"O QUE VOCÊ ESTÁ ACHANDO
DA NOVA REVISTA FLAP?"
A frase que estou usando de título para abrir esta coluna "Spagatices" eu já ouvi ou li várias vezes desde que saiu do forno a edição 594 da Flap Internacional (agora International), a partir de então comandada por Gianfranco "Panda" Beting. Então, embora eu tenha respondido individualmente a algumas pessoas à medida que eu realmente ia conhecendo a revista em sua nova roupagem, resolvi publicar de maneira geral minhas impressões aqui no Blog para poderem ser conhecidas por todos os interessados.
O óbvio é o seguinte: era e é totalmente impossível que a Flap continuasse como estava sendo produzida há décadas. Muita gente gostaria que continuasse exatamente daquele jeito, desde diagramação, reportagens etc. Ao contrário do que muita gente acha, quem faz as empresas, qualquer empresa, são as pessoas dentro dela. E ninguém é substituível, ou seja, todas as pessoas são insubstituíveis. Quem é "substituível" são as funções, os cargos a serem preenchidos. Ex: troca-se um professor, um porteiro, um diretor de multinacional, um motorista, um médico. Mas nenhuma dessas pessoas que assumiram o local vago pela pessoa anterior nessa profissão, cargo etc trabalhará da mesminha maneira, por mais que tenha o mesmo script, um roteiro, siga idênticas normas e regras. Até mesmo um ator ou atriz, já que estamos falando de script e roteiro. A individualidade de uma pessoa sempre estará presente, e ponto final.
Uma revista de aviação brasileira ainda mais antiga que a Flap, a Aviação em Revista, teve quatro proprietários, e cada um, naturalmente, sua própria equipe, e cada proprietário e equipe colocou sua marca pessoal, seu estilo, sua direção nela. Até o último proprietário preferir deixá-la morrer. E lá se foram mais de 70 anos ininterruptos.
É claro que a primeira preocupação de Gianfranco Beting foi desenvolver reportagens, matérias, e rechear as páginas da "nova" Flap com o material disponível que, aliás, sempre alegrou os leitores: a conhecida mega coleção de aviação de Spagat, leia-se: fotos, folhetos, cardápios e outras coisas relacionadas à história da aviação, sobretudo a brasileira. Se agrada sempre e está disponível aos montes, por que não compartilhar essas imagens etc com os leitores, como Spagat já vinha fazendo em várias edições?
Mais claro ainda foi "Panda" colocar sua individualidade e seus gostos na revista que agora passava a comandar. Mais fotos? Mais história? Matérias menores? Sua própria coleção de fotos também? Comentar sobre acidentes aéreos, o que o Spagat, em certo momento, parou de incluir na revista? Já vi gente comentando comigo "Está bonita mas NÃO É a Flap."
Afinal, o que era a Flap, então?
Isso, eu creio, consigo identificar... Mais do que matérias grandes – apenas quatro ou cinco ocupavam mais de 50% da revista – a revista tinha todo o jeito ácido, direto, questionador, irônico, debochado do Carlos André. Afinal, a Flap era cria dele, acredito que desde os tempos do Clube Juvenil que gerou a revista ainda como jornalzinho, Spagat impôs totalmente seu estilo, que o acompanhou até o fim de sua vida.
Posso afirmar que, mais do que qualquer outro "publisher" de outras revistas de aviação do passado e do presente, Spagat realmente tinha alma de jornalista mesmo sem ter feito qualquer curso de comunicação social. Ele simplesmente expôs verdades sobre empreendimentos e empresas como Aerovale, Taip, Nella e dezenas de outras, que não seguiram em frente ou ainda não saíram do papel no Brasil. Ele punha várias pessoas para investigar, comprovar ou desmentir anúncios, releases, boatos, principalmente porque conhecia praticamente todo o mercado, o que é básico para qualquer jornalista. Como eu sempre digo, o leitor jamais vai ler de um jornalista só o que gosta de ler, de ouvir, de ver. Se quer só o que gosta, selecione no Netflix e divirta-se.
E, se você realmente sentirá saudades do Spagat "pegando no pé" das cias aéreas, nos Flight Checks ou nas demais matérias, com toda sua acidez, deboche, até mesmo alguma grosseria, tenha em mente que isso, agora é passado. A Flap "virou a página". O Spagat também era insubstituível, agora quem está à frente da Flap é o Gianfranco Beting que, ao contrário do fundador da Flap, é um gentleman, um entusiasta com outras características, com alma spotter e empreendedor do século XXI, bem diferente do publisher antecessor, que demorou para colocar reportagens coloridas em toda a revista, colocá-la na internet e relutou tanto em trocar a logomarca da Flap que apenas mudou a palavra "Internacional" de posição. "Panda" foi mais ágil e decidido em mudar praticamente tudo, mesmo porque isso resultou de negociações com as entidades beneficentes legatárias do testamento, e ele conta detalhes disso em suas lives do canal Pandaviation. Não foi fácil, foi burocrático, estressante, necessitou de muito jogo de cintura e a responsabilidade dos funcionários da agora extinta editora Grupo Editoral Spagat. Só é fácil, para quem não acompanhou o processo, tacar pedras e suspirar por um passado que não vem mais: o Spagat morreu, acabou a missão dele, Flap agora foi renovada e, com certeza, isso atrairá novos anunciantes, novo público, formará novos entusiastas e futuros profissionais da aviação.
Afinal, qual é a minha resposta ao título lá em cima? Sim, eu gostei da Nova Flap pelos motivos acima citados: seções diferentes, novas, fotos belíssimas que não eram tão frequentes nas edições anteriores da revista, etc. MAS vou sentir muuuitaaa falta das "Spagatices" do Carlos André falando mal da comida de bordo e das flores artificiais nos banheiros dos aviões durante os flight checks, bem como da acidez desconcertante de quem duvidava que companhia iniciante A, B ou C pudesse efetivamente entrar no mercado brasileiro e dos trabalhos investigativos onde ele colocava amigos, contatos e até jornalistas com pseudônimos para contar descobertas incríveis do mundo dos bastidores da aviação que outras revistas não tinha coragem de publicar.
E já que ele não está mais aqui entre nós para criar novas "Spagatices", eu continuarei revelando algumas que presenciei ou soube por terceiros.
Vida longa à Nova Flap International! Do jeitinho que está!
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