Em junho de 1981 eu
era apenas uma adolescente ávida por conhecer mais e mais sobre os aviões.
Palavras como “manche”, “flapes”, “spoilers” e o trabalho dos pilotos e
engenheiros de voo, bem como se processava um voo, desde antes do embarque dos
passageiros até seu desembarque no destino, me fascinavam enormemente. Se,
décadas depois, os jovens exercitavam o que aprendiam sobre aviação nos “flight
simulators” domésticos, não era, na década de 1980, o meu caso, e nunca o foi,
e o mesmo se deu com o hobby do plastimodelismo. Eu
extravasava minha paixão sobre aviação, simplesmente, escrevendo, o que me era
bem natural, já que, desde que me conheço como ser humano alfabetizado, nunca
parei de escrever, seja o que fosse e sobre o que fosse: contos, crônicas,
poesias, romances. Antes de ser infectada pelo vírus da aviação, eram outros os
assuntos, mas a aviação passou a ser a prioridade após a “infecção”.
Extravasando e
escrevendo, criei uma história inspirada especialmente em duas personagens
reais: Márcia Aliberti Mammana, acrobata que “roubava” a cena nas reportagens
de TV e nos shows aéreos. Outra pessoa que ganhava a mídia era Lucy Lúpia
Balthazar, que reivindicava o título de primeira Piloto de Linha Aérea
Brasileira. E acabava sendo assim que eu “voava” e registrava como eu via e
como eu conhecia a aviação, sempre usando das cores de minha própria
experiência de apaixonadíssima pelos aviões, mesmo sem nunca ter, até então,
voado.
Nasceu, assim, uma
personagem chamada Sônia Maria Munhez, a “Cmte. Sô”, supostamente a primeira
PLA do Brasil, fã de acrobacia e cujo amor à aviação superava tudo. Mas tudo,
mesmo.
Enquanto isso, a vida
da autora a afastou um pouco da aviação durante longos nove anos e os originais
datilografados de “A Ás” ficaram literalmente no fundo de uma gaveta.
Em 1995, com uma nova
“infecção” do aerococus, abri a gaveta, deixei os olhos e os dedos correrem
pelas folhas “escritas à máquina” e pensei: “Eu escrevi isto? Pois é hora de
reescrever!” Pois a cabeça já não era mais de adolescente.
Contando com a ajuda
de pilotos, engenheiros de voos, controladores de tráfego aéreo, até mesmo um
professor de tupi-guarani e dezenas de horas enfiada em uma biblioteca –pois a
internet ainda não era acessível a todos – “A Ás” foi sendo reescrito, embora
sem perder sua essência original. Eu também já passara a conhecer muitas outras
mulheres pilotos da aviação comercial, que também acabaram me
inspirando nos novos capítulos.
Mas escrever era a
parte mais fácil. Difícil seria publicá-lo.
A oportunidade surgiu
em 2016 ao conhecer melhor como se fazia a modalidade hoje conhecida como livro
por demanda, e, um a um, alguns exemplares foram sendo impressos e vendidos
dessa forma.
Nesta história, a
interação entre dois amigos pilotos – os protagonistas Sônia e Mário – é,
naturalmente, o grande destaque, mas os capítulos são quase contos
independentes destacando, entre outros temas, o medo de voar, a aviação
acrobática, a aviação geral, e o sonho das crianças – tanto meninos
quanto meninas – em ser pilotos.
O capítulo com que
presenteio os leitores do Blog não traz nenhum “spoiler” para os leitores do
romance e está, como outros capítulos com voos, entre meus prediletos. Convém
que se observe que a “cronologia” original da obra foi mantida, iniciando-se a
partir de cerca de 1978 até avançar por mais 25 anos depois – por isso, a
palavra “celular” só aparece uma única vez, e bem próximo do fim do texto, por
exemplo. Muitos dos capítulos foram baseados em situações reais, algumas
vividas por mim mesma, outras, tendo vindo ao meu conhecimento, como situações
de preconceito. De resto, nada que Hollywood não pudesse imaginar, inclusive
atos de puro heroísmo!
A "livery" (imagem visual) da
companhia fictícia Manche Negro da ilustração foi criada a partir de um
concurso deste mesmo Blog, que presenteou o autor da mesma com alguns suvenires
de aviação. Infelizmente, esse autor, posteriormente, quis devolver os brindes
e pediu meu endereço para tal (recusei fornecê-lo e recusei a devolução)
simplesmente porque me encontrou numa rede social e identificou minha posição
política como oposta a dele. Desde então, não quis mais falar comigo, mas faço
jus à identificação de sua criação, nessa ilustração de outro artista, o que inseriu a “livery”
nas imagens de voo simulado. A ambos, meu agradecimento por dar vida a esta
companhia aérea
.
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