A PRESSA, O FURO, A FAKE NEWS E A INFLUÊNCIA NOCIVA
Já me perguntaram porque não atualizo diariamente o meu Blog. Também já me perguntaram porque meu canal no Youtube só tem um vídeo por semana.
Posso tranquilamente responder que é porque conheço meus limites e dou preferência à qualidade do que à quantidade, inclusive por encaixe no tempo que tenho disponível para produzir meus canais.
Canais atualizados constantemente geralmente possuem uma equipe de pelo menos duas pessoas.
Como falo constantemente nos meus vídeos, sou uma "EUquipe". O que significa que eu aprendi a fazer sozinha, criei nome, leiaute, formato, contagem regressiva, diferenciais, como mudança semanal de imagem de fundo etc, tudo sozinha.
A ideia de fazer quizes e dar presentes, prêmios no canal foi minha.
Quiçá um dia eu tenha alguém para me ajudar, tudo ficará mais fácil, com absoluta certeza, mas já estou tranquila com o que eu consigo fazer até agora. No começo, confesso, deu o maior estresse...
Quem acompanha meu Canal dá feedback, gosta, e as visualizações crescem devagarinho mas crescem, sem recuos. Quem assiste não se alimenta do conteúdo na pressa de quem devora pipocas no cinema, sem saborear de verdade.
Talvez eu esteja tranquila por não viver ($$$) do Canal ou mesmo do Blog. Sorte do público: meus erros eventuais não serão cobrados como se cobraria de um fornecedor de serviços profissional, que cobra para prestar esse serviço, direta ou indiretamente.
Assim como a câmera digital e o celular fizeram com que todo mundo passasse a se considerar "fotógrafo", especialmente no fornecimento de flagrantes em foto e vídeo para veículos tradicionais do jornalismo, o Youtube, fazendo juz ao seu nome ("Você como um Tubo" – tubo de TV mesmo) levou milhões de pessoas a criar conteúdo em forma de aulas, palestras, noticiários, espetáculos. E surgiram junto milhões de "especialistas", desde para curar unha encravada e fazer nó de porco até tirar qualquer dúvida para os vestibulares e empreender com a tecnologia 5G.
A liberdade de expressão é direito garantido na nossa Constituição e em outras constituições mundo afora. Mas a RESPONSABILIDADE do que se diz é tão grande quanto a de grandes jornais e redes de TV, passando pelos artigos científicos de grandes universidades, especialmente se considerando que hoje praticamente ninguém mais vai a uma biblioteca, hemeroteca ou contrata uma aula com um mega PHD em física quântica, um professor de latim de terceira geração ou um oceanógrafo famoso para tirar suas dúvidas, usar como fonte de um trabalho acadêmico ou, simplesmente, formar uma opinião sólida sobre qualquer assunto – hoje se vai ao Youtube.
Engana-se quem acha que Fake News só circulam entre grupos de família no Whatsapp. Engana-se ainda mais quem é rápido, muito rápido – e assim quer sê-lo –, num ambiente onde "furos" de reportagem ou a descoberta de um fato realmente inédito podem ser divulgados em questão de segundos, e acredita POR ENAGANO que não tem responsabilidade pelo que fala, escreve, divulga na velocidade da Web, seja em que plataforma for.
A criação de uma Fake News nas redes sociais matou uma mulher inocente no Guarujá em 2014, o que foi tão grave quanto a destruição de uma escola infantil e seus responsáveis, todos inocentes, dez anos antes, também por Fake News, no caso promovida por órgãos oficiais de jornalismo.
Atualmente, eu não vejo fronteiras muito nítidas entre jornalismo tradicional e alguns canais no Youtube, especialmente quando estes se propõem a noticiar de maneira séria e objetiva – é o que pensam ser sério e objetivo – um encadeamento histórico, cronológico, com opiniões e fontes diversas, arrematando com conclusões no final para que sua audiência esteja certa de que aquilo que aconteceu foi exatamente da maneira que lhe foi passada pelo canal. Gostamos do que nos satisfaz, seja um bom churrasco, um sorvete saboroso, um filme emocionante, ou das palavras da autoridade que nos convence que explicações teóricas – por exemplo, pesquisas que afirmam que o meio de transporte mais seguro do mundo é, depois do elevador, o avião – podem curar um transtorno psicológico profundo chamado medo de voar – sendo que, na verdade, cada caso é um caso – não fosse assim, o best seller dos anos 1980 "Não Faça Voo Cego" (Lenildo Tabosa Pessoa) já teria eliminado todos os medrosos daquela geração. Só que não.
Trocando em miúdos: há uma nova pandemia no ar, aliás, ela já estava presente entre nós, sendo, por isso, já difícil de nos livrarmos dela, pois não há vacinas nem balas de prata: autoridades em quase tudo, menos em responsabilidade como comunicador.
Lá em cima eu escrevi "conheço meus limites e dou preferência à qualidade do que à quantidade".
Vamos considerar todos os comunicadores "jornalistas", para facilitar. Como atualmente nem é necessário diploma para exercer o ofício, muita gente se esquece que a responsabilidade é a mesma, como escrevi aí em cima, e que basta ter um microfone de lapela ou sobre uma bancada, uma filmadora ou celular gravando você, postura de Willian Bonner e informar e analisar fatos, para ter credibilidade.
Mas credibilidade não se conquista com cenário, se constrói ao longo do tempo.
Como isso leva tempo, a apuração, a confirmação e a correção, se necessário, é que sedimenta a credibilidade. Sem certeza, sem fundamentação, NADA deveria ser afirmado. Muito menos apenas em troca de "likes". E o perigo reside justamente aí: deu o "like" e gostou tanto que compartilhou em seguida. E isso se multiplica. Sabe a brincadeira do anel? A última pessoa vai falar uma frase completamente distorcida, diferente da correta, aquela do começo da brincadeira. E a realidade não é apenas engraçada e nada mais, como as conclusões da velha surda daquele programa humorístico.
A realidade é e pode ser séria demais!
Credibilidade se constrói ao longo do tempo, apuração e confirmação também levam tempo, às vezes horas, geralmente dias, mas também semanas, meses e anos. E a internet, a audiência e os "likes" não podem esperar! Então, vai qualquer coisa para o ar e se a mensagem foi entendida de maneira errada, "não foi culpa minha, como comunicador, e sim de quem entendeu errado..."
SQN.
O jornalismo "cadeia de produção" com divulgação de informação por atacado, para ser engolida sem análise, simplesmente porque o "doutor" disse que vai fazer bem para seu cérebro não cansa de produzir erros por falta de apuração, confirmação e, às vezes, de conhecimento.
Vou dar um exemplo concreto.
Para não tirar do contexto, vou publicar o link completo, e destacar onde se encontra o trecho em análise.
https://www.youtube.com/watch?v=smcL1VnntYw
Se quiser ir direto ao ponto, vá até 30min8seg, e ouça até 30min38seg, exatos 30 segundos, acompanhados de uma imagem que irei reproduzir aí embaixo.
A frase é exatamente essa:
“Você lembra do jornalista que estava a bordo do Legacy? Então, em dezembro de 2008 ele publicou um artigo na revista americana Vanity Fair com o título ‘The Devil at 37,000 feet’. Ou ‘O diabo a 37 mil pés de altitude’. O Joe Sharkey descreve o acidente desta maneira: “Quais são as chances? Foram tantas as chances do acidente não acontecer, tantas maneiras de quebrar a corrente de eventos que o levou a acontecer que parecia que o mal estava agindo.’”
Meu negrito não foi por acaso, é claro. Vamos analisar.
1) Foto de tela do canal Aviões e Músicas.
Observe que o autor da matéria não foi Joe Sharkey, que estava sim a bordo do Legacy naquele dia de setembro de 2006, mas William Langewiesche, que não estava envolvido com o caso, nem diretamente e nem indiretamente.
Conclusão: a matéria não foi escrita por ele*, ele nunca escreveu para aquela revista*, muito menos sobre o acidente do voo 1907, a matéria tem data de janeiro de 2009* – como saber se foi escrita um mês antes, dois, seis, ou um ano antes de ser publicada? Não sabemos – mas foi creditada erroneamente no canal, sabe-se lá com que intenção, ou apenas falta de apuração a partir de alguma sugestão para incluí-la no vídeo. De qualquer maneira, foram Fake News.
* apurei isso antes de escrever aqui.
Moral da história: Ninguém gosta, ou não deveria gostar, de receber informações erradas ou mesmo falsas de propósito. Todo dia o jornalismo sério fornece informações úteis para sua audiência, leitores, internautas, ouvintes: quando começa o calendário de liberação do FGTS, aumento no preço das passagens do transporte público, tendência do dólar, redução do preço da gasolina, acidente em determinada estrada, novo projeto de Lei que deu entrada no Congresso, o desenrolar das guerras que assolam o planeta. Todo dia você se alimenta de informações úteis, sejam elas agradáveis ou não, para seu dia-a-dia. Informações erradas destroem reputações, criam preconceito, deseducam, emburrecem e podem atingir dimensões inimagináveis. E, muitas vezes, os colecionadores de "likes" estão "nem aí". Até a hora em que lhes pesem no bolso, talvez.
A longínqua informação falsa de que manga e leite fazem mal impede, até hoje, que muitas pessoas apreciem uma deliciosa bebida.
Hoje em dia virou moda, ser o bam bam bam das notícias, em troca de likes, views e tapinhas nas costas e as vezes autógrafos.
ResponderExcluirJornalismo sério, com fonte séria, credibilidade nos dias de hoje virou um mero detalhe.
Depois, acabam caindo em vias judiciais por acreditar piamente em terceiros.
Parabéns Solange.
Obrigada. Acho que foi este o caso: acreditaram em terceiros, mas não será o terceiro quem vai dar a cara pra bater por conta de uma fake news. Abs
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