sábado, 16 de outubro de 2021

MATÉRIA ESPECIAL

 E X C L U S I V O


A EMPRESA DO GRUPO SULISTA GARANTIU A SOBREVIDA E A SEGURANÇA DE SEUS TRIJATOS CARGUEIROS


ESTE BLOG NOTICIOU, EM PRIMEIRA MÃO, A MODERNIZAÇÃO DO PRIMEIRO AVIÃO HÁ MAIS DE UM ANO E, AGORA, OS TRÊS JÁ SÃO TRIJATOS COM SISTEMAS MODERNOS


Fotos abaixo: novos modelos de GPS GTN 725 e GTN 625 instalados na aeronave PR-TTP. Crédito: Total Linhas Aéreas



É impossível afirmar qual o limite da vida útil de um avião comercial, ou mesmo de um avião militar, bastando para isso olhar os B-52 da USAAF, jatos que voam há mais de meio século ininterruptamente. No Brasil, três clássicos Boeing 727, embora longe da idade dos B fifty-two norte-americanos, já ultrapassaram quatro décadas de voos – sim, são quarentões, tendo voando antes em empresas como a Republic Airlines e Hughes Air West. Certamente, o próximo passo será ser aposentados – dificilmente irão voar em outras empresas – quando realmente não forem mais economicamente viáveis.

São modelos com instrumentação analógica – os famosos “reloginhos”, que enchem os olhos dos entusiastas de todas as gerações – o que levou a companhia com sede em Belo Horizonte a optar pela modernização de seu sistema de navegação para prosseguir voando com os três trijatos, os restantes de seis que possuía na frota.



A largada para o projeto começou em setembro de 2018. A Total contratou uma das empresas mais renomadas e conhecidas nessa área, a Avionics Services, inicialmente, para fazer o processo de certificação e instalação em uma primeira aeronave apenas (PR-TTP). Somente o processo de certificação levou cerca de um ano. “Após isso, em setembro de 2020 a Total nos contratou para fazer a instalação na segunda aeronave (PR-TTO)” explica João Vernini Filho, diretor de Marketing e Vendas da Avionics Services. “Como já existia um STC (Certificado Suplementar de Tipo - Supplementary Type Certificate) aprovado – aquele que foi desenvolvido para a primeira aeronave a sofrer o upgrade – não foi necessário ser feito outro projeto e aguardar sua aprovação na ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil).” Ou seja, agora tudo correu mais rápido, foram feitas revisões a partir do STC original para adequá-lo à realidade da segunda aeronave e instalado o equipamento.



A modernização dos jatos não começou exatamente do zero: a Total já utilizava aparelhos GPS (Global Positioning System) em seus aviões, mas, equipamentos antigos, já vinham dando muitos problemas (tanto técnicos quanto operacionais), reportados pelas tripulações e mecânicos, dificultando a operação das aeronaves. Havia, ainda falta de equipamentos para troca. “Por exemplo, outro motivador para este projeto foi a descontinuidade de atualização do database dos GPS’s modelo APOLO que estavam instalados na aeronave PR-TTO. Além disso, a Total tinha o desejo de poder certificar a aeronave para poder fazer operações RNAV-1 para fins de reduzir tempo de voo e custos operacionais”, explica João Vermini Filho.

Conhecidos os problemas e as necessidades do cliente, a Avionics Services identificou como solução fazer a troca dos sistemas de navegação antigos e a instalação de dois novos GPSs. Os equipamentos escolhidos para este projeto foram os modelos Garmin GTN 725 e 625, os quais foram integrados com outros sistemas da aeronave, para permitir a operação RNAV.  João Vermini Filho observa que a terceira aeronave da Total, de matrícula PR-TTW, já estava homologada para realizar a performance RNAV-1. Vide: https://caixapretadasolange.blogspot.com/2020/01/plantao-caixa-preta.html  “Este projeto foi feito em etapas”, o diretor da Avionics detalha: “A primeira etapa foi a de certificação, onde foi desenvolvido o projeto e aplicado junto à ANAC e aguardamos a aprovação. Entre solicitações de informações e respostas, o projeto levou aproximadamente nove meses para ser aprovado pela ANAC.  Já a fase de instalação levou aproximadamente 10 dias, sendo que a modificação foi executada nos intervalos de parada da aeronave (para não prejudicar a operação).”

Questionado sobre qual seria o maior desafio em um atendimento desses, considerando a idade das aeronaves, João Vermini Filho reconheceu tratar-se de um desafio realmente grande, pois não se sabe ao certo o que se vai encontrar em termos de documentação e conservação dos sistemas já instalados nos aviões. “Normalmente, nas aeronaves antigas, é difícil você ter toda a documentação de como ela está atualmente, como diagramas elétricos, etc. Muitas vezes se faz necessário uma engenharia reversa para poder levantar o atual estado do avião, para fins de desenvolver o novo projeto de integração. Felizmente, a Total é uma empresa muito cuidadosa, ela realmente cuida muito bem das aeronaves e, por conta disso, não tivemos problemas em relação à documentação e conservação dos sistemas instalados, o que nos ajudou muito no processo da modificação.”

Ainda assim, como os Boeing 727 da Total não foram adquiridos novos, mas aeronaves utilizadas antes por outras companhias aéreas, como explica Laurence Amaral de Melo, Engenheiro de Planejamento da Total, o maior desafio foi realmente obter a interface entre os sistemas já presentes nas aeronaves desde a fabricação das mesmas juntamente com a tecnologia presente nos novos modelos de GPS. E, claro, “além de se evitar indisponibilidade durante as atividades de manutenção. Lembrando que a Total opera três linhas da Rede Postal Noturna dos Correios, além de voos para o Banco Central do Brasil e outros clientes avulsos. Mas, finais de semana também existem para facilitar esse tipo de serviço e, segundo Laurence, a implementação deste sistema por aeronave ocorreu em quatro finais de semana, consumindo aproximadamente 3.000 homens/hora.

“A Total Linhas Aéreas sempre preza pela manutenção e revitalização da tecnologia embarcada na sua frota. Anos atrás eu já havia acompanhado projetos de substituição de outros componentes como: MFD (Multifunction Display), Radar e Altímetro.

 

Painel do PR-TTP antes da modernização (Foto: Afonso Delagassa)


AVIÕES E HELICÓPTEROS RENOVADOS E VEÍCULOS AÉREOS NÃO TRIPULADOS


Fotos abaixo: Crédito, Avionics Services

Se no mercado dos aviões comerciais para passageiros são raros os casos de aeronaves tão antigas ainda em operação, isso já é mais comum no transporte de cargas e no já citado também mercado militar. Por isso, a Avionics Services, que atua há mais de 25 anos, tem larga experiência justamente nesse tipo de trabalho de upgrade de sistemas, tanto em aeronaves antigas quanto também em novas, sejam elas civis ou militares, aviões e helicópteros.

Alguns projetos que João Vermini Filho faz questão de mencionar foram os retrofits completos na frota de aeronaves Hercules C-130 da Força Aérea Brasileira, “onde executamos o retrofit completo do painel (não apenas os GPSs como esses da Total) em 18 aeronaves. Fizemos também a modernização completa de três Hercules C-130 da Força Aérea Colombiana e estamos, no momento, realizando retrofit completo do painel de aeronave Pilatus PC-7 da Marinha do Chile.” Ele também acrescenta o retrofit completo do painel de três helicópteros Bell UH-1H operados pela Força Aérea de Honduras.

C-130 (Brasil)




C-130 (Colômbia)



UH-1H (Honduras)

Voltando às empresas aéreas, durante esses 25 anos de atuação, a equipe da Avionics Services já trabalhou para diversas companhias, como Latam, Gol, Lufthansa, Air France, etc. “Um case que vale a pena mencionar foram as instalações do sistema Airshow (sistema que permite aos passageiros ver no mapa a atual localização da aeronave durante o voo) nas aeronaves Airbus A320 da Latam (na época, ainda era TAM). Foram instalados, na época, em mais de 20 aeronaves, aquelas que não vieram com o sistema já instalado de fábrica. Essa instalação foi feita no período da noite, período em que as aeronaves não operavam.


Frota A320 (TAM)

João Vermini Filho lembra que sua empresa tem uma atuação bem ampla no mercado. “Somos especializados em Engenharia e Certificação (desenvolvimento de projetos e modificações de aeronaves). Somos, com orgulho, a empresa com mais projetos aprovados pena ANAC, sendo referência no mercado nacional, bem como já fizemos diversas aprovações de projetos no FAA (Estados Unidos) e EASA (Europa).”

Mas não é só isso: os Serviços de Instalação de Sistemas e modificações de aeronaves, como no caso da Total, abrangem  aeronaves de pequeno, médio e grande portes, civis ou militares, aviões e helicópteros e agora também em VANTs (veículos aéreos não tripulados). Já a Oficina de Reparo de Sistemas Aviônicos da Avionics Services conta com laboratório aprovado pela ANAC e EASA para reparo de equipamentos aviônicos/eletrônicos embarcados. A empresa também atua no desenvolvimento e fabricação de produtos para aeronaves, onde conta com mais de 80 componentes que são instalados em aviões na produção da Embraer e Airbus, bem como para utilização em modificações e retrofits. E, ainda, a Avionics Services fabrica, vende e também opera VANTs (Veículos Aéreos não Tripulados) de diversos tamanhos para diversos tipos de aplicações.

Como destaca o engenheiro Laurence, “o êxito deste projeto foi potencializado em virtude da sinergia entre Avionics Services e Total, além da simbiose entre os setores internos da empresa, ou seja, manutenção e operação.  Além disto, o quesito treinamento foi bastante enfatizado e praticado na nossa empresa.”

“Buscamos sempre ter uma relação de amizade e confiança com nossos clientes, sempre prezando pela qualidade e rapidez” enfatiza João Vermini Filho. “Neste projeto não foi diferente, a Total é um cliente muito especial e sempre mantivemos um relacionamento muito próximo. Além disso, o que ajudou muito no sucesso deste projeto foi o total empenho e comprometimento da equipe da empresa aérea em nos fornecer toda a informação e suporte necessários, tanto durante a fase de desenvolvimento quanto na fase de instalação e testes”, finaliza o diretor de marketing e vendas.

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