"Boas lembranças, apesar do luto"
No último dia 20
de novembro o jornalismo e também a aviação perderam Jorge Honório
Ferreira Neto. Ele foi repórter do jornal O Estado de S. Paulo mas eu o conheci
quando ele era chefe da assessoria de imprensa da Transbrasil Linhas Aéreas,
tão saudosa quanto ele.
Eu estava
preparando minha primeira reportagem profissional, "Mulheres na Cabina de
Comando", em 1995, para a revista Aero Magazine e precisava entrevistar
duas mulheres que eram copilotos na companhia aérea citada. Uma era Alena, a
outra, a Evelyne. No contato com a Transbrasil, quem me atendeu foi o Jorge
Honório que me colocou em contato com a copiloto Alena, de Boeing 737, que
entrevistei no Aeroporto de Guarulhos. Quanto à Evelyne, que era copiloto
internacional, voando o Boeing 767, maior equipamento da companhia, Jorge me
retornou perguntando se eu queria voar com ela num trecho doméstico,
acompanhando o voo lá da cabine de comando. Eu não só aceitei fazer dessa
forma, bastando nos coordenarmos pois eu ainda trabalhava em banco à tarde, para
coincidir com uma de minhas folgas em dia de semana (cinco vezes por ano eu
podia gozar dessas folgas). Marcamos, enfim, para mim e para o fotógrafo Carlos
Costa, essa viagem no dia 23 de novembro de 1995, uma quinta-feira.
Seria meu
primeiro jump-seat da vida e, ansiosa, fiquei vários dias sem
dormir direito... O voo sairia na madrugada do Aeroporto de Guarulhos para
Brasília. Carlos Costa e eu chegamos suficientemente cedo lá no D.O. da
empresa, já gravei entrevista com a Evelyne mas o avião estava atrasado por um
problema com uma carga em seu porão. Ele vinha de um voo pinga-pinga e, até
chegar a Guarulhos, nosso estimado de decolagem das 3 h da madrugada passaria
para às seis. Quase que os tripulantes regulamentaram, isto é, ultrapassariam
seu horário de disponibilidade, tendo de ser substituídos. Mas, no fim, deu
tudo certo e embarcamos com Evelyne e os demais tripulantes. O avião era o
famoso PT-TAC, Boeing 767 de asas verdes com o qual eu já havia voado 10
anos antes!
O combinado era
Carlos e eu desembarcarmos em Brasília e já sermos embarcados em um voo de
volta a São Paulo, após a missão concluída. Porém, tão logo chegamos à capital
federal, havia um recado para nós dois: era para nos dirigirmos à sede da
Transbrasil, lá no aeroporto mesmo, para nos encontramos com o Jorge Honório.
Lá, ele nos levou para conhecer as dependências da empresa, inclusive
fotografar à vontade o PT-TAA, o primeiro Boeing 767-200 da cia, que fazia
cheque C. Isso rendeu fotos maravilhosas! E regressamos depois para São Paulo
em um dos Boeing 737 da empresa.
No início de 1997 eu venceria, com a mesma matéria, e pela primeira vez o
Prêmio Santos Dumont de Jornalismo, que também era patrocinado pela
Transbrasil, e eu me reencontrei com o Jorge Honório no Rio de Janeiro, na
cerimônia de entrega no INCAER - Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica,
e, mais algumas semanas depois, o Jorge acompanharia o nosso grupo na viagem
aos Estados Unidos e Canadá.
Jorge era bem
falante e agitado, mantendo os óculos de grau na testa, quando não os estava
usando, e em vários restaurantes aonde o grupo foi almoçar ou jantar, mal
havíamos nos sentado à mesa com nossos anfitriões e... cadê o Jorge? Ele já
havia se levantado para ir não sei onde, explorar o local melhor ou atender ao
celular na calçada, ele simplesmente não parava no lugar!
Anos depois,
quando a Transbrasil modernizou sua pintura, a imprensa foi convidada a
participar daquele marco lá em Brasília novamente. A aeronave pintada estava
dentro do hangar, com a cauda colorida fora, e fotografávamos à vontade. Mas
minha atenção também foi atraída para as aeronaves que faziam manutenção no
hangar do lado e tinhas as janelas de inspeção das caudas retiradas. Como
sempre gostei também de fazer fotos de detalhes técnicos, sempre úteis para alguma
reportagens, me aproximei deles para clicar aquelas estruturas expostas. No
entanto, um segurança da Transbrasil me barrou. Não tive dúvida: fui pedir
permissão para o Jorge Honório, afinal, ele era diretor da companhia. Jorge,
então, me levou de volta onde estava o tal segurança, olhou firme para o rapaz
e disse: "Ela pode fotografar SIM!" e assim foi feito!
Eu sempre mantive contato com o Jorge, independentemente de haver algum
evento da Transbrasil para eu cobrir. E eu também tinha um amigo no Rio de
Janeiro, o Germano Bernsmüller – sobre o qual já falei muito por aqui – que
pelo menos uma vez por ano eu gostava de visitar. Ou mesmo para ir ao Musal e
me encontrar com o outro saudoso Coronel Braga, que então lá trabalhava, eu
recorria ao assessor da Transbrasil dizendo: "Jorge, preciso ir ao Rio em
tal dia..." Dentro da antecedência necessária, ele me fornecia sem
qualquer burocracia extra e sem qualquer taxa passagens para eu ir e voltar do
RJ. Calculo que pelo menos umas 10 viagens eu garanti dessa forma.
Mesmo quando deixou a Tansbrasil, que já fazia água, Jorge não conseguiu ficar muito tempo longe da capital federal. Convidado para ter um cargo administrativo muito importante na TAM Linhas Aéreas, ele durou, pelo que me lembro, poucas semanas, ou mesmo recusou de pronto, não lembro mais o resultado, mas porque teria que trocar Brasília por São Paulo, e recusou. Depois, foi trabalhar no SNEA, o Sindicato Nacional das Empresas Aéreas, mantendo-se em Brasília.
Enfim, era um
cara muito inteligente e sério, mas que esbanjava bom humor, e considero um dos
melhores assessores de imprensa de aviação de todos os tempos, que não deixava
de atender ninguém, e o atendimento, como puderam ver, era sempre Top!
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