quinta-feira, 29 de abril de 2021

ENTREVISTA

 

OS CAMINHOS

 

SANDRA ASSALI 
COORDENADORA DO LIVRO "ACIDENTE AÉREO - O QUE TODO FAMILIAR DE VÍTIMA PODE E DEVE SABER"

 

                    Foto: coleção pessoal da entrevistada                                 Foto: Reprodução


                                                                           Por Solange Galante

Recebi pelo correio um livro que considero muito importante. Seu título é "Acidente Aéreo - o que todo familiar de vítima pode e deve saber". 

Bem ao contrário do que você poderia supor, na capa do mesmo não há um avião destruído, corpos dilacerados, bombeiros trabalhando ao redor de destroços fumegantes. Na capa deste livro, um lindo campo de girassóis. A ideia foi do editor Carlos Monteiro, inspirado pelo depoimento de uma das familiares de vítimas que consta no livro. Ele também comenta que o girassol é uma flor emblemática, pois procura o sol, a vida. E, todos sabemos, as flores são usadas para homenagear as pessoas queridas que já partiram. Por isso que a primeira página do livro tem a frase "Nós usamos a flor que busca a luz – da verdade".

O livro foi escrito por 30 autores, todos especialistas em suas áreas, sob coordenação de Sandra Assali. Talvez você não se lembre dela... hoje! Quem se lembra do acidente com o Fokker 100 da TAM em outubro de 1996 em São Paulo talvez até se lembre dela, mas muito menos, com certeza, do que o "prefixo do avião (PT-MRK) ou de que ele era todo azul com uma pintura especial porque a TAM tinha ganhado um-prêmio-não-sei-de-quê..." Ah, sim, lembrar-se-ão que caiu no bairro do Jabaquara após decolar do Aeroporto de Congonhas e o reverso da "turbina" abrir. E é só.

Com absoluta certeza, quem não participou do resgate dos corpos, da investigação, do noticiário e muito menos, graças a Deus, era parente ou amigo próximo das 99 vítimas do "Vôo 402", assistiu ao desenrolar daquele drama, nas semanas e meses que se seguiram a ele, como se hoje assistisse a um seriado da Netflix. Ou seja, a gente "participa" remotamente da trama e, depois do "The End" desliga a TV e vai dormir.

No meio desta pandemia da covid-19, muita gente também não esperava da noite para o dia perder, em alguns casos, a família inteira, gente saudável, uma pessoa ou várias com filhos, às vezes netos, mil planos a realizar, prestes a casar ou recém admitido numa empresa, de uma doença tão pouco conhecida e altamente fatal, um ano após sua descoberta. Meu pensamento sempre compara a morte por doença à morte por acidente, seja automobilístico, aéreo, um desabamento ou mesmo a explosão da tampa de um bueiro a seus pés. Eu acho que a morte de pessoas queridas por "acidente", por ser muito mais inesperada que doenças, por mais graves que estas sejam, assim como a morte por "bala perdida" ou violência por crime de arma branca ou de fogo, são as que mais dilaceram o coração, o psicológico e a vida como um todo, daqueles que sobrevivem e permanecem.

Acredito que essa entrevista com Sandra Assali irá trazer de volta à memória de muita gente uma personagem que esteve em todas as mídias da época e hoje apresenta o mais valioso fruto de sua experiência de dor e de suor em prol dos que ficaram, não só seus próprios parentes e amigos diretos, mas inúmeros colegas de luto.


Caixa Preta: Além de presidente da ABRAPAVAA (Associação Brasileira de Parentes e Amigos de Vítimas de Acidentes Aéreos) você é advogada, mediadora de conflitos, palestrante e escritora. Qual era sua profissão até 31 de outubro de 1996, data em que perdeu seu marido no acidente com o TAM 402?

Sandra Assali: Eu já estava formada em Direito mas não advogava. Eu era Secretária Executiva e já havia trabalhado em grandes empresas, como Jonhson & Jonhson, BNDES, etc.

CP: Lembro como se fosse hoje do acidente... Incrédula desde que eu soube do ocorrido e já prevendo o tamanho da tragédia, pois foi um acidente ocorrido dentro de área densamente povoada da maior cidade da América do Sul, eu, formada em jornalismo há então menos de três anos e me dedicando em tempo integral à aviação há menos de dois, acompanhei tudo que pude pela TV e jornais, na época eu nem tinha acesso à internet... Mas eu percebi, mesmo fora de "redes sociais" como as que existem hoje, comentários preconceituosos e maledicentes sobre você e outras parentes de vítimas do TAM 402. Digo "outrAs parentes" porque, aparentemente – me corrija se eu estiver errada –, a maioria das vítimas do acidente eram homens, executivos que estavam viajando a trabalho, como era o caso do seu marido. Por isso, tais pessoas maldosas, aqui ou ali, comentavam "Vai cair o padrão de vida dessas viúvas, já que os maridos eram  executivos bem sucedidos, agora elas vão ter que trabalhar pra viver." Eu ouvi frases assim, e acredito que você também tenha ouvido ou lido.  Enfim, você sentiu esse preconceito logo após o acidente? E como lidou com isso?

Sandra Assali: De forma alguma... verdade que ouvimos muitas coisas, das mais absurdas, às mais acolhedoras... estávamos muito próximas e unidas à época e, muito expostas na imprensa/mídia, fosse na TV, nos jornais, rádios, etc. Sim.... ficamos em mais de 80 viúvas, mais de 100 órfãos menores... ninguém tinha ideia ou condições de avaliar o que estávamos passando diante da total ausência de apoio e assistência por parte da TAM e, principalmente, pelo fato de, a maioria, ter perdido seu provedor... achavam que, uma vez a grande maioria  das vítimas sendo executivos, estávamos todas em situação financeira confortável... estavam enganados mas também combinamos "não vamos responder a ninguém... deixem que falem..." e assim agimos. Tanto que, diante do nosso silêncio pelas provocações, os comentários cessaram. Não tínhamos de dar satisfações a ninguém... vivíamos um momento tão complexo e doloroso... nossas prioridades eram tantas... jamais perder tempo com provocações sem sentido.

CP: Até onde eu sei a ABRAPAVAA foi a primeira associação do gênero a ser fundada no Brasil. De onde surgiu a ideia? Você foi aconselhada a criá-la ou as próprias dificuldades causadas pela tragédia na sua vida a fizeram idealizar algo do tipo?

Sandra Assali: Sim... a ABRAPAVAA foi a primeira do gênero no Brasil. A ideia surgiu depois que as famílias passaram a se conhecer, criarmos um grupo, organizarmos algumas reuniões e identificarmos que todas estavam encontrando as mesmas dificuldades, ou seja, falta de informações, falta de assistência, não sabíamos por onde começarmos, quais os nossos direitos, etc. Então, numa dessas reuniões, chegamos à conclusão que, para termos respeito e exigirmos informações deveríamos fundar uma Associação e assim, reconhecidas "de direito" poderíamos "cobrar" por informações, respostas, atenção e respeito.

CP: Poucos meses após o acidente que vitimou seu marido, teve grande destaque na imprensa a morte do menino Ives Ota, de apenas oito anos de idade, após um sequestro em São Paulo, você deve se lembrar disso também. O pai da criança, Masataka Ota, mais do que usar a camiseta com a foto do filho, que se tornou icônica, para buscar justiça, batalhou até o fim da vida por tornar sua tragédia pessoal o ponto de partida para mudanças em leis, tornou-se vereador e criou um instituto de combate à violência e auxílio social que existe até hoje. Você consegue fazer uma comparação entre as duas tragédias pessoais que mudaram a sua vida e a vida de Masataka Ota? 

Sandra Assali: Eu acredito que as "adversidades" nos movem... principalmente em se falando na perda de um ente querido, como um filho, um marido, uma mãe, ou seja, toda situação onde seu familiar "é arrancado" de seu convívio em situações bruscas, inesperadas e dolorosas, elas nos movem... Apesar do choque, do luto necessário, da dor e da saudade, são exatamente esses os motivos que nos levam à busca por respostas, por responsabilidades e, principalmente, por um olhar onde se torna necessária a iniciativa por regulamentação, prevenção, mudança de atitudes e inciativas que previnam situações semelhantes, ou seja, "para que não mais aconteçam".

CP: Como surgiu a ideia do livro em si, lançado 25 anos após o acidente e quase isso desde a criação da Associação? Como amadureceu a ideia que, certamente, foi uma longa gestação? 

Sandra Assali: Meu primeiro livro foi lançado em 2016 – no dia 31 de outubro, data dos 20 anos do TAM 402: "O Dia que Mudou Minha Vida". E o lançamento de março último - "Acidente Aéreo - O que todo familiar de vítima pode e deve saber.": a ideia nasceu nasceu da experiência de 24 anos da ABRAPAVAA. Nossa rotina com os familiares de vítimas identificou uma dificuldade comum, e natural, para entenderem a linguagem própria e característica aeronáutica. O familiar quer respostas e informações mas, é um "mundo à parte"...  é complexo... de difícil compreensão. Foi nesse momento que surgiu a ideia de uma obra, convidando especialistas em suas áreas, que fossem autores numa linguagem "leiga" e de fácil entendimento a todo familiar de vítima.

CP: Você acha que as empresas, grandes e pequenas, ainda são despreparadas para lidar com um acidente aéreo? 

Sandra Assali: Em se falando da aviação comercial, temos hoje boas experiências e uma preocupação com treinamentos constantes seguindo principalmente, as orientações da IAC-200-1001 da ANAC. Já, quanto à aviação geral, nossa maior preocupação, diante do, ainda alto, número de acidentes aéreos e a razão do maior volume de trabalho da ABRAPAVAA, sim, é necessário ainda um olhar e uma preocupação para um maior preparo, envolvimento e treinamento aos proprietários e gestores de empresas como táxi-aéreo, executiva, rotativas, experimental, em se falando em gerenciamento de crise e assistência aos familiares de vítimas.

CP: Você também teve a percepção que eu tive, na época, e em outros acidentes, que os tripulantes das aeronaves envolvidas, especialmente os pilotos, são "esquecidos" quando ocorre um acidente? Ou seja, dá-se maior destaque às vítimas "passageiros" e aqueles tripulantes só são lembrados pela imprensa, principalmente, mas também pela polícia para serem acusados por seus prováveis erros e falhas?

Sandra Assali: Acredito que já sinalizamos mudanças, ainda longe do ideal. Sempre reforço que e, principalmente aos "achistas de plantão" que, mal o acidente acontece, já estão emitindo opiniões sobre o que pode ter acontecido, não podemos nos esquecer que, diante da TV ou de uma rede social, tem um familiar daquela vítima que está vendo/lendo aquelas informações e tudo que é precoce numa análise de um acidente aéreo, pode afetar grandemente um familiar. Já presenciei situações onde se atribuiu prematuramente a culpa ao piloto e o familiar estava presenciando aquela fala, o que lhe afetou de forma dolorosa e, posteriormente, a informação não procedeu... ninguém pediu desculpas e os prejuízos emocionais à aquela família foram terríveis!

CP: Eu coleciono reportagens sobre aviação desde 1995, gravando (antes em VHS, hoje em DVD e HD). Desde então, percebi que a imprensa, especialmente a de TV, tem tido mais cuidado hoje ao divulgar imagens das vítimas de acidentes aéreos, pelo menos borrando as cenas quando fortes. Inclusive, acho que a última grande tragédia em que houve exibição de imagens muito fortes a respeito foi justamente a do voo 402. Você acha que o 402 foi um divisor de águas a esse respeito? (Tenho um curso de aviação para jornalistas e estou preparando um sobre sensacionalismo da imprensa em relação à  aviação)

Sandra Assali: Sim... concordo. Hoje existe um cuidado maior e muito necessário na exposição de um acidente aéreo perante à imprensa/mídia. Por outro lado, temos um agravante: as redes sociais. Na minha rotina, é muito comum receber vídeos de cenas chocantes de acidentes aéreos, por pessoas que, assim que chegam  ao local do acidente, logo que acontece, começam a filmar pelo celular e imediatamente compartilham nas redes sociais. E isso por todo o Brasil.

CP: Na sua opinião, qual o "desserviço" da imprensa quando não trata com o devido cuidado, respeito e, principalmente, correção a pauta "acidente aéreo"?

Sandra Assali: Foi como mencionei acima... um trauma ao familiar de vítima. Falta de sensibilidade e respeito. Difíceis de superar!

CP: Ainda há familiares do Voo 406 lutando judicialmente com a TAM, mesmo hoje, quando ela já se tornou Latam? 

Sandra Assali: Não tenho conhecimento de mais nenhum caso pendente no 402 e quanto ao 3054 (2007) tem alguns casos de familiares que buscam reparação contra a Airbus nos EUA mas, quanto aos acordos no Brasil, foram todos finalizados.

CP: Qual seu recado final para quem se interessar pelo livro que coordenou?

Sandra Assali: O livro traz ao familiar de vítima, aos gestores, aos escritórios de advocacia, aos psicólogos, aos socorristas, aos legistas etc, informações importantes e de fácil compreensão, desde o momento que o acidente acontece, até a reparação/indenização, numa linguagem simples e clara. É um livro que, seguramente, poderá e levará orientação e informações importantes em situações de tragédia e perdas em massa, para além dos acidentes aéreos.

sábado, 24 de abril de 2021

*****Presente!*****

 

"O Mundo Maravilhoso da Aviação"

 pela VASP


Fascículo 4


(por Solange Galante)

Em 1978, a Viação Aérea São Paulo – nossa saudosa VASP – publicou encartados nas revistas Veja (semanal) e Exame (quinzenal) oito fascículos chamados "O Mundo Maravilhoso da Aviação". Eu, particularmente, tenho uma relação toda especial com essa publicação.





Dando continuidade a essa publicação gratuita neste Blog, espero que meu presente aos meus leitores possa ser útil e que agrade a todos. E, acima de tudo, que incentive mais e mais pessoas a se apaixonarem pelos aviões do passado e do presente!


















sexta-feira, 23 de abril de 2021

SPEECH

VAMOS AJUDAR A FRAN?




Por Solange Galante (texto e todas as  fotos)

Recebi o email abaixo e gostaria de contar com a ajuda pessoas interessadas para atualizar-me sobre o paradeiro dos aviões da VASP leiloados e também ajudar a Fran a conseguir locar uma bela cabine para sua produção.

Além das localidades citadas sabemos que há aviões da Vasp em outros lugares, nem todos completos, especialmente na cabine de comando. Alguns dos que foram desmontados, picotados etc, eu também sei. Mas, alguns que estavam completos há alguns anos, podem não estar mais. Vamos fazer uma relação do destino deles?



Boa tarde, Solange! Tudo bem?

Cheguei até o seu contato pelo blog Caixa Preta. Me chamo Fran Camilo e sou produtora de cinema. Estou produzindo uma série de ficção para TV que se passa praticamente toda dentro de um avião, mais precisamente o Boing 737-200.

Já fizemos várias pesquisas para tentar encontrar esses aviões aqui no Brasil. Até então tivemos o conhecimento de um em Araraquara-SP, um em Itapejara D'Oeste-PR, um em Cascavel-PR e um em Ipameri-GO, mas ainda acredito que possam existir outros.

Vi em seu blog que em 2014 aconteceu um leilão da Vasp de algumas aeronaves: https://caixapretadasolange.blogspot.com/2014/01/plantao-caixa-preta_30.html?m=0

Você teria mais informações sobre o paradeiro desses aviões? Se eles ainda existem e estão em boa conservação?

Desde já, muito obrigada e parabéns por todo o trabalho que você desenvolve em seu blog. Tem muita informação importante ali, um trabalho extremamente cuidadoso e necessário.

Abraços

Fran Camilo

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PÚBLICO QUALIFICADO

E PRESTAÇÃO DE SERVIÇO


Ao longo de 25 anos ininterruptos de jornalismo de aviação, minha credibilidade não só me levou a ganhar vários prêmios e elogios. Mas, sem que eu fosse buscar isso, atraí público qualificado que se manteve anônimo até me contatar diretamente. Entre essas pessoas posso citar deputados (sendo que um texto de minha autoria na revista Flap Internacional fez parte dos estudos da Comissão de aviação na Câmara Federal, em Brasília), produtores de séries do Discovery Channel, estudantes de várias áreas que usaram meu material (com autorização) ou colheram meu depoimento para seus trabalhos de conclusão de curso. Sem mentir nem exagerar, são poucos os jornalistas de aviação brasileiros com detalhes semelhantes na biografia.

Na era digital busca-se muitos "likes", "curtidas" e "compartilhamentos". Mas, o que este Blog sempre desejou mesmo é ter leitores qualificados e fazer a diferença, seja denunciando, servindo de fonte fidedigna para pesquisas, ou mesmo ensinando. Matérias e informações exclusivas ajudam a mostrar que sou procurada também por fontes que confiam no trabalho aqui desenvolvido, onde os bastidores da  aviação e assuntos menos explorados têm espaço constantemente. A Aviação precisa ser levada a sério, sem piadinhas e sem sensacionalismo. As atitudes de hoje podem até mesmo fechar importantes portas amanhã.

Em relação aos leilões de aeronaves da Vasp e Transbrasil (principalmente), sou, com certeza, a jornalista que, entre 2011 e 2016, mais acompanhou os desdobramentos do Programa Espaço-Livre Aeroportos do Conselho Nacional de Justiça. Tenho material o suficiente para escrever vários livros a respeito disso. Material que vale a pena ser usado por pesquisadores e historiadores, no futuro. Não se engane: informação de verdade, não só não se encontra em qualquer lugar como também faz a diferença na política, na economia, no entretenimento e na educação. Onde a qualidade vale mais que a quantidade.

quarta-feira, 21 de abril de 2021

Plantão Caixa Preta

 



    (QUARTA PARTE)

(por Solange Galante)

Documentos provaram que o GRU Airport estava tentando leiloar uma aeronave que não lhe pertencia. Minha convicção vai além dos documentos apresentados, porque eu já tinha conhecimento da maioria deles. E o problema não é recente. Eu acompanho esse caso e outro semelhante desde 2013.

Pergunto aos meus leitores: sabem porque duas outras aeronaves DC-8 ainda se encontram em outro aeroporto, o Eduardo Gomes, até hoje? Vamos, portanto, viajar um pouco no espaço e no tempo.

Deixando o Aeroporto de Guarulhos, convido meus leitores a viajar até o Aeroporto Internacional de Manaus, onde está um dos maiores cemitérios de aviões comerciais brasileiros atuais. Lá estão os "irmãos" do PP-BEL, os igualmente DC-8-73 PP-BEM e PP-BET. Todos ex-BETA Express Cargo.

Os problemas da BETA começaram com o escândalo dos Correios e o famoso "Mensalão" do PT.  O imbróglio jurídico levou a 7a. Vara Federal do DF/1a Região a decretar a indisponibilidade, entre outros bens, das aeronaves da BETA.  Isso aconteceu em 2007.

Agora estamos em novembro de 2016. A Infraero, administradora do principal aeroporto manauara, anunciou o edital do leilão das duas aeronaves citadas (BEM e BET) para o dia 11 de novembro daquele ano. Da mesma maneira que o PP-BEL em GRU, esse leilão era ilegal, pois as aeronaves lá no Eduardo Gomes estavam indisponíveis. O mesmo proprietário do PP-BEL deu lances únicos e arrematou ambos quadrijatos. Mas o leiloeiro Jimmy, do Leilões Amazonas, foi avisado que as aeronaves não poderiam ser entregues a ele antes do processo avançar mais rumo a uma solução. O depósito foi feito judicialmente mas o leiloeiro avisou a Infraero que o arremate não seria homologado.

O proprietário do DC-8-73 PP-BEL é, portanto, o mesmo dos outros DC-8. Paulo Renato Pires Fernandez arrematou ambos e não pôde levá-las e sabia que teria que esperar, como ainda espera. Questões jurídicas precisavam ainda ser resolvidas.

É por isso que se fez necessário e urgente que o PP-BEL também fosse retirado do leilão indevido. Primeiro, porque quem o estava vendendo não era seu proprietário. E, muito importante, porque quem o arremataria não o poderia levar, devido a citada indisponibilidade dos três aviões, dois em Manaus, um em Guarulhos.

Ninguém gosta de pagar e não levar, não é mesmo? E muito menos comprar algo que não é do vendedor que ofereceu. 

Simples assim.

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O PP-BEL quando ainda era D-ADUO na German Cargo, nos anos 1980 
(foto: Ulrich F. Hoppe)

O anúncio do leilão do PP-BEL semana passada correu o mundo e, por meio de um site alemão, descobri que ele já voou em uma  subsidiária da Lufthansa Cargo, a German Cargo, o que aumentou o interesse dos spotters alemães sobre seu caso, conforme alguns comentários. A matéria está neste link: 

https://www.aerotelegraph.com/ehemalige-dc-8-von-lufthansa-cargo-steht-zum-verkauf

Tanto o site alemão "Aerotelegraph" quanto alguns sites brasileiros só "teoricamente" especializados em aviação carecem de informações corretas. O avião não está e nunca esteve abandonado, apenas é objeto de uma demora jurídica para resolver seu caso. E tem dono sim.

Trazer informações claras, apresentando documentos, depoimentos e comprovação, narrando uma história com profundidade, é o que diferencia o jornalismo verdadeiro do Ctrl C + Ctrl V + tradução via Google – que pode ser sim o início de uma boa reportagem, mas JAMAIS a fonte principal da mesma. Quem aqui vos explica isso é uma jornalista com curso de jornalismo investigativo, inclusive. Por exemplo, eu testemunhei o caso do leilão da Infraero em 2016 e contatei o TRF 1a. Região na véspera do pregão de Manaus. O email abaixo é um deles:







O leitor sempre irá querer "qualidade", mesmo que "quantidade" lhe seja ofertada como em uma inundação de informações, gerando alguns "likes" por automatismo e aqueles comentários sem qualquer embasamento técnico que irão, muitas vezes, gerar fake news.

Pelo contrário, o leilão frustrado do PP-BEL foi um bom exemplo de como uma denúncia jornalística, inclusive dando espaço para todas as partes se manifestarem – oportunidade da qual o site de leilões e a concessionária do aeroporto paulista abriram mão – , pode gerar um resultado que, neste caso, preveniu um possível arrematante de pagar por algo que não poderia levar.


                            CONTINUAREI ACOMPANHANDO ESTE INTRIGANTE CASO!

terça-feira, 20 de abril de 2021

Plantão Caixa Preta



(TERCEIRA PARTE)

(por Solange Galante)

Após, inicialmente, na terça-feira dia 20, prorrogar para 29 de abril o leilão de vários equipamentos, incluindo o avião Douglas DC-8-73 PP-BEL (ex-Beta Express), o Superbid publicou em seu site https://www.superbid.net/oferta/sucata-de-aviao-a-jato-douglas-dc-8-73f-ref-dak-1954733 a RETIRADA do lote 51.

Logo após a denúncia feita com EXCLUSIVIDADE por este Blog há uma semana (vide https://caixapretadasolange.blogspot.com/2021/04/plantao-caixa-preta.html) tentei entrevistar algum representante da Superbid e também do GRU Airport para, como é prática do Bom Jornalismo, ter a opinião de todos os lados (já tínhamos a opinião do proprietário da aeronave, conforme documentos apresentados, encaminhados para o site de leilões e para a concessionária do Aeroporto de Guarulhos). Todas as tentativas, até agora, resultaram infrutíferas, seja por telefone ou por email. Mas a retirada da aeronave do leilão – sem ter recebido nenhum lance, por sinal – pode ter sido pela aceitação da denúncia.


CONTINUAREI, AINDA ASSIM, ACOMPANHANDO ESTE INTRIGANTE CASO! CONTINUEM ACOMPANHANDO TAMBÉM!

sexta-feira, 16 de abril de 2021

Plantão Caixa Preta

 

(Foto: Coleção Solange Galante) 

(SEGUNDA PARTE)

(por Solange Galante)


O piloto comercial e empresário Paulo Renato P. Fernandez, além de apresentar documentos que o comprovariam como proprietário do DC-8 que está há muitos anos no "cemitério" do Aeroporto de Guarulhos, alega que também tentou, em vão, salvar comentários em redes sociais e  internet, desmentindo que o quadri-reator esteja "abandonado" no Aeroporto Internacional de São Paulo/André Franco Montoro. O "print" abaixo foi de uma das várias tentativas frustradas.



Além disso, ele apresentou uma carta de Jacky Simon Fresse, da IAL Cargo, da Eslovênia, interessado em operar o DC-8 PP-BEL. A equipe da empresa eslovena não teria sido autorizada a vistoriar a aeronave para alugá-la, devido ao impasse judicial, onde o GRU Airport é apenas fiel depositário do bem arrematado em 2013. Aqui, ela está sendo exibida com exclusividade!





                                CONTINUAREI ACOMPANHANDO ESTE CASO.

terça-feira, 13 de abril de 2021

Plantão Caixa Preta

 

(PRIMEIRA PARTE)


Segundo o proprietário, o PP-BEL está sob judice, sofreu furtos não reconhecidos pela GRU Airport e há anos ele não consegue transferir o avião para seu nome para poder removê-lo.

(por Solange Galante)


O piloto comercial e empresário Paulo Renato Pires Fernandez, proprietário do gigantesco DC-8 que, ao contrário de vários textos publicados na internet, não está e nunca esteve "abandonado" no Aeroporto Internacional de São Paulo/André Franco Montoro, alega que uma "guerra" jurídica entre a 6a. Vara do Trabalho de Guarulhos e a 7a. Vara Federal do Distrito Federal/TRF da 1a. Região é o principal motivo para que não tenha retirado antes o PP-BEL do aeroporto paulista.


Carta de arrematação de 2014 comprova o arremate do PP-BEL por Paulo Renato


Ofício da ANAC em 2015 solicitando solução (cancelamento de indisponibilidade do bem) em favor de Paulo Renato para que se procedesse, enfim, a rematrícula da aeronave.


Só que passaram-se os anos e ele ainda não conseguiu levar sua aeronave para casa, ou, mais exatamente, para alguma oficina onde ela poderia ser recolocada em condições de voo.

Paulo Renato afirma estar incansavelmente tentando resolver a questão mas não tem tido apoio da GRU Airport. Pelo contrário, segundo ele, a administradora do aeroporto concedido apenas tem dificultado o caso e feito ameaças. Por isso, ele até esperava que chegassem a esse ponto, mas estava tranquilo por ter todos os documentos judiciais a seu favor. "Eu não me surpreendo, mas eles não podem fazer isso. Nem  o leiloeiro sabe que ele pode estar se complicando." Paulo apresenta cópia de um de seus inúmeros emails denunciando o impasse e cobrando solução, conforme abaixo: 

De: Paulo Fernandez 
Enviado: segunda-feira, 2 de setembro de 2019 14:33
Para: jane 7 vara
Cc: 
Assunto: ENC: Dr. Lafaiete / 7ª Vara Federal /"Caso aeronave PP-BEL em Guarulhos" / Medida Cautelar Inominada nº 2007.34.00.028107-6


Prezada Drª Jane Campos / Dr. Lafaiete Junior

7ª Vara DF/TRF1

Diretora: Jane Campos da Silva Santos
Email: 
Telefones: (61) 

Lafaiete Fernandes de Oliveira Júnior

Diretor de Secretaria da 7ª Vara/SJDF em substituição



Bom dia, 

Estive no inicio do ano de 2018 na 7ª Vara DF/TRF1 , e novamente Oficio solicitando solução para a aeronave Douglas DC8 73F prefixo PP-BEL, adquirida por mim em leilão Judicial, conforme pode ser observado em anexos neste e-mail.

Medida Cautelar Inominada nº 2007.34.00.028107-6

Posteriormente retornei e a orientação é para que eu aguarde a tramitação do referido Processo.

O Aeroporto de Guarulhos/SP, onde a aeronave encontra-se, constantemente substitui seus advogados, e todos os novos não procuram atualizar-se desse caso especifico, e novamente me deparo com advertência quanto o que poderá ocasionar-me, em caso de não retirada imediata, conforme informado agora pela Advogada Drª Maria Miranda (Jurídico GruAirport). 

Novamente estarei retornando a Brasilia para, acompanhado de um advogado, solicitar audiência afim de acompanhamento quanto atual posicionamento da 7ª Vara DF/TRF1.

Informo que até o presente não recebi o "Bem Arrematado", e que continuo tendo total interesse no mesmo, o qual espero recebê-lo como o adquirido, em concordância com a VTE (Vistoria Técnica Especial), solicitada a época pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça), na execução do Programa Espaço Livre Aeroportos, acompanhado de uma equipe da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil)  

No ano passado contratei uma equipe Francesa (IAL Cargo) para elaborar um projeto para remoção da referida aeronave, mas não tivemos sucesso infelizmente nessa tratativa com o Diretor de Operação do Aeroporto Miguel  Daul, o qual não nos permitiu visitação e acesso, devido a falta de clareza Jurídica desse caso.

Novamente a referida empresa está com disponibilidade do solicitado, conforme documento em anexo.

Por ser conhecedor de todas as normas e regulamentos que regem a legislação da Anac quanto ao assunto de remoção ou retirada de uma aeronave, em caso de corte dando destinação final as partes da mesma, evitando o chamado mercado negro (Bogus Parts), junto com a Inspeção que seria realizada pela empresa IAL Cargo, junto com a empresa Brasileira Sky Aviation Parts, peticionarei solicitação de visitação ao bem adquirido.

O Advogado Caio Fernandez que acompanha esse caso estará ausente nos próximos dias, e irei conversar com ele para novo posicionamento e/ou acompanhamento por um segundo Advogado, o qual se habilitará no Processo urgentemente.

Existem outros assuntos a serem tratados com a administração do Gru Airport, acreditando simples de serem resolvidos, mas somente após a conclusão desse primeiro andamento, no qual a Anac também aguarda conclusão desse caso.

Segue em anexo a DR-0615-2019 da Drª Maria Miranda em anexo o teor de seu e-mail, somado com outros já Peticionado.

Prezado Paulo Renato,

Vimos por meio da correspondência anexa, notifica-lo para retirada da sucata da aeronave (prefixo PP-DEL (sic), Modelo DC-8-73-F), sob pena de aplicação das penas previstas no Código Brasileiro Aeronáutico.

Att.,
Maria Carvalho Miranda
Jurídico
Legal Department
T 55 11  
C 55 11  
www.gru.com.br

Respeitosamente,

Paulo Renato P. Fernandez


mesmo em plena conhecida e grave pandemia ele ainda vai de lá pra cá tentando resolver essa questão, envolvendo também aeronaves de outros aeroportos, sendo que uma reunião com a Anac "quase" foi realizada em janeiro deste ano.


De: Paulo Fernandez 
Enviada em: quinta-feira, 28 de janeiro de 2021 11:29
Para: Andre Marques Caldas 
Cc: 
Assunto: RE: Reunião - PP-BEL (DC8) / PR-MGA (737) / N244DM, PP-EMS e PR-PFX (GULFSTREAM).

 

Prezado Sr. André Marques

RAB - Coordenador de Produtos

Brasilia/DF

 

Bom dia Sr.,

 

Lamentamos pela reunião cancelada no dia de ontem, pelo não comparecimento dos técnicos da SPO.

 

Tínhamos uma reunião pré agendada para o final de dezembro a qual também acabou sendo transferida para a de ontem.

 

Aeronaves: PP-BEL (DC8) / PR-MGA (737) / N244DM, PP-EMS e PR-PFX (GULFSTREAM), e em Standby o PR-GMA (B 727) em fase de expedição da minha carta de Arrematação na Justiça.

 

Respeitosamente,

 

Paulo Renato P. Fernandez


OBS: Segundo o coordenador da ANAC, a reunião não se concretizou "por um equívoco nosso, no agendamento da secretaria do RAB". 



Mais uma vez a lentidão da Justiça Brasileira impediu que uma aeronave fosse recolocada em condições de voo, mesmo porque partes importantes da mesma simplesmente desapareceram enquanto ela estava estocada no aeroporto. E, agora, mais deteriorada ainda do que em 2013, o proprietário de fato também não conseguiu removê-la, embora o deseje.


CONTINUAREI ACOMPANHANDO ESTE CASO.


terça-feira, 6 de abril de 2021

Diretamente dos nossos "Archivos"

 VOCÊ SABIA QUE ESTAMOS NA

"SEMANA DE CONGONHAS"?


Como foi que eu descobri que o Aeroporto
teve duas inaugurações?


Mega famosa foto do Aeroporto de Congonhas quando ele era apenas uma pista tosca de terra da S/A Auto-Estradas e nem a Vasp sonhava ainda em operar lá. A autoria da foto é desconhecida.

(por Solange Galante)

O bom jornalismo, profissional, correto e ético, sempre requereu, e ainda requer, muita pesquisa. Assim como cientistas estão sempre fazendo descobertas e publicando-as para todo mundo saber dos novos conhecimentos, bons jornalistas, especializados ou não, e investigativos ou não – que não são os "jornalistas" do Ctrl C + Ctrl V com  tradução automática do Google, inclusive – estão sempre indo à fundo nas histórias por trás das histórias.

Enquanto eu ainda escrevia para apenas duas revistas, sendo a Aero Magazine e a Aviação em Revista, além de algumas publicações corporativas, resolvi pesquisar como havia sido a inauguração do Aeroporto de Congonhas.

Por incrível que pareça, eu conhecia o primeiro piloto a pousar em Congonhas... Não, eu não estava lá! (risos) mas eu tinha em mãos um extinto jornal de bairro (Ibirapuera News), cujo exemplar em questão eu ainda tenho, que falava como o aeroporto começou, e lá citava que um aluno de pilotagem havia sido o primeiro piloto a oficialmente pousar na pista experimental. Tratava-se do Sr. Renato Arens, falecido em 1985. Comentando o texto do jornal com meu pais, com os quais eu morava, então, no bairro do Paraíso, em São Paulo, meu pai, que era zelador do edifício Comodoro disse: "Mas aqui mora um Renato Arens. Será ele?"

Sim, o idoso era o próprio! Mostrei até o jornal para ele, onde consta sua foto, do lado do instrutor, outro Renato aliás, de nome Renato Pacheco Pedroso. Pena que esse senhor que conheci faleceu pouco tempo depois e não pude conversar mais com ele depois disso. Mas eu já me sentia orgulhosa de ter conhecido o primeiro piloto a aterrissar num aeroporto que ainda nem era aeroporto de fato!

Pacheco Pedroso e Renato Arens, pioneiros, ao pousar na pista ainda
experimental de Congonhas

Bem, quando resolvi ir mais a fundo na história de Congonhas, inclusive além das informações do referido jornal, fui à Biblioteca Mário de Andrade, a maior biblioteca pública da cidade de São Paulo, atrás da famosa página de convite da inauguração do aeroporto, oficialmente em 12 de abril de 1936. Esta página: 




A inauguração foi num domingo. Portanto, eu teria que retornar a algumas edições anteriores para achar, além da mesma, possíveis notas sobre o assunto redigidas pelos jornalistas de então.

Conta que o convite havia sido publicado em pelo menos dois jornais, O Estado de S. Paulo e a Folha da Manhã (precursora da Folha de S. Paulo). Optei pelo primeiro, cujos exemplares reais (não digitalizados) podiam ser consultados na biblioteca.

Já de luvinhas finas nas mãos para não ferir um jornal de muitas décadas antes, fui pesquisando... Até que me deparei com isto!!!



Era dia 7 de abril de 1936, uma terça-feira. Pensei: "Ué, se Congonhas foi inaugurado em 12 de abril, porque falam da inauguração dias antes?"

Naquela época, e por muitas décadas depois – cheguei a ser contemporânea disso, nos idos de 1980 – alguns jornais, como o próprio O Estado de S. Paulo não circulavam às segundas-feiras. Por isso que na terça é que comentavam sobre o evento ocorrido no domingo anterior.

Tendo, em seguida, retrocedido mais e vendo a edição do domingo, 5 de abril de 1936, lá estava a resposta à xarada: A pista experimental da S/A Auto Estradas havia ocorrido naquela tarde! 



Até então, eu nunca tinha lido em nenhum lugar, livro ou revista, dessa primeira inauguração do aeroporto. E para fazer um lobby mais direto ao governo paulista e tentar ser o novo aeroporto oficial da capital paulista, repetiu-se o evento uma semana depois, dia 12 de abril, data depois escolhida para ser a data oficial de Congonhas!

Daí se conclui que estamos na Semana de aniversário de Congonhas!!! Parabéns, querido aeroporto!!!


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