VITO ALEXANDRE CEDRINI
(Todas as fotos: autoria do próprio Vito Cedrini
ou coleção pessoal – quando ele aparece na imagem)
Dificilmente algum spotter ou entusiasta de
aviação brasileiro nunca ouviu falar de Vito Cedrini, ou viu suas fotos em
publicações. Há muitas décadas esse verdadeiro gentleman, querido
por todos, se dedica a registrar, especialmente no Rio de Janeiro, onde mora, o
dia-a-dia da aviação comercial, desde aeronaves dos voos rotineiros até
fretamentos de grandes celebridades. Conversei com esse mestre, com quem
aprendemos muito mais do que apenas registrar a história da aviação.
VIDA
PESSOAL E TRABALHO NA AVIAÇÃO
-Vito
Alexandre Cedrini, você é natural de qual cidade? Seus pais eram italianos?
VC:
Sou natural do Rio de
Janeiro, nascido em 28 de janeiro de 1950. Meu pai era italiano, natural de
Veneza, e minha mãe, brasileira descendente de ingleses, nasceu em Petrópolis (RJ)
(Vito Cedrini no colo do pai)
-Como
começou sua relação com a aviação e onde?
VC: Comecei a gostar de avião quando meu pai foi trabalhar na Real
Aerovias em Congonhas, em 1960. Eu e minha mãe ficamos no Rio por uns tempos, com ele indo e
vindo todo final de semana e depois, se bem me lembro, mudamos para São Paulo
em setembro de 1960 e lá moramos até 1966, quando voltamos para o Rio. Meu pai
trabalhou muito pouco tempo na Real, era instrutor do serviço de bordo, mas não
era o ramo dele, ele era de Hotelaria. Saiu da Real, antes da compra pela
Varig, mas lá ficamos morando.
(Registro de Caravelle da Cruzeiro na curtíssima final para Congonhas)
Antes dessa mudança, eu
morava no Rio, estava no 4º ano primário e conheci na minha sala um menino
chamado Rui (não lembro o sobrenome) cujo pai era comandante da Cruzeiro e
morava perto da minha casa. Passei a conversar com ele sobre aviões e aprendi
que escrevendo para as empresas aéreas e fábricas de aeronaves, elas enviavam
cartões postais, fotos, time-tables etc. A primeira foto que recebi, e tenho
até hoje, foi a de um Electra da Eastern Air Lines.
-
Você tentou ser piloto, como a maioria dos entusiastas já sonhou?
VC:
Sim, pensei, mas nunca
tive “cacife” para pagar um Aeroclube, e, morando em São Paulo perto de Congonhas,
era distante do Aeroclube de São Paulo.
-Como
e onde você começou a trabalhar com aviação? Cite cronologicamente para quais
empresas trabalhou e em quais aeroportos.
VC:
Comecei na Alitalia –
Linee Aeree Italiane S.p.A. (não era a de hoje) em primeiro de setembro de 1971
como “Auxiliar de Tráfego” para trabalhar no Check-in no (antigo) Galeão. Quando
aconteceu o famoso setembro de 2001, logo em seguida a AZ (Alitalia) parou de
voar para Rio (em outubro de 2001).
Passei, em janeiro de 2002, a trabalhar na Sata – Serviços Auxiliares de
Transportes Aéreos como Sub-Gerente e, logo após, fui promovido a Gerente
Operacional. Em 2008, dada a situação da empresa, saí, e em 2009 fui trabalhar
na VitSolo, que estava abrindo a Base do Galeão para atender a American Airlines,como
Gerente de Aeroporto, promovido depois a Gerente Regional, ocupando-me de
Cuiabá, Londrina e Ilhéus e, depois, quando foi aberta, da base do Aeroporto
Santos Dumont. Posteriormente, fui para a BenLOg como Gerente Comercial (mas
atendia as aeronaves na operação) e, depois, para a RM Serviços Auxiliares de
Transportes Aéreos quando da abertura da Base do Galeão, que depois passou a
ser a Dnata. De lá, fui para a empresa atual, World Service Brasil, como
Supervisor Operacional, onde estou até hoje.
(Alguns registros trabalhando para a Alitalia no Aeroporto do Galeão)
-Como
era trabalhar para uma companhia de bandeira como a Alitalia?
VC:
Trabalhei na Alitalia
por 30 anos e 4 meses (!) e só saí porque a Base Rio fechou em 2001. Era uma
excelente empresa, salário muito bom, muitos cursos de treinamento efetuados,
todos na Itália. Trabalhei inicialmente com o Douglas DC-8-62, depois, com o
DC-10-30, Boeing. 747, Boeing 767 e, por fim, com o MD-11. Sempre brinco que lá
só não varri nem encerei o chão, trabalhei em todos os setores no Aeroporto!
(Leito Papal, a bordo do MD-11 da Alitalia
que transportou o pontícife ao Brasil)
que transportou o pontícife ao Brasil)
-Como
era a aviação naquela época em que vc começou e suas primeiras décadas, o que
mais o surpreendia? Por exemplo: a variedade de equipamentos/fabricantes, a era
dos trijatos e quadrijatos de todos os tamanhos reinando nos aeroportos etc?
VC:
Quando comecei só
tínhamos os jatos “narrow-bodies”. Ainda tínhamos turbo-hélices e umas poucas
aeronaves a pistão. Era uma época fantástica, pois a variedade de empresas era
grande, bem como a variedade de equipamentos por elas empregados.
Assisti à chegada dos “wide-bodies”, em
1974, com os Boeing 747, McDonnell Douglas DC-10-30 e Lockheed L-1011 TriStar,
e também a chegada do Concorde.
-Que
fatos marcantes você gostaria de destacar de seu trabalho no Aeroporto
Internacional do Rio de Janeiro, por exemplo, o atendimento aeroportuário a
celebridades? Poderia destacar o que mais o marcou?
VC:
Na Alitalia, o que mais
marcou foram as visitas dos Papas, sem dúvida. Já no “handling”, efetuei a
atendimento a princesas, primeiros-ministros, presidentes etc. Talvez o mais
marcante foi o atendimento no Galeão à Japan Defence Force, que veio ao Rio com
o Príncipe Herdeiro do Japão, com dois Boeing 747, e eu era o responsável por
toda a Operação!Assisti à chegada dos “wide-bodies”, em 1974, com os Boeing 747, McDonnell Douglas DC-10-30 e Lockheed L-1011 TriStar, e também a chegada do Concorde.
-Você
tem filhos seguindo seu caminho na aviação, em qualquer atividade?
VC:
Tenho um filho, advogado.
Quando pequeno, meu sonho era que ele fosse piloto e, no início, ele até
gostava da ideia, mas depois desistiu. Mas, mais vale um bom advogado do que um
mau piloto...
SPOTTER E HISTORIADOR
-Como
surgiu a vontade de se dedicar a fotografar a aviação comercial? Apenas pela
oportunidade de trabalhar em um aeroporto?
VC:
Comecei a fotografar em
Congonhas por volta de 1964/1965 junto com um amigo do Ginásio que era irmão de
uma pessoa que trabalhava na Vasp e depois foi comandante da Varig. Nessa época,
entrava-se no pátio com uma certa facilidade, especialmente na área dos hangares.
Comecei a anotar as matrículas das aeronaves que via e as que fotografava e fui
formando uma “fleet list”, na época não sabia que era esse o nome que se dava.
-Você tem filhos seguindo seu caminho na aviação,
-Com
que câmera vc começou a fazer esses registros?
VC:
A primeira câmera que
usei foi uma Agfa do meu pai, que fornecia somente negativos 6 x 9 (só oito
fotos). Posteriormente, já no Rio, meu pai me deu de presente uma Yashica D que
fornecia 12 negativos 6 x 6. Era difícil o hobby, o material fotográfico era
muito caro, as fotos eram feitas “no chute” (nunca consegui comprar um
fotômetro) deixava a lente em “infinito” e a abertura do diafragma e a
velocidade fui aprendendo “na marra”. Muitas fotos perdi, por super exposição
ou sub exposição, ou “cortando narizes e caudas” ou, na ânsia de fotografar, esquecendo
de “girar” o filme e sobrepondo imagens. Só passei a fotografar melhor quando
já trabalhando, comprei a minha primeira ASAHI Pentax e depois uma ASAHI Pentax
SPII e lentes 25, 135 e 200 mm.
(Alguns registros da aviação comercial brasileira)
-
Muita gente se surpreende com a qualidade de suas fotos quando esse hobby ainda
não era tão popular. Você realmente procurou investir em equipamentos? Qual
câmera usava quando começou a fazer fotos em cores e qual filme ou cromo
utilizava no início?
VC:
No início P&B e
cores (muito raramente, custo alto) Depois, com a Canon com filme 35mm, slides
(cromos) e ainda cores e P&B pois tinha três câmeras (um bom peso para
carregar) Depois comprei uma Canon EOS e me rendi à fotografia digital.
(Alguns registros da aviação comercial internacional)
-Que
equipamento fotográfico utiliza hoje?
VC:
Nada especial, uma
Canon Rebel T3 e as respectivas lentes e uma Lumix “de bolso” para situações
“especiais”
-Hoje
é mais fácil ou difícil fotografar em um aeroporto no Brasil? Por quê?
VC:
Fotografar aviões
sempre foi uma dificuldade, o “hobby” no Brasil, era desconhecido. Os
“spotters”, não éramos chamados assim, eram taxados de “loucos”, “espiões
altamente suspeitos” ou simplesmente “malucos”, e éramos muito poucos. Escapei de ser detido e preso, por diversas
vezes e tive que explicar os “porquês”, era difícil. Mesmo quando comecei a
trabalhar no aeroporto não era muito fácil. Depois, como fiquei trabalhando
muitos anos no mesmo aeroporto, já era conhecido como “o maluco da Alitalia”
que fotografava tudo e, posteriormente, até os fiscais de pátio, sejam do DAC,
ARSA, Infraero e Rio Galeão passaram até a me ajudar e informar quando havia
algo diferente no pátio. Passaram a existir os “Spotter’s Days”. Em resumo,
tudo ficou bem mais fácil e, hoje, somos muitos.
(Registro no Galeão antigo)
(Cedrini, assíduo em muitos eventos de entusiastas e spotters.
Foto: Carlos Eduardo França)
Foto: Carlos Eduardo França)
(Incrível flagrante em Jcarepaguá-RJ)
-Qual
seu avião predileto, sua companhia aérea brasileira predileta, e sua companhia
estrangeira, idem, até hoje?
VC:
Avião a pistão, o Super
Constellation; a jato, o Convair 990A; wide-body, o Boeing 747; Empresas aéreas
estrangeiras, logicamente, os meus “xodós” eram a Alitalia e a Aerolineas
Argentinas, com a qual já trabalhei em três empresas de Handling; Empresas nacionais
a Azul e, no passado, a Varig.
(Uma das empresas mais queridas, a Aerolineas Argentinas)
-Em
quais aeroportos do exterior você também registrou a aviação?
VC:
Miami, Fort Lauderdale,
Opa Locka, Bogotá, Guatemala City, Atenas, Istambul, Munich, Furstenfeldbruck (Base
Aérea). Na Inglaterra, Heatrow, Stansted, Southend, Farnborough. Na Itália
incrivelmente em nenhum, tenho umas poucas fotos feitas em Roma-Fiumicino,
Amsterdam-Schiphol, são os que mais me marcaram. Uma grande frustração, não ter
fotografado em Hong Kong – Kai Tak quando lá estive.
-Em
quais publicações você colaborou com suas fotos, no Brasil e no exterior?
VC:
No Brasil, acho que com
quase todas as revistas de aviação que existem ou já existiram. No exterior,
com Air Pictorial, Air Britain, JP4 (Itália), Aviation Letter e outras menos
conhecidas, e com algumas, só com uma ou duas fotos quando me solicitaram. E
existem diversos livros com fotos minhas, seja no Brasil que no exterior.
(Vários olhares da aviação)
-Como
acontece com os hoje apelidados “spotters-raiz” você tem uma forte preocupação
em registrar as aeronaves no contexto histórico, inclusive, fotografa detalhes
de pintura, de motores e chama a atenção para toda curiosidade enquadrada em
suas imagens. Você acha que essa preocupação está se perdendo nas novas
gerações de “spotters”? Por quê?
VC:
Não tenho nada contra
os “novos spotters” mas vejo que a preocupação principal é fotografar e
publicar em “sites” tipo Airliners, JetPhotos e etc.
(Galeão, 15 de novembro de 1973, 1º voo ao Brasil com o DC-8-62
N1805 da Braniff International pintado pelo artista Norte Americano Alexander
Calder)
-Que
recado você gostaria de dar a entusiastas e fotógrafos de aviação das
novíssimas gerações?
VC:
Bem, eles não têm ideia
de quanto foi difícil chegar até aqui. Não havia publicações especializadas,
revistas eram caras. Material fotográfico tinha custo altíssimo: você comprava
um filme de 36 posses e levava uma eternidade para fotografar, acabar com o filme
e revelar. Ninguém tinha como fazer 30 fotos do mesmo avião, apagar 29 e
aproveitar uma. Fazia-se uma ou no máximo duas fotos de uma só aeronave. Havia
o custo do filme, da revelação e das cópias.
Como recomendação, diria a aqueles que
realmente gostam de aeronaves que se aprofundem em saber mais sobre elas,
quando foram fabricadas, quem é o fabricante, qual é a empresa aérea que você
fotografou, a qual país pertence. Acho que o hobby te ajuda a aprimorar
conhecimentos de geografia, termos técnicos, países etc. Além do mais, é uma
oportunidade de criarmos amizades, compartilharmos experiências e vivências,
dicas de fotografia, fazer amigos até no exterior. O mais importante, diria que
é compartilhar, não “esconder” como um grande segredo que a empresa tal irá
operar o voo X no aeroporto Y, “mas eu não vou avisar a ninguém, assim só eu
terei a foto, isso para mim”: além de um grande egoísmo, é bobeira. E,
especialmente, não “sujar a área” para os outros, evitar conflitos com as
autoridades aeroportuárias, que irão prejudicar outros entusiastas. Como por
exemplo, o que foi feito no Santos Dumont, que “matou” um dos mais belos
lugares do Brasil e, quem sabe, do mundo, onde podia-se fazer fotos de pousos e
decolagens, espaço perdido graças à irresponsabilidade de alguns “ditos spotters”.
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Nunca é demais lembrar: respeite o direito autoral das fotos e textos deste Blog!!!
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Muito bacana Solange!
ResponderExcluirSempre vejo o Vito Cedrini no Galeão, onde tenho a oportunidade
de cumprimentá-lo. Com certeza ele é um grande entusiasta da aviação.
Forte abraço!
Lauro Pinheiro
Controle de Tráfego Aéreo
Muito bacana Solange!
ResponderExcluirSempre vejo o Vito Cedrini no Galeão, onde tenho a oportunidade
de cumprimentá-lo. Com certeza ele é um grande entusiasta da aviação.
Forte abraço!
Lauro Pinheiro
Controle de Tráfego Aéreo