sábado, 28 de setembro de 2019

SPEECH

O céu deve estar mais divertido que a terra...


Por Solange Galante
Fotos: João Balão

Às vezes, eu gostaria de ser mais velha, ou de ter começado a gostar de aviação antes do que quando comecei. Fosse assim, eu teria convivido mais com a "aviação raiz" do Brasil! Mas peguei uma transição. Embora não tenha conhecido pessoalmente o "véio" Bertelli (falecido em 1980) e não tenha assistido às apresentações com T-6s da Esquadrilha da Fumaça (desativada antes de eu começar a "curtir" aviação) tive o privilégio de ter conhecido e, mais ainda, de ter sido escolhida pelo Coronel Braga para registrar em livro sua biografia. Ela começou a ser redigida quando ele ainda era vivo, teve continuidade depois, com o apoio da Família Braga, e, finalmente, após muitos contratempos, foi publicada em 2015.
Muito antes disso, em 2006, eu já tinha decidido que precisava voar num North American T-6 para ter, pelo menos um pouquinho, uma migalhinha da sensação que o Braga teve dentro daquela cabine espartana de avião militar de treinamento.
Foi aí que entrei em contato com o Carlos Edo.
Em parte pelos motivos expostos acima, eu era "caçula" demais para ter tido maior convívio com ele, além dos outros já citados. Juntando-se a isso meus nove anos "200% longe da aviação" perdi a oportunidade de apreciar mais o Circo Aéreo, mas o conheci como Circo Aéreo Ônix (Jeans) a partir de 1995, quando retornei à aviação, nas apresentações sobre o Campo de Marte, Sorocaba, Araras e Pirassununga.
Bons tempos, em que os shows aéreos tinham, além de muita acrobacia da melhor qualidade, com manobras ousadas com biplanos, monoplanos, aviões mais modernos ou o velho e bom T-6 – inclusive o próprio TRB, do Braga, com seus "dublês" a bordo – e também os rasantes sensacionais de aviões comerciais como os jatos da Rio Sul, Varig, VarigLog e TAM  Com absoluta certeza, hoje não temos nem uma isca do que eram aqueles tempos...
A família Edo eu conheci, na verdade, pela TV, em um Globo Repórter sobre aviação, para o qual, inclusive, o Braga foi entrevistado. Depois, pessoalmente, nos shows de Sorocaba e Araras.
Voltando à cabine espartana de um avião militar de treinamento: além de ter entrevistado Carlos Edo para meu livro "Nas Asas do Líder - Biografia Oficial do Coronel Braga" me convidei para voar com ele num T-6 e ter a sensação que faltava: "como é voar no avião mais amado pelo então falecido Coronel?" 
O comandante argentino que adotara o Brasil em seu coração, não se fez de rogado, e marcamos a data do voo. No dia 16 de novembro de 2006 lá estava eu no Campo dos Amarais, mais exatamente no hangar da equipe de Edo, para a entrevista e a assinatura do termo de responsabilidade por eu estar prestes a voar com risco por minha própria conta. E embarquei no PT-LDO.
Infelizmente, o voo não foi muito extenso porque, segundo Carlos Edo, a ANAC estava no aeroporto naquela manhã e poderia não gostar muito das manobras... Mas pude experimentar o básico necessário: looping, tunôs, oito cubanos. Foi muito gostoso!
Um paraquedista que estava lá nos Amarais, apelidado João Balão – eu nunca soube o nome real dele – foi por nós "escalado" para me fotografar na cabine do T-6 e fora do avião, com o para-quedas, para registrar a missão cumprida.
No dia do lançamento do meu livro sobre o Braga, na Livraria Cultura, Edo estava lá, para adquirir seu exemplar autografado. Hoje, porém, ele se juntou a José Simioni, Márcia Mammana, Alberto Bertelli, Arthur Braga, Coaracy de Oliveira e vários outros no outro plano, onde devem estar juntos brincando nos céus ou, como eles costumavam dizer, quebrando o pau (no bom sentido, é claro!). Lá também devem estar os rasantes de DC-10, 727-100 e -200, ERJ-145, Boeing 737-200 que não vemos mais aqui embaixo. É... acho que a Aviação Raiz se mudou para lá e nos deixou apenas a saudade... Quem sabe um dia as novas gerações possam ver algum resquício do que foram essas apresentações ao vivo, e não por aquivos digitais sobre o passado?
R.I.P  Carlos Edo. E bons voos a todos! Lá e cá!


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