NELLA, A MISTERIOSA...
(por Solange Galante)
Minha crítica é sobre quem quer ser coadjuvante de uma história que nem começou direito e dar esperança a tanta gente desempregada, querendo colocação na aviação, como se tudo já estivesse alicerçado de fato. Enfim, minha crítica é sobre vender sonhos.
Vamos devagar com o andor que o santo é de barro! Todo santo, na aviação, É de barro. Com margens de lucro minúsculas, se já vimos gigantes como Pan Am, Varig, TWA e versões anteriores da Alitalia irem à lona, não duvide das dificuldades das pequenas companhias num país com elevadas dificuldades, tributárias e de infraestrutura, que até empresta seu próprio nome ao Custo "Brasil".
Com 25 anos de jornalismo de aviação e mais de uma década, além desse tempo, só como observadora da aviação, já vi muita coisa acontecer, de bom e de mau, no mundo empresarial brasileiro. Mas, não acreditem na minha desconfiança, se não quiserem!!! Que tal, então, acreditar na revista de aviação mais amada do Brasil, e mais longeva atualmente, a mega famosa Flap Internacional?
Segundo a revista apurou em sua edição de abril passado, a Nella protocolou seu pedido junto à ANAC em novembro. Aqui no Blog Caixa Preta eu também noticiei isso (vide link https://caixapretadasolange.blogspot.com/2020/11/plantao-caixa-preta.html), destacando minha frase final "A aviação brasileira precisa de mais empresas. Desde que voem, e saudavelmente, é claro!" Pois, é claro, não precisamos de mais empresas vendendo mas não cumprindo, e deixando na mão não só passageiros mas também funcionários.
Como também a revista acertadamente apurou, desde então "três conhecidos executivos do mercado não chegaram a esquentar a cadeira na direção da empreitada, abandonando o posto por diferentes razões." Foi uma das AFAs (vulgarmente Associação dos Fofoqueiros de Aeroportos) mais comentadas, entre tantas outras, além de memes diversos sobre a empresa e seu presidente.(Onde há fumaça, há fogo...)
Em março, segundo afirma o redator – pessoa muito séria, com quem já trabalhei – a Flap Internacional recebeu em sua conhecida redação o misterioso empresário Mauricio Souza, que está à frente da mais misteriosa ainda Nella. Nas instalações da Flap são fotografados e entrevistados grandes empresários e executivos da aviação comercial atuando no Brasil e/ou no exterior. Boa parte dessas visitas eu mesma acompanhei.
A revista goza, como é sabido, de enorme prestígio e credibilidade, sendo a mais admirada do país e leitura obrigatória de geração após geração ao longo de décadas. Você, ainda assim, pode não concordar com tudo o que lê na Flap mas não pode negar que ela , quando quer, vai fundo nas questões fundamentais da aviação comercial, em especial. Inclusive, me admirou só agora estarem publicando uma ampla reportagem sobre a Nella. Outras empresas aéreas que pareciam promissoras aos olhos externos à Flap, fora do seu escritório nas proximidades da Av Faria Lima, foram imediatamente colocadas em dúvida pelos anos de experiência do fundador e mandachuva da publicação, Carlos Spagat, um especialista (ele sim) que não fala de feiras de aviação sem ter ido lá pessoalmente conferir, não analisa empresas sem tê-las visitado ou sem ter conversado olho-no-olho com seus executivos. Isso quando não envia seus correspondentes mais além, para descobrir os bastidores. E não foram só companhias aéreas em desenvolvimento ou em promessas que a revista Flap colocou em dúvida ou até mesmo desmascarou. Empreendimentos como o Aerovale de Caçapava, bem como badaladíssimos eventos como o IBAS (Aeroporto do Galeão, 2017) e a Labace em Congonhas tiveram suas falhas e vícios trazidos à tona e expostos na primeira página das matérias enquanto o resto da imprensa jogava confetes em todos eles. Nada escapa ao perspicaz Spagat: falta de flor no banheiro, um furo na decoração, não cumprimento de promessas, aviões-fantasmas, rotas impossíveis de se operar. Exageros ? Alguns, talvez. Mas os confetes, inclusive, como hoje é comum haver, nas "lives" foram muito mais exagerados e são eles que eu critico.
Noutro trecho da mesma matéria sobre a Nella, a revista apurou que o Boeing 737-500 da companhia venezuelana Albatros, da qual Maurício Souza teria 25% das ações, não decola do solo venezuelano desde março de 2020, quando a companhia daquele país deixou de voar. A revista possui correspondentes na maioria dos países latino-americanos e não trabalha com "ouvi dizer" mas com informações precisas, acompanhadas em tempo real.
A revista também publicou que, (sempre) segundo Maurício Souza, a Nella já estaria na fase 3 (de 5) do processo de homologação junto à ANAC para a obtenção do COA (Certificado de Operador Aéreo) mas, na verdade, mal havia concluído ainda a fase 1 (segundo a ANAC; informação que eu mesma comprovei nesta semana, 18 de maio).
Em todas as entrevista e "lives" a que acompanhei, o misterioso Maurício Souza justifica a demora para a Nella realmente estar preparada para operar fazendo-se de "vítima" das circunstâncias. Ora, problemas burocráticos, financeiros, jurídicos, políticos, bem como pandemias e guerras são inerentes às atividades empresariais, em especial à aviação, com aqueles lucros microscópicos que já citei. Por que algumas empresas conseguem trazer seus aviões, apresentá-los, voá-los, operá-los e, mesmo que não durem muitos anos por motivos diversos, pelo menos apresentaram algo de concreto, para funcionários e passageiros, até então? Não estou dizendo que a Nella está apenas devagar em seu processo. Tempo nem sempre é um bom termômetro. Apenas acredito, ainda, que esse processo está estranho e nebuloso demais para se apoiar. Se eu estiver errada, ótimo, teremos mais uma empresa para empregar e prestar serviços. Mas se a Flap fer coro ao meu faro...
Qual é a diferença entre determinação e teimosia?
O site abaixo me deu algumas pistas sobre o processo de criação da Nella:
(https://www.blog-desenvolvimento-pessoal.pt/2015/05/04/resiliencia/)
"Teimosia é qualidade de teimoso; teima; birra; pertinácia; insistência.
Uma pessoa teimosa não cede a opiniões de terceiros. Mantém-se firme nas suas premissas e ideias sem pestanejar ou mostrar sinal de dúvida.
O "Teimoso" é a pessoa cujo temperamento se caracteriza por não mudar no que acredita mesmo que esteja visivelmente errada. (Fonte: “Resilience Core” – Gail M. Wagnild ®, 2010)
Etimologicamente, persistência deriva do latim: persistentia – persistir, que significa “manter-se firme”. Designa o que é perseverante e duradouro; pessoa que não desiste com facilidade.
Pesquisando perseverança, encontramos a seguinte definição: “capacidade de aguentar ou manter-se firme em face de dificuldades” (Fonte: www.dicionarioinformal.com.br/significado/perseverança) e os sinónimos: firmeza ou constância, persistência e tenacidade.(Fonte: www.priberam.pt – Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [on line], 2008-2013)
Em Psicologia, perseverança é a capacidade de sustentação voluntária de uma atividade implicada por uma tarefa prolongada.(Fonte: Dicionário da Língua Portuguesa, de J. Almeida Costa e A. Sampaio e Melo, Porto Editora, 8ª edição, 1999)
Segundo o dicionário Aurélio, perseverante é aquela pessoa que “procura conservar-se firme e constante, permanecer sem se mudar ou variar de intento.” Teimoso é aquele que ”teima de forma exagerada; é obstinado; insistente; birrento”.
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A revista conclui a matéria com uma pergunta feita diretamente ao fundador e presidente da empresa, e sua resposta:
O tempo dirá se é apenas teimosia ou realmente persistência de Maurício Souza.
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Esclarecimento: a seção "Speech" deste Blog SEMPRE reflete minha opinião pessoal. Achei importante esclarecer isso porque alguns leitores chegaram a achar que alguns "Speeches" já publicados aqui eram reportagens, mas eles já tinham provado antes que não sabem a diferença entre textos opinativos, interpretativos e informativos.
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