MAIS UM AMIGO SE VAI...
MAIS UMA VEZ A AVIAÇÃO PERDE UM DE SEUS MAIS NOTÁVEIS HISTORIADORES...
(Por Solange Galante)
(Foto: coleção Solange Galante)
Com certeza, todos concordarão comigo que a vida é muito ingrata, ao nos privar, em pouco tempo, de tantos amigos e irmãos de Aviação, alguns deles, verdadeiras enciclopédias vivas
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Desta vez, perdi, e perdemos, o grande Mário Vinagre.
Não lembro se conheci pessoalmente o Mário em algum evento de aviação, nas salas da Revista Flap ou na entrega do Prêmio Santos Dumont de Jornalismo. Pouco importa. O importante é lembrar como fui fisgada por sua simpatia, conhecimento, bom humor e experiência como fotógrafo e redator.
Nos eventos, especialmente os realizados na Embraer, em São José dos Campos – onde, aliás, ele já trabalhara, principalmente antes dela ser privatizada – lá estava ele com aquela bolsa repleta de lentes, a câmera em punho, o barulho inconfundível do foco e das fotos sequenciais. Por ter sido funcionário da fabricante brasileira, ele era conhecido e conhecia a maioria dos diretores do momento. Ir à sede da Embraer automaticamente já nos colocava à procura do Mário!
Dos tempos de Embraer, infelizmente, ele também se lembrava do quanto se perdeu de material fotográfico histórico da empresa durante a transição após o leilão de privatização.
Por justamente morar em São José dos Campos, o que lhe permitia participar de 99% das cerimônias na Embraer, ele ia pouco a São Paulo, e esse foi um dos motivos pelos quais ele deixou de colaborar com a revista Flap, onde o exigente Carlos Spagat sempre fazia questão de ter reuniões ao vivo com seus colaboradores.
Marcante mesmo foram nossas viagens do Prêmio Santos Dumont. Mário é, até hoje, o segundo mais premiado jornalista do Prêmio, que foi extinto há cerca de 7 anos e teve quase 20 edições – corrija-me, Artur Moura, organizador e alma do Prêmio, caso eu tenha errado nas contas!
Visitar museus como o da Boeing em Seattle e outros em companhia de Mário Vinagre era ter de graça uma baita aula de aviação civil e militar! Ele não contava apenas a história das aeronaves expostas mas, principalmente, suas curiosidades, inclusive com o nome dos personagens das mesmas, e era uma delícia ouvi-las em sua companhia! Não raras vezes éramos os únicos a embarcar em Guarulhos, quando o resto do Grupo – vencedores e acompanhantes – embarcavam no Galeão. Quase todos os anos, lá estávamos na cerimônia e na maioria das viagens, figuras carimbadas e tarimbadas que passamos a ser.
Esse nordestino de riso fácil me explicou, um dia, que o queijo de coalho era mesmo aquele que não derrete, por isso que serve para se comer deliciosamente assado, e até hoje eu fico atenta a isso na hora de comprar os bons queijos nordestinos!
Em certo momento, eu devia uma visita à sua casa e sua imensa coleção e, quando fui sozinha fazer uma entrevista na Embraer, avisei-o e ele me pegou de carro e me levou a uma restaurante árabe muito bom em São José, antes de irmos à casa. E lá fui conhecer sua coleção, imensa, aliás, repleta de modelos de plastimodelismo, a maioria deles ainda não montados, e centenas de livros sobre os mais diversos assuntos, aviação, é claro, em sua maioria, cuidadosamente preservados atrás de vidros em grandes estantes. Foi uma visita de trazer orgulho e aquela pontinha de inveja que não faz mal a ninguém quando somos amigos.
Dono de uma editora, ele publicou alguns livros que traziam à memória grandes nomes da indústria aeroespacial brasileira com quem ele mesmo já convivera. Foi o caso daquele que creio ter sido seu derradeiro livro, o "Guido Pessotti – Mestre do Design Aeronáutico".
Pelo que me lembro, eu o vi pela última vez na apresentação, para a imprensa, do Embraer 195 E-2 em São José dos Campos, em setembro do ano passado. Depois, falamo-nos pelo Messenger, ele me ajudou com material para formatar o curso que eu criei e devo começar a lecionar em breve.
Uma de minhas fotos prediletas com o grande "Vinagrete" como eu o chamava, foi a de abertura desta homenagem, lá na Embraer, e em companhia da Rosana Dias, então assessora de imprensa da fabricante.
Saudades eternas, Mestre! A cultura aeronáutica está se transferindo para o Céu, Mário B. de M. Vinagre faz parte dessa revoada!
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