segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

SPEECH

 

 SOBRE

COMUNICAÇÃO CLARA,

EDUCAÇÃO MIDIÁTICA

E ESCALA DE VALORES


(foto: reprodução da internet)

(por Solange Galante)

Terminada a primeira semana de 2024, o que lhe chamou a atenção? Vários e estranhos acidentes e incidentes aéreos no Brasil e no exterior. Um helicóptero desaparecido, outro que mergulhou no lago em Minas Gerais, até um acidente com um helicóptero de pulverização agrícola no Maranhão. Já no segmento de aeronaves de asa fixa, além do gravíssimo acidente em Tóquio, a morte de um ator alemão com suas filhas em um avião pequeno e até um acidente fatal com um planador de Bauru, no qual faleceu um advogado especializado em direito aeronáutico.

Vou começar pelo incidente com um Boeing 737 MAX 9 da Alaska Airlines. Assisti e até gravei várias notícias a respeito, de várias emissoras de TV. Falaram de tudo: porta que saiu voando, buraco que se abriu na fuselagem – "buraco" é uma explicação muito vaga – ou janela estourada. E das emissoras em que assisti a essa notícia a melhor explicação, mais clara, mais completa, sem sensacionalismo foi justamente da tão aclamada nas redes sociais "Globolixo", com o Jornal Nacional de 6 de janeiro. Parabéns ao jornalista Jorge Pontual que, diretamente de sua base em Nova York, explicou direitinho: "O modelo 737 MAX 9 tem uma porta de emergência adicional que não é utilizada pela Alaska Airlines. Um painel é colocado para tampar a porta. Foi essa peça da fuselagem que se desprendeu e deixou o avião com um buraco aberto."

Nada mais simples, direto e correto.

(foto: reprodução da internet)


Uma empresa de comunicação, seja de TV aberta, TV por assinatura, mídia escrita, internet etc não tem obrigação alguma de dar aula a seus jornalista quando vão cobrir assuntos muito específicos, como aviação, que é um segmento muito técnico do conhecimento humano. Mas cabe especialmente ao próprio jornalista se aperfeiçoar, pesquisar, fugir do erro e, principalmente, ter e saber escolher as melhores fontes para entrevistar e pesquisar. Com absoluta certeza Jorge Pontual usou as fontes de maior credibilidade que conseguiu.

Pude fazer essa análise porque tenho educação midiática, o que falta em especial a quem acha que só deve se informar por redes sociais, não por jornalismo tradicional, que é o que checa, confere e avalia antes de publicar – e, mesmo assim, comete erros (imagine então as redes sociais, que não costumam checar nem conferir nada) – e procurei a mesma notícia – o incidente com o 737 MAX 9 – em pelo menos três emissoras de TV diferentes. A educação midiática ajuda o telespectador, leitor, ouvinte, internauta a formar uma opinião particular e exclusiva, sem seguir (ou "engolir") UM único ponto de vista.

Mas, eu soube também, a própria TV Globo errou em outro caso (provavelmente com outro ou outra jornalista) no Jornal da Globo, nesta semana (conforme comentaram comigo, não assisti) ao chamar o Dash-8 da Guarda Costeira do Japão, um turboélice, de "jatinho", mesmo vício de quem chama todo avião grande de Boeing – acreditem, ao menos alguns sites portugueses que acessei chamaram o A350 da JAL de Boeing! – portanto, avião pequeno será (quase sempre) "jatinho".

Falando nesse caso ocorrido no Japão, poucas horas após o sinistro também a rádio CBN acertou ao entrevistar o engenheiro e piloto Jorge Leal, que deu uma entrevista mesmo sem saber ainda de muitos detalhes sobre o acidente, porém, mais uma vez, ainda assim, ele se mostrou corretíssimo em seus comentários.

Ainda sobre o acidente japonês: claramente houve falhas na comunicação entre Torre e aeronaves. assim como ocorreu no sempre lembrado desastre de Tenerife com dois Jumbos (Pan Am e KLM), só para citar um caso, entre vários anteriores e posteriores de incursão em pista, ou seja, dois corpos, no caso, aeronaves, ocupando o mesmo espaço ao mesmo tempo, o que nunca dá bom resultado. Como dizia o saudoso comunicador Chacrinha, "quem não se comunica se trumbica". Podemos ir mais além: "Quem não se comunica de maneira CLARA, vai SEMPRE se trumbicar".

E aproveito o gancho para chegar aos comentários sobre escalas de valores. A evacuação do A350 da JAL deu certo principalmente pela disciplina dos passageiros, sendo que a maioria deles era composta por japoneses. Esse simpático povo tem um senso de coletividade enorme, como já vimos até na Copa do Mundo no Brasil, onde recolheram seu próprio lixo após cada partida, replicando o que fazem em seu próprio país – e é muito mais importante quando se está na casa dos outros, não é mesmo?

Mas a escala de valores é principalmente uma questão pessoal. Se determinado passageiro der mais valor à sua bagagem do que à própria vida, mesmo que não perceba isso, não adianta o comissário ficar gritando lá na frente ou mesmo perto do tal passageiro para abandonar a mala. Os comissários precisam sempre agir exatamente como aqueles agiram mas sempre haverá o risco de não serem atendidos por alguma ou algumas pessoas justamente por causa disso. A escala de valores individual de uma pessoa é colocada à prova o tempo todo, e estamos acostumados a saber de pessoas que foram assaltadas e perderam a vida por tentar preservar seus bens diante de um assaltante armado.  Para algumas pessoas durante uma viagem, certamente será uma decisão muito difícil abandonar o presente tão desejado que está na sua mala, os bens que conseguiu com tanto sacrifício etc. Porém, basta lembrar de reportagens de grandes catástrofes, onde famílias perdem a casa inteira e todos os bens lá dentro em incêndios, enchentes, desmoronamentos. Os jornalistas acabam sempre fazendo questão de pegar o depoimento de quem dirá espontaneamente "O importante é que eu e minha família sobrevivemos, estamos bem, e o resto a gente começa de novo a reconstruir." Pode reparar: sempre haverá quem diga isso. Óbvio que com um aperto no coração diante das perdas materiais, mas resultado de uma sólida escala de valores construída por conta de muita educação e conhecimentos da vida.

Por isso, até mesmo a disciplina de seguir as importantes ordens de uma tripulação treinada no caso de um acidente aéreo tem que partir da educação, não raras vezes, desde a primeira infância. Evitar o racismo, a xenofobia, a homofobia também fazem parte de uma sólida escala de valores onde a VIDA será o mais importante na hora em que nada poderá substituí-la.

Tudo interligado, podem observar: COMUNICAÇÃO CLARA na aviação, na mídia, na educação. EDUCAÇÃO MIDIÁTICA para saber onde há credibilidade e responsabilidade e chegar a suas próprias conclusões, após analisar vários pontos de vista, e ter uma ESCALA DE VALORES que, diante de situações extremas clareie sua mente e até mesmo salve sua vida. Mesmo que tiver que abandonar sua mala seguindo ordens de desconhecidos.

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