A AVIAÇÃO BRASILEIRA DE LUTO
ACABA DE FALECER CARLOS ANDRÉ SPAGAT, O MAIOR PUBLISHER DA IMPRENSA DE AVIAÇÃO DO BRASIL
(Atualizado às 22h53)
(por Solange Galante)
Criou a verdadeira "bíblia" da aviação para jovens e adultos. Preservou a história das grandes companhias, anúncios, cardápios, histórias de personagens menos lembrados, e apontou e denunciou até mesmo as empresas picaretas que tentaram e ainda tentam voar no país. Como um bom jornalismo deve fazer.
Testemunhou grandes momentos da aviação mundial.
Para mim, em particular, foi um grande aprendizado, um verdadeiro divisor de águas na minha carreira. Nunca me destratou, embora eu o visse destratar muitas pessoas, e sempre elogiou meu trabalho, mesmo quando não correspondia ao que eu esperava.
VAI FAZER MUITA FALTA SIM!
TODAS AS BÊNÇÃOS DE DEUS A ELE E OS QUE LHE SÃO PRÓXIMOS.
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SPAGAT, O ICONOCLASTA
Perdemos
hoje pela manhã, enquanto médicos lutavam por sua vida em um hospital paulista,
um jornalista de minha geração que pode ser comparado, mantidas as proporções,
a Assis Chateaubriand, o lendário fundador da cadeia de veículos Diários
Associados. Um executivo da British Industry o definiu como “A critic of
companies or people when interested” (Um crítico das empresas ou pessoas quando
lhe interessava), num almoço no Salão Internacional de Aviação de Farnborough,
próximo de Londres. Ele justificava um julgamento anterior que fizera sobre o
tratamento que Spagat lhe aplicara, a respeito de uma disputa por uma campanha
publicitária, em que meu veículo, Aviação em Revista vencera sua revista Flap
Internacional. Ele acabou sendo incluído naquele plano de mídia, mediante
pressão que os ingleses consideraram insuportável. “Business” dissera o inglês,
pedindo-me desculpas.
Tive com Spagat alguns arranca-rabos em minha vida
profissional. Um deles, eu gerente de comunicação da TAM, levei ao Comandante
Rolim uma proposta encaminhada pelo Spagat pleiteando a inclusão de suas
revistas no plano de mídia. Rolim disse “nunca”, após uma série de palavrões.
Para surpresa minha, duas semanas depois acompanhei Rolim no almoço que o
fundador de Flap lhe ofereceu em seu escritório. Depois, em outra investida,
ele começou a agredir a agência de publicidade que prestava serviços à Nossa
Caixa, onde eu era Gerente de Comunicações, porque ela se negava a dobrar o
número de inserções. Dias depois a agência voltou atrás, justificando-se:
Carlos Spagat fora lá pessoalmente, ajoelhara-se perante a encarregada de
mídia, pedindo-lhe perdão por sua grosseria. Isto foi feito diante de dois grandes
clientes americanos, perplexos, cuja conta a agência ganhara.
Passamos a ser concorrentes no mercado editorial
quando deixei uma carreira no Jornal do Brasil e comprei Aviação em Revista,
transformando-a num complexo de oito publicações voltadas ao setor
aeroespacial. Acabei ganhando um prêmio que nunca fui receber, de uma
Associação Americana de Jornalistas de Aviação e Espaço, e o convite para um
lugar no que eles chamavam “hall da fama”. Ele passou a me ter como seu maior
concorrente. Falava mal de mim, mas eu não me importava. Minha carreira era um
obstáculo à raiva que nutria contra a revista. Certa manhã de um sábado
distante, ele chega de surpresa ao sítio de Sabaúna, onde eu costumava me
recuperar da vida corrida em São Paulo, acompanhado de sua filha, então com
oito anos, trazendo-me duas garrafas de um bom bordeaux, que usamos para
acompanhar o carneiro que eu mesmo preparara. Fizemos as pazes e eu o visitava
de vez em quando no escritório, prática suspensa pela pandemia.
Assim era o Spagat, brigando feito um leão quando
no campo dos negócios, mas mostrando seu lado de gentleman no campo das
relações pessoais. Tal qual era Assis Chateaubriand.
Ele vai fazer falta, inclusive à Flap, a revista
que criou e projetava no Brasil e no campo internacional, presente às grandes
feiras mundiais, inauguradas por líderes como Margareth Tatcher ou François
Miterrand, às quais comparecia de calça jeans e sandálias feitas de pneus.
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A primeira revista de aviação que comprei, aos 12 anos de idade em 1977, foi a FLAP Internacional. Por décadas comprei religiosamente esta revista. Tenho ainda àquele primeiro exemplar e todos os outros. Que descanse em paz o Sr. Spagat, que, como leitor, sempre o admirei.
ResponderExcluirTambém foi a minha primeira em 1980, mas consegui até um número de 1971 num sebo. Vai fazer extrema falta.
ResponderExcluirApesar de ele ter me destratado em um momento triste pra mim, sempre o admirei pela sua história na aviação. Que Deus o tenha.
ResponderExcluirUm cara diferente, apesar do jeitão ,justo e competente. Que Deus abençoe e conforte a família.
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