sexta-feira, 10 de setembro de 2021

SPEECH

 ONDE VOCÊ ESTAVA NA MANHÃ DO DIA 11 DE SETEMBRO DE 2001?




Eu me lembro muito bem daquela manhã inesquecível, para mim e para toda a humanidade. Na época, eu escrevia principalmente para a saudosa Aviação em Revista. Eu tinha para cumprir uma pauta sugerida por mim mesma: as mulheres pilotos do offshore. Foram alguns meses de negociação com a Petrobras para poder ir a uma de suas plataformas na Bacia de Campos (RJ). A dificuldade se devia aos helicópteros estarem sempre lotados de passageiros indo e vindo entre Macaé e as plataformas.

Enfim, tudo certo, visita marcada para o dia 12 de setembro de 2001. Só faltava, agora, a liberação, pela VASP, da passagem, em permuta com a editora, para eu me deslocar ao Rio na véspera, já que cedinho, no dia 12, iria para uma das plataformas da companhia petrolífera.

Na manhã do dia 11 de setembro eu fui ao Aeroporto de Congonhas e me dirigi à loja da Vasp lá no saguão da ala norte. Havia toda uma burocracia a ser cumprida pela empresa para a liberação da passagem e, tão logo ela estivesse disponível, eu já embarcaria para o Aeroporto Santos Dumont.

Já com minha bolsa de viagem, fiquei fazendo hora, enquanto esperava o OK da VASP, junto ao SERAC-4, o Serviço Regional de Proteção ao Voo localizado ali mesmo na ala norte do aeroporto paulistano. À entrada do SERAC, meu amigo, o saudoso Waldomiro Santos, vendia suvenires e maquetes de aviação, especialmente para estudantes de cursos de aviação que iam ao SERAC para regularizar suas horas de voo, atualizarem informações sobre provas do então Departamento de Aviação Civil, o DAC, etc. O SERAC sempre estava muito movimentado: eram pilotos, estudantes, aeronautas e aeroviários em geral, representantes de empresas diversas ligadas à aviação, e serviços digitais eram raros naquela época, quase tudo era resolvido presencialmente. Para passar o tempo enquanto aguardavam a chamada de acordo com a senha e os setores onde seriam atendidos, os usuários tinham à disposição uma sala com cadeiras e um monitor de TV ligado na TV Globo.

Notícia ruim voa mas, até então, o Waldomiro, sempre conversando com muitas pessoas da área, havia "ouvido falar" que um avião havia colidido com um prédio em Nova York. Logo lembrei do pequeno avião que, em 1979, havia colidido com um prédio de Moema, perto de Congonhas, resultando na morte do piloto. Eu imaginava que havia acontecido aquilo e, até então, o Waldomiro, também: um pequeno avião, um prédio qualquer, poucas vítimas, fatais ou não.

nossa saudosa VASP demorava para liberar a passagem. Coisas de quem cede passagens por permuta com anúncios na mídia. Era preciso avaliar o saldo da empresa, no caso, a Aviação em Revista e emitir o bilhete, que ainda era de papel, parecendo um carnezinho. Isso tudo envolvia vários setores. As horas avançavam, e eu lá, entre a loja da empresa aérea, que não era distante do SERAC-4, e este.

Foi então que reparei que os usuários, lá na sala de espera, estavam todos olhando de uma maneira estranha para a TV ligada, todos boquiabertos, sem piscar. E eu me aproximei para assistir à TV.

que eu vi também me deixou imediatamente de boca aberta. 

O apresentador Carlos Nascimento falava e já mostrava a imagem de um avião grande colidindo com uma das Torres Gêmeas de Nova York. Era a imagem recuperada (não mais ao vivo) do segundo avião colidindo com a segunda torre. E foi assim que comecei a ficar sabendo dos atos terroristas.

A passagem da VASP só foi liberada após o almoço, após várias idas minhas à loja para me informar sobre o andamento. Já havia um ar tenso em Congonhas. Aviões usados como mísseis contra civis há milhares de quilômetros do Brasil, mas eu, e muitos outros brasileiros, prestes a VOAR naquele dia 11 de setembro. A distância não reduzia o medo, pois não sabíamos o alcance dos atos terroristas.

No check in e no embarque no PP-SFN todo mundo mudo e com olhar tenso. O voo em si, felizmente, foi tranquilo. Lá no Aeroporto Santos Dumont, um representante da área de imprensa da Petrobras me recebeu e me colocou no automóvel dele, e seguimos para Macaé, onde chegaríamos à noite. No caminho, trocamos informações sobre o que já sabíamos sobre os atentados. O funcionário me deixou no hotel, para nos vermos novamente na manhã seguinte e irmos de helicóptero a uma das plataformas da Bacia de Campos.

Uma vez instalada no quarto do hotel, liguei a TV e fiquei acompanhando os noticiários. Felizmente, como sempre faço quando viajo ou me ausento de casa, deixo pelo menos um telejornal sendo gravado, para manter as reportagens de aviação na minha coleção. No caso, foi o Jornal da Band, ainda apresentado por Boris Casoy.

As entrevistas para a reportagem foram realizadas no dia seguinte e na manhã posterior, do dia 13 de setembro, eu tomava o voo de retorno a São Paulo com o PP-SOT da VASP. A tensão não só não se dissipara como, agora, já se pedia documentos a todos os passageiros na hora do embarque.

Até então, nunca a aviação comercial mundial havia parado tantos voos e tantas cias. aéreas, em consequência do prejuízo, pararam definitivamente de voar, simultaneamente, nas semanas e meses que se seguiram aos atentados. Voar em empresas comerciais nunca mais foi a mesma experiência, especialmente devido à rigidez das novas normas de segurança. Lamentamos até hoje.




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