (dois semanais); Viracopos-Montevidéu-Ezeiza-Dacar-Frankfurt (dois semanais) e o voo Guarulhos-Frankfurt com o 747-8 (só porão), que não parou durante o auge da pandemia e já passou para cinco frequências semanais. São mais de 600 toneladas de capacidade por semana.

Porém, a partir da próxima semana o voo para Natal passará a ser operado em Recife. Desde que foi inaugurado aquele que foi o primeiro aeroporto de grande capacidade concedido à iniciativa privada no Brasil, substituindo o antigo aeroporto Augusto Severo, ele sofre por problemas diversos, especialmente relacionados à sua distância da capital potiguar acompanhada de falta de infra-estrutura rodoviária de acesso – um aeroporto que se tornou uma verdadeira ilha na região. Desestimulada pelo movimento abaixo do esperado no aeroporto Aluízio Alves, a concessionária Inframérica já anunciou que irá devolvê-lo ao governo federal, que deverá marcar nova licitação do terminal.

Cleverton Vighy, diretor regional para o Brasil da Lufthansa Cargo, explicou a razão para a mudança de escala da empresa cargueira alemã: "A realidade do Aeroporto de Natal, a meu ver, é realmente um pouco triste porque o estado não tem conseguido gerar a demanda de negócios que existia lá anteriormente, principalmente na área de voos de passageiros. Alguns outros voos internacionais que existiam no aeroporto não estão operando, houve também uma grande redução nos voos domésticos, e daí o impacto aconteceu sobre as empresas chamadas Esatas, que são as empresas auxiliares de serviços, as que dirigem os tratores, fazem os carregamentos das aeronaves etc. Essas empresas estão reduzindo a oferta em Natal, então chegou-se a uma condição em que não era mais viável fazer a operação de serviço auxiliar para uma aeronave cargueira de grande porte. Por isso a necessidade da mudança."

Porém, como a empresa, uma das maiores do mundo no setor de logística aeroporto-a-aeroporto, continua apostando no potencial do mercado brasileiro, e Cleverton trouxe uma boa notícia:

(foto: divulgação assessoria Approach)

Desejamos que a retomada dos negócios seja a mais profícua não só para a Lufthansa Cargo quanto também para as demais empresas que apostam no nosso país para que todos saiam ganhando.




terça-feira, 14 de julho de 2020

PÉROLAS VOADORAS!

USAR AS FONTES CORRETAS

Usar fontes incorretas ou confiar apenas na própria memória produz muitas "pérolas voadoras", que é como eu defino o resultado das incorreções em geral da imprensa especializada e não-especializada na aviação. 

No início deste mês eu comentei que, quando trabalhamos no aprimoramento profissional, não há desculpas e não deve haver mimimis, mesmo ao custo de sermos chamados de arrogantes e chatos(as). Se for para receber informações incorretas, a solução é trocar de canal, de revista, de jornal, de emissora de TV, de rádio, de portal etc. Mas nem sempre sabemos que a informação está incorreta, e é aí que mora o perigo.

Lembro, ainda, que a imprensa, em todas as suas formas, ainda hoje é fonte de conhecimento e, infelizmente, para muitas pessoas, é mais barato saber pela imprensa do que comprar um bom livro de um especialista ou ir a uma biblioteca. Daqui a décadas estaremos, nós ou nossos filhos e netos, nos baseando em reportagens e artigos da imprensa para reescrever a história, lançar livros, peças de teatro etc, assim como nossos pais e avós faziam seus trabalhos escolares pesquisando em jornais antigos e fazendo sua própria hemeroteca. 

Por exemplo: o site abaixo publicou nesta semana esta lista mas, nem mesmo no texto principal da matéria, definiu quais os critérios e fontes da informação, como bons jornalistas devem fazer.




Critérios: como o redator define "empresa aérea"? Aquelas sob regras RBAC 121 ou as regionais sistemáticas (LAS) RBAC 135? Teria colocado todas no mesmo envelope, sejam elas Sete, Abaeté, Apuí, Azul, Gol, Latam etc? E qual foi sua fonte? Não é citada!

Então, fui atrás da fonte mais fidedigna a esse respeito, facilmente acessível: a Agência Nacional de Aviação Civil, a ANAC:


Como o site citado, é de conhecimento de todos, dedica-se principalmente às empresas áreas regulares, chamadas companhias comerciais, deduz-se que nenhuma empresa de táxi aéreo deveria fazer parte de sua lista. Ou então, citar-se todas as dezenas de táxis aéreos existentes no Brasil.

Você não precisa nem ficar passando email para a Anac para confirmar essa informação, já que a lista do link abaixo costuma estar bem atualizada também. Na dúvida, o email.



Como complemento: na lista abaixo do mesmo texto do site citado...




...O nome correto dessa empresa que voou por vários anos e não era uma mero desconhecida pra quem conhece aviação brasileira era CRUISER. E estas são apenas algumas das correções mais importantes, pois há vários outros furos nessas listas.


sábado, 11 de julho de 2020

SPEECH

MAIS DO QUE DIVERSÃO
E MAIS DO QUE PASSATEMPO:
PROJETO LOUCOS POR AVIAÇÃO!

(foto: Maurício Lanza)

(por Solange Galante)
Os Primórdios...

Em um mundo tão eclético, heterogêneo e variado, as pessoas desenvolvem afinidades e gostos por uma ou mais das diversas atividades desenvolvidas pelo ser humano. E eu, particularmente, lamento quando algum jovem não consegue ser atraído por alguma dessas atividades – inevitavelmente partindo para o vandalismo e o vício – ou também quando algum idoso, já aposentado e com filhos criados e netos sendo também bem educados, porém, não desenvolve uma atividade prazerosa – e começa a morrer, aos poucos.

Sendo assim, você pode gostar de esportes, de artes, de educação, de ciências, de colecionismo, ou de tudo isso junto. Gostando de AVIAÇÃO, por exemplo.

Eu fui irremediavelmente "mordida" pela AVIAÇÃO com 13 anos de idade, mas, de uma maneira tão intensa que é como se tivesse nascido com essa paixão. Talvez ela estivesse incubada, de alguma maneira, no meu ser, visto que, quando criança, sempre gostei de desenhar cavalos com asas, leões com asas, tigres com asas... e pássaros também. Bom, mas vamos ao que interessa.

Quando você ainda não tem grana própria, geralmente seus pais lhe dão aviõezinhos de brinquedo, revistinhas para colorir com temas de transportes (incluindo aviões) e levam você para ver aeronaves de perto. Depois, você começa a receber mesada, semanada etc e, tenha ou não já sido "fisgado" pela apaixonante atividade aérea, compra figurinhas, revistinhas, miniaturazinhas de aviõezinhos. Daí você cresce, encontra outros jovens que gostam também do que tem asas (sem ser pombo ou xícara) e vai tendo ideias e recebendo convites para passeios onde tem... aviões, claro!


(foto: Solange Galante)

Chega o dia em que você começa a trabalhar e já tem dinheiro próprio para gastar com aquele verdadeiro vício chamado A-V-I-A-Ç-Ã-O. Trabalhando nela ou não.



Não era só você... e até onde isso vai!

Lembro da minha primeira visita à saudosa convenção do Clube do Manche, o encontro de colecionadores mais famoso do Brasil, e até prestigiado por entusiastas de vários cantos do mundo. Fui apenas visitar, e vi um comércio (compra/venda e trocas, também) de praticamente TUDO relacionado à AVIAÇÃO: safeties cards, copos, talheres, revistas, livros, folhetos, fotos, cromos (slides), canetas... e até aqueles palitos de dentes que as companhias aéreas distribuíam no voo junto com o pacotinho de sal e de pimenta (quando ainda existia serviço de bordo na companhias domésticas, inclusive). Daí, na Convenção seguinte já tive mesa própria e comecei a negociar muita coisa, e a comprar também, começando coleções específicas. Também por meio de revistas estrangeiras e nacionais, vi que não se vendia só "bugiguanguinha" mas também maquetes muito bem feitas (e caras), rádios para ouvir torre de controle (adaptados ou digitais específicos) e toda sorte de "memorabilia".


Com amigos, no saudoso Clube do Manche.
(foto:  coleção Solange Galante)


Embora eu seja jornalista especializada em aviação, costumo dizer que, antes de tudo sou uma entusiasta e "promoter" de tudo relacionado ao voo, sempre divulgando histórias interessantes e comprando, vendendo e trocando objetos para que essa paixão tenha continuidade nas mais diversas famílias e lares. 

No entanto, infelizmente, nem todo mundo enxerga com bons olhos esse gosto. Lembro quando eu escrevia para uma das nossas revistas de aviação, existente até hoje, e eu me tornei fã do Paul Bowen, fotógrafo norte-americano especializado em fotos ar-ar, ou seja, de aviões em voo, acompanhando-os em outra aeronave (chamada de "paquera"). As fotos dele são verdadeiras obras de arte. Na época, eram publicadas também na revista para a qual eu escrevia. Daí eu resolvi enviar uma carta – eu ainda não tinha email – para ele, parabenizando-o pelo trabalho. E fiquei muito feliz quando ele não só me escreveu de volta como me enviou cartões e fotos dele autografadas e um pôster também assinado! Como eu tinha usado como remetente o endereço da revista, recebi a correspondência na redação e não contive a felicidade de tiete. E percebi o olhar de puro desprezo de um dos editores na época, uma pessoa que, embora trabalhasse em uma revista de aviação muito popular, não tinha sido "infectado" pelo aerococus e, creio, jamais tenha sido, pois, até depois que ganhou um prêmio de aviação e viajou em um grupo onde eu me incluía também como vencedora, fez visitas a fábricas como a Boeing e a Bombardier demonstrando uma frieza glacial diante daquelas máquinas maravilhosas (como pode???!!!).


Duas das fotos recebidas do Paul Bowen.
(coleção Solange Galante)




Movimenta grana

Algumas pessoas e empresas percebem que, mesmo no Brasil, onde o mercado não é tão surpreendente como nos Estados Unidos, por exemplo, gostar de aviação movimenta muito dinheiro, direta e indiretamente. Diretamente: fabricação de maquetes e, mais recentemente, personalização das mesmas, impressão e venda de camisetas, fabricação de pins (broches), reaproveitamento de hélices para servirem de base para relógios, bonés com logos de fabricantes, além dos tradicionais canetas, adesivos, pôsteres, canecas, chaveiros. Indiretamente, posso citar a indústria da fotografia (câmeras, cartões de memória, lentes, estojos para o material todo etc) servido aos "spotters" e fotógrafos profissionais de revistas,  câmeras para produção em HD de vídeos para canais no Youtube, aluguel de espaços para eventos para entusiastas, gráficas para produção de livros... Tudo isso sem contar, claro, passagens aéreas e de ônibus, gasolina para o carro, pedágio das estradas, e toda sorte de gasto só com uma meta: chegar mais perto dos aviões e/ou voar e/ou reunir-se com outros entusiastas. E nem incluí ainda fazer uma tatuagem com sua paixão aérea, o consumo local de lanches e bebidas... e os brinquedinhos para as crianças, a nova geração de felizmente, neste caso, infectados!!!


(Foto: World Airline Historical Society)





Quem não enxerga isso...


Mas, como observei, citando o caso de minha correspondência ao Paul Bowen, tem gente que não enxerga isso. E nem precisa ter a mesma afinidade para ter a mesma necessidade de entender o potencial de loucura de um entusiasta.

Em 2011, comecei a acompanhar onde o Programa Espaço Livre-Aeroportos, do Conselho Nacional de Justiça, envolvia a Vasp. Fui aos aeroportos de Congonhas e Guarulhos visitar as tristes sucatas da Vasp, prédios da empresa e outras instalações em grupos de jornalistas e com os juízes que estavam à frente do caso. O então juiz da massa falida da Vasp repetia a todo momento "Não vamos desperdiçar nem uma agulha, se necessário, para arrecadar dinheiro!" E parecia que seria mesmo assim. Os primeiros leilões de suvenires foram um sucesso! Maquetes, roupões de banho, chinelos, pins, quadros, bonés, jarras de inox etc, tudo com a logomarca Vasp, foram leiloados, e participei de três deles. Eu e mais dezenas de pessoas, presencialmente ou online. Os olhos do juiz brilhavam. Foi grana para os credores e alegria imensa para os entusiastas.


Um dos leilões de aeronaves da massa falida da Vasp.
(foto: Solange Galante)


Depois, aconteceram leilões de imóveis, móveis, objetos de arte, coisa pouco apelativa ao colecionador comum da aviação, mas também ocorreram os tristes leilões dos aviões, inteiros ou picotados por tesoura hidráulica.  Nos aeroportos onde pude acompanhar de perto essa atividade, os dois aeroportos citados, vi que dentro dos aviões ainda havia muitos objetos que poderiam ser de interesse dos entusiastas mas os juízes e a segurança da Infraero mantinham marcação cerrada para que nada disso saísse ilegalmente dos locais.


(foto: Solange Galante)


Já conhecida pelo juiz da Vara de Falências, eu sempre falava diretamente a ele como também eram importantes para os leilões "safeties cards", cintos de segurança, bandejas, poltronas, até os próprios bagageiros: "Tem quem compra!!!" Mas, convidada por uma das empresas que picotou os dois Airbus A300 da Vasp em Congonhas, vi que foram destruídos justamente junto com as poltronas, bins, projetores, galleys etc... sem dó nem piedade, e tudo isso vendido como pura sucata.


 

Dentro do PP-SNN em Congonhas. No fundo, trolleys que foram literalmente pro lixo.

(fotos: Anselmo D'Almeida/coleção Solange Galante)


Eu falava com pleno conhecimento de causa. Numa das visitas da imprensa, além dos aviões que seriam vendidos pela Massa Falida, verifiquei que estava sendo desmontado o Boeing 737-300 PP-SOT, também da Vasp. Descobri que quem o desmontava era a empresa proprietária do avião. Este jato não fazia parte da massa falimentar porque não pertencia à empresa aérea, era originário de leasing. E, com a paralisação dos voos da Vasp em 2005 e decretação de sua falência em 2008, a aeronave só foi liberada em 2012 quando, então, a "Lessor" desistiu de recolocá-lo pra voar e começou a vendê-la desmontada, em partes, inclusive para a Gol, que ainda voava Boeing 737-300 oriundos da Webjet e ficou com algumas galleys e banheiros. Foi quando conheci seus representantes e adquiri a maior parte dos objetos da Vasp que possuo em casa: comprei dois bins, três poltronas, oito metros de carpete, três janelinhas e um trolley, todos do finado SOT.



O fim do Boeing 737-300 PP-SOT.
(fotos: Hangar 78)



Esse é o ponto: se eu comprei tudo isso, se a massa falida vendesse ou leiloasse o que estava nos aviões que foram destruídos, não só arrecadaria mais dinheiro para pagamento dos credores mas permitiria a construção de espaços incríveis na casa, no escritório, em escolas, aeroclubes etc, por quem realmente sabe avaliar e valorizar esses objetos!

Em outra ocasião, visitando um grande galpão da Vasp próximo à rua dos Tamoios, também em Congonhas, eu e muitos outros jornalistas vimos, estocados, desde uniformes sem uso de comissários até pneus de MD-11, flapes e profundores de Boeing 727, "caixas-pretas", instrumentos, bandejas, copos, talheres, louças e toda sorte de objetos colecionáveis. Esse galpão foi vendido a uma empresa de saneamento básico do interior de São Paulo, e que, provavelmente, destruiu tudo aquilo.


Profundor de Boeing 727 estocado no galpão da Vasp.
(foto: Solange Galante)


Claro que alguns arrematantes/compradores de parte do espólio da Vasp e de muitas outras empresas aéreas em todo o Brasil foram, felizmente,  privilegiadas minorias. Os dois Boeing 737 da Chácara do Piloto, em Araraquara, a coleção no interior do Paraná, um Boeing 737 em Contagem (MG), entre alguns outros casos. Mas muitos outros aviões e objetos foram descartados, especialmente pelo total desconhecimento sobre aviação, muito maior ainda desconhecimento do público entusiasta, por parte da equipe responsáveis pela destinação dos bens das aéreas durante as vendas diretas e pregões.




Quem não enxerga isso... precisa conhecer melhor esse público (NOS conhecer)!!!


O espaço que montei em casa e que foi conhecido por visitantes e vídeos na TV e no Youtube sempre faz com que me escrevam perguntando como conseguir objetos semelhantes, ou as pessoas mostram também seus cantinhos prediletos decorados com aviação. Apenas um exemplo de tanta história bacana pouco divulgada por aí!

Convido-os, então, a dar visibilidade a sua loucura por aviação! Que tal contar sua história, citar o que já fez, o que comprou, que aventura mais interessante viveu por essa paixão? Mostre sua tatuagem, sua casa, seu escritório, seu objeto mais raro , o que comprou de mais caro, ou como trabalha com aviação e entusiastas? Periodicamente farei perguntas por meio do meu Facebook e, com seu consentimento, irei disponibilizar aqui no Blog suas respostas e fotos para mostrar que gostar de aviação, mesmo sem trabalhar em companhia aérea ou aeroporto, é uma indústria muito grande no Brasil e que deve ser não só compartilhada como respeitada sempre que possível! Não se preocupe em escrever textos longos, deixe comigo a formatação, vale a história, a foto, o registro. 

Vamos lá? 😉

quinta-feira, 9 de julho de 2020

Plantão Caixa Preta

A DISTÂNCIA ENTRE
AS "NOVAS EMPRESAS AÉREAS"
E A REALIDADE

A ANAC confirmou HOJE que "Em processo de certificação 121, temos a empresa Asas e a Regional, esta última ligada ao grupo Amaszonas." Apenas. E, sabemos, a certificação de uma empresa aérea normalmente demooooooooora... (imagine em tempos de pandemia!) 

SPEECH

OS BALÕES,
O MAU E O BOM JORNALISMO


(por Solange Galante)

Platinum Air. Fly Ways. SP Cargo Air. Brasmex. Latin Air. Equatorial Linhas Aéreas. Vica Airlines. Air Minas. Connect Cargo. Essas são algumas companhias aéreas com sede no Brasil que tentaram (ou não) se estabelecer no mercado nos últimos anos e décadas. Tiveram vida curta ou curtíssima, algumas delas nem chegaram a decolar pela primeira vez, ou fizeram um ou dois voos de fato – fora os “de teste”, vazios. Pretendiam transportar passageiros e/ou cargas. Alguns desses nomes nem saíram da gaveta de seus idealizadores, por diversas razões.

Em jornalismo temos um jargão muito conhecido, chamado “balão de ensaio”. Essa expressão caracteriza uma informação propositadamente vazada a fim de se verificar, de antemão, possíveis efeitos de uma determinada medida ou lançamento. É plantar uma informação.

Nas últimas semanas circulou pela internet uma notícia sobre uma empresa aérea, supostamente com sede em Brasília (DF), preparando-se para voar com turbo-hélices ATR. “Mais uma...” pensamos. Posso completar: “Mais uma... enganação!” Ora, direis: No Brasil, sempre houveram empresas “de gaveta”, desde priscas eras, ou que voaram por poucos anos, sendo depois extintas ou absorvidas por empresas mais robustas. Por isso, até mesmo quando surgiu a Gol muita gente torceu o nariz, e ela está aí, viva, mas é exceção. Poucos meses antes da Gol voou a Nacional Transportes Aéreos, a verdadeira low costs low fares pioneira brasileira. Que mal durou dois anos.

Debatendo o caso da outra empresa com um amigo da área de aviação, ele me deu um exemplo do que pode ocorrer. Com um contador você abre uma empresa. Ou várias. Ou 20 com sede em São Paulo e mais 16 com sede no Ceará. Algumas delas, holdings. Nos ramos de transporte, tecnologia, até uma empresa aérea. Vamos analisar essa empresa aérea “X”.

Você gasta uns 600 reais na Junta Comercial para registrar a “X”. Depois, vai até a Anac e pede uma portaria jurídica. É uma reserva de nome, apenas. Paga mais uma pequena taxa. Aí você já tem o documento da Junta Comercial e o documento da Anac. Cria uma reserva de domínio, um site bem baratinho, menos de R$ 40,00 ao ano, um email profissional começando por rh@...  Já é mais do que suficiente para fazer um barulhinho na imprensa! Notícia que corre como a chama no rastro de pólvora: pode ver que a maioria dos sites repercute isso na base do "Ctrl C + Ctrl V", até os erros de português são copiados! Ah, o mais importante: o capital social da empresa é de milhões de reais. Que só no ano seguinte você terá que justificar para a Receita Federal. Enquanto isso, vamos brincar um pouco, pois os olhos de alguns investidores mais animadinhos já estão crescendo...

A sua empresa “X” não tem ainda nem COA (Certificado de Operador Aéreo) da Anac mas você já mandou criar um logo, imprimir adesivos, pesquisa aluguel de uma sala num aeroporto, faz selfie nessa sala com o logo da companhia e, talvez, até o superintendente do aeroporto, e a foto corre o mundo como imóvel já registrado, e empresa prestes a decolar... Ah, sim, claro: pega uma foto qualquer de empresa real do site Jetphotos, usa com maestria o Photoshop (o logo da Star Alliance está ainda lá, "esqueci de apagar mas, ninguém vai notar, afinal, é só uma artezinha") e diz que foi um presente de um internauta, mas bem que pode virar realidade um dia, não é?

Quando a coisa começa a ficar séria mesmo, você desaparece. A desculpa pode ser o vírus, alguma crise econômica mundial, concorrência desleal, espionagem industrial, burocracia , investidor que deu pra trás etc. E quem acreditou fica chupando o dedo.

DA FICÇÃO PARA A REALIDADE
               
Em pouco mais de um ano desde a criação de sua primeira empresa, um dos sócios da nova empresa aérea e das outras 36 da holding  – as 20 em SP e as 16 no CE, supostamente existem – tem capital social de 366 milhões de reais. Nada mal!

Enquanto isso, o mau jornalismo mordeu a isca e sai por aí  indiretamente incentivando pessoas a mandarem currículo para a nova empresa (naquele email rh@ ) pois o poder da frase “disponibiliza canal do Rh” é muito forte!

Como a coisa começou a ficar perigosa, diante da quantidade enorme de profissionais de aviação afetados pela crise e e desesperados por emprego, a página original desapareceu. Porém, o link ainda está lá (vide seta)...




E pior, muito PIOR, quem repercutiu, deu Ctrl C e Ctrl V , inclusive uma escola de aviação, cita o mesmo site como sua fonte mas ainda não apagou!






BOM JORNALISMO

Por outro lado, outro site, com o qual não tenho nenhuma relação, nem a intenção de puxar seu saco porque, inclusive, também já critiquei reportagem dele aqui quando foi necessário, e assim continuarei fazendo quando for o caso, mas também reconheço quando fez o certo, como agora: não só não repercutiu o provável balão de ensaio como publicou esse alerta, que serve para todos os casos de novas empresas que andaram circulando na rede: 




Como minha principal meta é prezar pelo BOM jornalismo, que tal verificar que isso é muito sério e não invenção da minha cabeça? E isso não vale só pra quem tem diploma, faculdade, etc...


Princípios Internacionais da Ética Profissional no Jornalismo

(...)

Princípio III — A Responsabilidade Social do Jornalista 
Informação em jornalismo é compreendida como bem social e não como uma comodidade, o que significa que os jornalistas não estão isentos de responsabilidade em relação à informação transmitida e isso vale não só para aqueles que estão controlando a mídia mas em última instância para o grande público, incluindo vários interesses sociais. A responsabilidade social do jornalista requer que ele ou ela agirão debaixo de todas as circunstâncias em conformidade com uma consciência ética pessoal.

(...)
Emitido pela quarta reunião consultiva de organizações internacionais e regionais de jornalistas profissionais, que teve lugar em Praga e Paris em 1983 e a qual assistiram representantes das seguintes organizações: Organização Internacional de Jornalistas (IOJ), Federação Internacional de Jornalistas (IFJ), União Católica Internacional da Imprensa (UCIP), Federação Latino-Americana de Jornalistas (FELAP), Federação Latino-Americana de Trabalhadores de Imprensa (FELATRAP), Federação de Jornalistas Árabes (FAJ), União de Jornalistas Africanos (UJA), Confederação de Jornalistas da ASEAN (CAJ).



Como eu vivo repetindo, quem escreve BEM é ESCRITOR; Jornalismo se faz com RESPONSABILIDADE!