EXCLUSIVO
O uso do sistema EFB nos Boeing 727
da Total Linhas Aéreas
Você já deve ter ouvido falar dessas três letrinhas juntas: EFB. Iniciais de Electronic Flight Bag. Trata-se de informação aeronáutica em formato digital.
Os dispositivos EFB podem exibir uma variedade de dados de aviação ou realizar cálculos básicos (por exemplo, dados de desempenho, cálculos de combustível etc.).
No passado, algumas destas
funções eram tradicionalmente realizadas utilizando referências em papel ou
baseadas em dados fornecidos à tripulação de voo pelo setor de “despacho de
voo” de uma companhia aérea. O escopo da funcionalidade do sistema EFB também
pode incluir vários outros bancos de dados e aplicativos hospedados. Os
displays físicos do EFB podem usar diversas tecnologias, formatos e formas de
comunicação. Esses dispositivos às vezes são chamados de computadores
auxiliares de desempenho (APC) ou computadores portáteis de desempenho auxiliar
(LAPC).
Recomenda-se a conexão do EFB a
um barramento de energia não essencial ou ao barramento de energia menos
crítico, portanto, qualquer falha ou mau funcionamento do EFB, ou da fonte de
alimentação, não afetará a operação segura dos sistemas críticos ou essenciais
da aeronave.
Tratando-se de informação aeronáutica em formato digital, não é comum pensar no EFB em conjunto com aquele monte de “reloginhos” de um avião comercial clássico de (várias) décadas passadas. Mas o sistema pode sim trabalhar harmoniosamente em um “Cadillac” dos ares.
Há menos de um ano, a Total Linhas Aéreas concluiu a implantação do EFB em seu trio de aeronaves Boeing 727-200 cargueiros, o que deu uma sobrevida extra a essas aeronaves da era analógica da aviação.
Dois profissionais da empresa deram entrevistas exclusivas a este Blog para falar de como foi esse processo e quais as vantagens de utilização dessa tecnologia própria das gerações mais novas de aeronaves para cargas e passageiros em todo o mundo. O primeiro foi Laurence Amaral de Melo, Engenheiro de Planejamento da Total Linhas Aéreas.
Acompanhe o que ele disse!
CAIXA PRETA: Sabendo que os Boeing 727-200F da Total possuem mais de 40 anos de uso (cada um deles) em várias cias. aéreas mas, por outro lado, são aviões ainda ideais para algumas rotas e mercados onde atua, como a Rede Postal Noturna, como a Total se planeja para instalar neles novos equipamentos? Por exemplo, no passado a ANAC exigiu TCAS em muitos modelos de aeronaves da frota brasileira. Inclusive, em 2021, publiquei aqui uma outra matéria sobre a atualização dos sistemas de navegação dos mesmos aviões (vide: https://caixapretadasolange.blogspot.com/2021/10/materia-especial.html) A Total sempre aguarda comunicados de alerta da ANAC ou de outras fontes com recomendações ou toma iniciativas próprias?
Laurence Melo: Todos nós da empresa
possuímos um carinho imenso pela frota B727-200F, uma vez que a mesma faz parte
da história de sucesso da TOTAL LINHAS AÉREAS. Tratamos esta frota como
verdadeiros patrimônios. Temos em mente de que a sua manutenção e operação a
cada dia que passa torna-se um belo de um desafio. A escassez em localizar
peças, oficinas, laboratórios, etc é notória. Desta forma, sempre que existe a
possibilidade para instalar novos equipamentos nestas longevas aeronaves
tratamos realmente como um projeto, onde passamos por inúmeras reuniões, brainstorms perante a nossa equipe
técnica, de operações, além da nossa Diretoria Geral. Neste eventos podemos
debater a linha de eventos a ser executada, o passo a passo de cada etapa,
inclusive com o aporte financeiro de cada uma. Quando a exigência parte da ANAC
procuramos tratar de forma um pouco mais célere, porém, com tratativas com o
seu pessoal, no intuito de receber instruções e obter o melhor caminho a ser
percorrido sempre objetivando o quesito segurança operacional. Estamos sempre
de olho nas tendências de mercado e melhorias da tecnologia embarcada na nossa
frota.
CAIXA
PRETA: Desde que você está na Total, quais as atualizações para os Boeing 727
que você acompanhou? A última foi sobre o EFB?
Laurence Melo: Durante os 20 anos de
empresa, os quais pude completar no ano passado, já acompanhei algumas
atualizações na frota B727-200F, tais como: substituição dos GPS, autorização
para transporte de artigos perigosos, inclusão de certas modalidades na
operação via PBN (Performance Based Navigation), autorização para voo RVSM (Reduced Vertical Separation Minimum),
substituição do sistema de radar, dentre outros. A atualização mais recente
aplicável a esta frota foi a autorização para uso do EFB (Electronic Flight Bag).
CAIXA
PRETA: Qual é função de um engenheiro de planejamento em um caso específico
como o desse programa dos EFB nos Boeing da Total?
Laurence Melo: O
Engenheiro de Planejamento no programa EFB atua na garantia da presença de
acessórios nas bases de operação. Ele indica a quantidade para aquisição
perante o time de Compras. Por tratar-se de material OC (On Condition) devemos manter o mínimo de miscelâneas disponíveis em
nossas bases, como por exemplo: baterias, adaptadores, cabos. Ele ajuda a
localizar empresas com preço e prazo para entrega justos diante do mercado
atual. Além disto, é tratado como interface
com o time de Operação para ajustes no sistema em questão e agendamentos de
treinamentos para reforço da nova implementação.
CAIXA PRETA: Como foi o processo em relação ao Electronic Flight Bag e
quanto tempo durou? Poderia explicar o funcionamento do sistema e as vantagens
em especial para a operação dos jatos da geração do Boeing 727?
Laurence Melo: O
processo de solicitação do EFB para a nossa frota B727 iniciou-se no ato do
protocolo do FOP 119 no dia 26/10/2021 perante a ANAC. Várias etapas foram
vencidas até o sucesso da aprovação vinda no dia 02/05/2023.
Uma bateria de reuniões,
discussões técnicas, simulações, acompanhamentos remotos e in loco através do nosso time X ANAC fizeram parte deste processo.
Exaustivos trabalhos em equipe nos propiciou obter esta aprovação, observada
por nós como um grande salto no tema Paperless,
mundialmente divulgado. Enriquecendo o assunto existem três classes de hardware e três tipos de software. No quesito hardware, o de classe I é portátil, não
prevê meios de fixação na aeronave e não pode ser acessado nos pousos e
decolagens. Já o de classe II possui um dispositivo de fixação e pode ser usado
em todas as fases do voo. E o de classe III é um produto aeronáutico
completamente integrado. O equipamento troca dados com a aeronave, interligado
com outros sistemas.
O funcionamento do EFB
possibilita acesso a diversos manuais, documentos da empresa, sites de apoio ao
voo no âmbito meteorológico, comunicação com a central DOV através de e-mail
para recebimento da documentação do voo e outros aplicativos necessários para
consulta ao voo. Durante o voo possibilita um backup para a navegação da aeronave com visualização em tempo real
para poder fazer cross check com o
GPS ou FMS. Facilidade no acesso às cartas necessárias a navegação e as
frequências disponíveis para comunicação no setor de Operações. Outro ponto de
destaque é a ergonomia.
A vantagem na operação
do 727 é ser um importante backup
para navegação e a garantia da facilidade na atualização dos manuais. O
sistema permite que a tripulação execute tarefas de gerenciamento de voo com
mais eficiência e sem a necessidade do uso de publicações impressas. Após a
autorização do EFB reduzimos em 70% a presença dos documentos impressos na
cabine de voo.
CAIXA PRETA: Há mais equipamentos já em planejamento para serem instalados
nesses jatos?
Laurence Melo: Atualmente
estamos estudando a viabilidade de adequarmos um dos nossos B727-200F para
operação RNP-1 (Performance de Navegação Requerida), ou seja, capacitarmos a
mesma para voar em uma determinada rota, permitindo-se um desvio lateral máximo
de uma milha náutica para cada lado do eixo da rota, durante 95% da rota.
Lembrando que duas das três aeronaves desta frota já estão devidamente
capacitadas para tal modalidade de navegação.
CAIXA PRETA: Quais as vantagens para a empresa? Redução de custos? Redução
da fadiga dos pilotos? Outras?
Laurence Melo: Entendemos
que a aplicação dos EFB’s na frota B727-200F nos traz grandes vantagens. A
utilização de recursos eletrônicos no lugar dos manuais e documentos impressos
é ecologicamente correto e implica em cortes de gastos com a carga morta, a famosa
operação Paperless, aqui já citada. A
redução do papel, otimiza o desempenho da aeronave, podendo a mesma ofertar
mais capacidade de voo e performance. O sistema fornece aos pilotos todas as
informações necessárias durante o voo, conferindo mais segurança e
navegabilidade.
Entre as principais
vantagens estão a segurança e a agilidade na consulta e cálculos de voo,
sobretudo em períodos críticos da missão, reduzindo a carga de trabalho da
tripulação técnica. A acessibilidade fácil devido a escolha na tela diretamente
a informação necessária sem a necessidade de folhear as vastas documentações
impressas, acaba minimizando o impacto da fadiga da tripulação técnica.
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Enfim,
também procurei conversar com quem efetivamente usa o EFB nos voos, quem põe a
mão na massa, no caso, o Cmte. Juan Carlos Machado Torrico, da Total.
Ele
informou que já havia trabalhado na mesma empresa de 2002 a 2007 e retornou à Total
em janeiro de 2019, onde ainda permanece.
CAIXA
PRETA: Você já havia trabalhado com EFB? Caso negativo, como foi a adaptação?
Cmte. Juan: Nunca tinha
trabalhado com EFB e estou gostando bastante. Ele
comporta não só as cartas como manuais e nós dá uma atualização em tempo real
da nossa rota com o moving map. Em
solo podemos consultar sites de meteorologia, avisos de aeroportos pertinentes
a operação e manuais da empresa e do próprio avião. Tudo isso é atualizado de
maneira rápida e remota, trazendo facilidade, segurança e praticidade no dia a
dia.
CAIXA
PRETA: Além do EFB, quais os outros
equipamentos foram acrescentados ao 727 para pilotagem/navegação desde que você
entrou para a companhia? Há também alguma interface direta com o setor de
manutenção, por exemplo?
Cmte. Juan: Com relação aos equipamentos de navegação que
temos a bordo, há duas aeronaves com dois GPS Garmin instalados recentemente. Eles trazem precisão e a possibilidade de
realizarmos procedimentos RNAV. Tudo
isso traz precisão, mais segurança e conforto nas nossas operações. Mas alguns
manuais em papel ainda estão presentes na aeronave pois se fazem necessários
fisicamente.
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