segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

Speech BIO

 


(por Solange Galante)

Bem-vindos ao Speech BIO!!!

Mas, o que é Speech BIO???

Aqui, BIO é de "Biografia". São trechos da minha biografia pessoal profissional comentada!

que eu vi... e/ou

que eu soube... e/ou

que eu fiz... e/ou

que me contaram...

(Do qual tudo tenho provas/testemunhas/registros!)

Você vai gostar de saber verdades, e até vai se divertir também!!!

Afinal, este é um Blog de bastidores!!! Aqui sempre se foge do previsível!!!  😉😉😉

"Boas lembranças, apesar do luto"

No último dia 20 de novembro o jornalismo e também a  aviação perderam Jorge Honório Ferreira Neto. Ele foi repórter do jornal O Estado de S. Paulo mas eu o conheci quando ele era chefe da assessoria de imprensa da Transbrasil Linhas Aéreas, tão saudosa quanto ele.

Eu estava preparando minha primeira reportagem profissional, "Mulheres na Cabina de Comando", em 1995, para a revista Aero Magazine e precisava entrevistar duas mulheres que eram copilotos na companhia aérea citada. Uma era Alena, a outra, a Evelyne. No contato com a Transbrasil, quem me atendeu foi o Jorge Honório que me colocou em contato com a copiloto Alena, de Boeing 737, que entrevistei no Aeroporto de Guarulhos. Quanto à Evelyne, que era copiloto internacional, voando o Boeing 767, maior equipamento da companhia, Jorge me retornou perguntando se eu queria voar com ela num trecho doméstico, acompanhando o voo lá da cabine de comando. Eu não só aceitei fazer dessa forma, bastando nos coordenarmos pois eu ainda trabalhava em banco à tarde, para coincidir com uma de minhas folgas em dia de semana (cinco vezes por ano eu podia gozar dessas folgas). Marcamos, enfim, para mim e para o fotógrafo Carlos Costa, essa viagem no dia 23 de novembro de 1995, uma quinta-feira.

Seria meu primeiro jump-seat da vida e, ansiosa, fiquei vários dias sem dormir direito... O voo sairia na madrugada do Aeroporto de Guarulhos para Brasília. Carlos Costa e eu chegamos suficientemente cedo lá no D.O. da empresa, já gravei entrevista com a Evelyne mas o avião estava atrasado por um problema com uma carga em seu porão. Ele vinha de um voo pinga-pinga e, até chegar a Guarulhos, nosso estimado de decolagem das 3 h da madrugada passaria para às seis. Quase que os tripulantes regulamentaram, isto é, ultrapassariam seu horário de disponibilidade, tendo de ser substituídos. Mas, no fim, deu tudo certo e embarcamos com Evelyne e os demais tripulantes. O avião era o famoso PT-TAC, Boeing 767 de asas verdes com o qual eu já havia voado  10 anos antes!


Primeira página da reportagem da Aero Magazine de maio de 1996, minha primeira profissional.
Foto de Carlos Costa.

combinado era Carlos e eu desembarcarmos em Brasília e já sermos embarcados em um voo de volta a São Paulo, após a missão concluída. Porém, tão logo chegamos à capital federal, havia um recado para nós dois: era para nos dirigirmos à sede da Transbrasil, lá no aeroporto mesmo, para nos encontramos com o Jorge Honório. Lá, ele nos levou para conhecer as dependências da empresa, inclusive fotografar à vontade o PT-TAA, o primeiro Boeing 767-200 da cia, que fazia cheque C. Isso rendeu fotos maravilhosas! E regressamos depois para São Paulo em um dos Boeing 737 da empresa.

No início de 1997 eu venceria, com a mesma matéria, e pela primeira vez o Prêmio Santos Dumont de Jornalismo, que também era patrocinado pela Transbrasil, e eu me reencontrei com o Jorge Honório no Rio de Janeiro, na cerimônia de entrega no INCAER - Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica, e, mais algumas semanas depois, o Jorge acompanharia o nosso grupo na viagem aos Estados Unidos e Canadá.



Visita do grupo vencedor do Prêmio, em 1997, à Bombardier no Canadá. Jorge aparece na foto marcado por essa seta amarela. Ao lado dele, de calça jeans, um de seus filhos, que também nos acompanhou em arte da viagem. A foto foi um presente da diretoria da Bombardier.

Jorge era bem falante e agitado, mantendo os óculos de grau na testa, quando não os estava usando, e em vários restaurantes aonde o grupo foi almoçar ou jantar, mal havíamos nos sentado à mesa com nossos anfitriões e... cadê o Jorge? Ele já havia se levantado para ir não sei onde, explorar o local melhor ou atender ao celular na calçada, ele simplesmente não parava no lugar!

Anos depois, quando a Transbrasil modernizou sua pintura, a imprensa foi convidada a participar daquele marco lá em Brasília novamente. A aeronave pintada estava dentro do hangar, com a cauda colorida fora, e fotografávamos à vontade. Mas minha atenção também foi atraída para as aeronaves que faziam manutenção no hangar do lado e tinhas as janelas de inspeção das caudas retiradas. Como sempre gostei também de fazer fotos de detalhes técnicos, sempre úteis para alguma reportagens, me aproximei deles para clicar aquelas estruturas expostas. No entanto, um segurança da Transbrasil me barrou. Não tive dúvida: fui pedir permissão para o Jorge Honório, afinal, ele era diretor da companhia. Jorge, então, me levou de volta onde estava o tal segurança, olhou firme para o rapaz e disse: "Ela pode fotografar SIM!" e assim foi feito!

Eu sempre mantive contato com o Jorge, independentemente de haver algum evento da Transbrasil para eu cobrir. E eu também tinha um amigo no Rio de Janeiro, o Germano Bernsmüller – sobre o qual já falei muito por aqui – que pelo menos uma vez por ano eu gostava de visitar. Ou mesmo para ir ao Musal e me encontrar com o outro saudoso Coronel Braga, que então lá trabalhava, eu recorria ao assessor da Transbrasil dizendo: "Jorge, preciso ir ao Rio em tal dia..." Dentro da antecedência necessária, ele me fornecia sem qualquer burocracia extra e sem qualquer taxa passagens para eu ir e voltar do RJ. Calculo que pelo menos umas 10 viagens eu garanti dessa forma.

Mesmo quando deixou a Tansbrasil, que já fazia água, Jorge não conseguiu ficar muito tempo longe da capital federal. Convidado para ter um cargo administrativo muito importante na TAM Linhas Aéreas, ele durou, pelo que me lembro, poucas semanas, ou mesmo recusou de pronto, não lembro mais o resultado, mas porque teria que trocar Brasília por São Paulo, e recusou. Depois, foi trabalhar no SNEA, o Sindicato Nacional das Empresas Aéreas, mantendo-se em Brasília.

Enfim, era um cara muito inteligente e sério, mas que esbanjava bom humor, e considero um dos melhores assessores de imprensa de aviação de todos os tempos, que não deixava de atender ninguém, e o atendimento, como puderam ver, era sempre Top!


E assim, a ele rendi a ele minha homenagem! Obrigada, Jorge!



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