quarta-feira, 21 de abril de 2021

Plantão Caixa Preta

 



    (QUARTA PARTE)

(por Solange Galante)

Documentos provaram que o GRU Airport estava tentando leiloar uma aeronave que não lhe pertencia. Minha convicção vai além dos documentos apresentados, porque eu já tinha conhecimento da maioria deles. E o problema não é recente. Eu acompanho esse caso e outro semelhante desde 2013.

Pergunto aos meus leitores: sabem porque duas outras aeronaves DC-8 ainda se encontram em outro aeroporto, o Eduardo Gomes, até hoje? Vamos, portanto, viajar um pouco no espaço e no tempo.

Deixando o Aeroporto de Guarulhos, convido meus leitores a viajar até o Aeroporto Internacional de Manaus, onde está um dos maiores cemitérios de aviões comerciais brasileiros atuais. Lá estão os "irmãos" do PP-BEL, os igualmente DC-8-73 PP-BEM e PP-BET. Todos ex-BETA Express Cargo.

Os problemas da BETA começaram com o escândalo dos Correios e o famoso "Mensalão" do PT.  O imbróglio jurídico levou a 7a. Vara Federal do DF/1a Região a decretar a indisponibilidade, entre outros bens, das aeronaves da BETA.  Isso aconteceu em 2007.

Agora estamos em novembro de 2016. A Infraero, administradora do principal aeroporto manauara, anunciou o edital do leilão das duas aeronaves citadas (BEM e BET) para o dia 11 de novembro daquele ano. Da mesma maneira que o PP-BEL em GRU, esse leilão era ilegal, pois as aeronaves lá no Eduardo Gomes estavam indisponíveis. O mesmo proprietário do PP-BEL deu lances únicos e arrematou ambos quadrijatos. Mas o leiloeiro Jimmy, do Leilões Amazonas, foi avisado que as aeronaves não poderiam ser entregues a ele antes do processo avançar mais rumo a uma solução. O depósito foi feito judicialmente mas o leiloeiro avisou a Infraero que o arremate não seria homologado.

O proprietário do DC-8-73 PP-BEL é, portanto, o mesmo dos outros DC-8. Paulo Renato Pires Fernandez arrematou ambos e não pôde levá-las e sabia que teria que esperar, como ainda espera. Questões jurídicas precisavam ainda ser resolvidas.

É por isso que se fez necessário e urgente que o PP-BEL também fosse retirado do leilão indevido. Primeiro, porque quem o estava vendendo não era seu proprietário. E, muito importante, porque quem o arremataria não o poderia levar, devido a citada indisponibilidade dos três aviões, dois em Manaus, um em Guarulhos.

Ninguém gosta de pagar e não levar, não é mesmo? E muito menos comprar algo que não é do vendedor que ofereceu. 

Simples assim.

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O PP-BEL quando ainda era D-ADUO na German Cargo, nos anos 1980 
(foto: Ulrich F. Hoppe)

O anúncio do leilão do PP-BEL semana passada correu o mundo e, por meio de um site alemão, descobri que ele já voou em uma  subsidiária da Lufthansa Cargo, a German Cargo, o que aumentou o interesse dos spotters alemães sobre seu caso, conforme alguns comentários. A matéria está neste link: 

https://www.aerotelegraph.com/ehemalige-dc-8-von-lufthansa-cargo-steht-zum-verkauf

Tanto o site alemão "Aerotelegraph" quanto alguns sites brasileiros só "teoricamente" especializados em aviação carecem de informações corretas. O avião não está e nunca esteve abandonado, apenas é objeto de uma demora jurídica para resolver seu caso. E tem dono sim.

Trazer informações claras, apresentando documentos, depoimentos e comprovação, narrando uma história com profundidade, é o que diferencia o jornalismo verdadeiro do Ctrl C + Ctrl V + tradução via Google – que pode ser sim o início de uma boa reportagem, mas JAMAIS a fonte principal da mesma. Quem aqui vos explica isso é uma jornalista com curso de jornalismo investigativo, inclusive. Por exemplo, eu testemunhei o caso do leilão da Infraero em 2016 e contatei o TRF 1a. Região na véspera do pregão de Manaus. O email abaixo é um deles:







O leitor sempre irá querer "qualidade", mesmo que "quantidade" lhe seja ofertada como em uma inundação de informações, gerando alguns "likes" por automatismo e aqueles comentários sem qualquer embasamento técnico que irão, muitas vezes, gerar fake news.

Pelo contrário, o leilão frustrado do PP-BEL foi um bom exemplo de como uma denúncia jornalística, inclusive dando espaço para todas as partes se manifestarem – oportunidade da qual o site de leilões e a concessionária do aeroporto paulista abriram mão – , pode gerar um resultado que, neste caso, preveniu um possível arrematante de pagar por algo que não poderia levar.


                            CONTINUAREI ACOMPANHANDO ESTE INTRIGANTE CASO!

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