PARCEIROS PELO SPOTTING
(por Solange Galante, texto e foto)
Hoje, o GRU Airport promoveu no TPS 2 do aeroporto uma reunião geral para que spotters cadastrados para participar dos eventos e ter acesso a áreas específicas para fotografar no aeroporto, bem como spotters com a mesma intenção – cadastrar-se – pudessem conhecer melhor o trabalho desenvolvido pela administradora privada em relação ao hobby e para que pudessem trazer suas dúvidas e sugestões para o GRU.
Como tenho acompanhado essa interação entre os dois lados há alguns anos, posso afirmar, diante do que ouvi e presenciei, que os administradores do aeroporto, realmente, estão buscando melhorar continuamente essa relação, o que é ótimo, especialmente para quem já foi ou sabe quem já foi "pelo menos" muito mal compreendido pelos seguranças da Infraero em outros tempos. Cadastramento e renovação de cadastro da identificação como spotter, locais para poder ficar fotografando, como funciona a segurança aeroportuária e dúvidas sobre participação em eventos de cias. aéreas dentro do pátio foram alguns dos temas discutidos amplamente durante cerca de 3 horas.
No entanto, notei algumas coisas interessantes, várias a se lamentar.
Ainda persistem casos (felizmente, isolados) de spotters abusadinhos que, na prática do hobby nas cabeceiras das pistas ou durante os eventos promovidos pelo GRU em parceria com empresas aéreas (por exemplo, este ano houveram visitas aos locais onde estavam estacionadas aeronaves específicas da Ethiopian, Aerolineas Argentinas e TAP), ultrapassam os limites físicos de pátio para praticar a fotografia ou se aproximam de outras aeronaves que não fazem parte do programa de visita. Ou que batem boca com seguranças quando convidados a mudar de local, especialmente nas cabeceiras.
Ficou nítido, também, que, embora alguns dos spotters presentes concordassem que ter líderes para representá-los nos diálogos com o GRU e com os seguranças (privados ou policiais rodoviários) fosse desejável, a comunidade spotter brasileira é ainda muito desunida, raramente chegando a um consenso sobre suas necessidades e reivindicações.
Percebo que a popularização da fotografia amadora por meio de dispositivos portáteis também tornou as fotos muito mais efêmeras e descartáveis, no sentido de que fotografar um avião torna-se, não rara vezes, mero "troféu de caça virtual" para que o caçador, ou seja, spotter, tenha seu nome em algum site ou revista, receba muitas "curtidas" e seja como as figurinhas raras de um álbum, porém, sem o caráter realmente de registro histórico que as fotos tinham algumas décadas atrás.Aliás, já destaquei aqui no meu Blog a falta de ambição dos spotters atuais quanto a receber de revistas pelas suas fotos, nem se fosse receber uma assinatura da revista... E, uma vez cumprido o objetivo de receber muitas curtidas, algumas fotos são depois descartadas, até com certa rapidez, e os spotters partem para o próximo desafio efêmero.
Mas o pior, na minha opinião, foi a questão da falta de respeito. Falta de respeito sempre destacada pelos representantes do GRU Airport: seguranças em relação aos spotters e vice versa, spotters entre si – a ponto de não avisar em tempo hábil quando não poderão comparecer a um evento ao qual se inscreveram, não dando chance e vaga a quem até então estava de fora – e entre spotters e companhias aéreas, que não costumam gostar de proximidade "suspeita" de pessoas junto às pistas, além do problema do lixo que pode causar transtornos sérios às operações aéreas – os famosos casos de Foreign Objetct Damage (FODs).
Alguns spotters demonstraram o desejo de criar uma associação – como se isso, aliás, não houvesse sido tentado antes – para, organizados, poderem participar de eventos para abastecer seus sites, blogs, páginas de rede social etc com fotos. Alguns eventos pretendidos para serem admitidos, enquanto associação, são a Labace – a feira de aviação executiva que ocorre anualmente em São Paulo – e visitas à Embraer.
Com minha experiência de participação profissionalmente em todas as edições da Labace, desde 2003, posso afirmar que pessoas profissionalmente "de fora" da aviação são consideradas extra-oficialmente "indesejadas" no evento. Pois a Labace é uma feira de negócios, jamais aberta ao público em geral – exceto para quem possa pagar uma entrada bem salgada ou ser convidado por expositores – onde mesmo alunos de cursos de aviação (técnicos ou de faculdades) são restritos ou precisam pagar uma entrada com preço caro. Isso ocorre hoje após dezenas de casos documentados e que eu mesma presenciei de pessoas que não se comportaram adequadamente, fazendo algazarra, falando alto ou agitando com produção de selfies filas de visita às aeronaves, ações que incomodaram – e muito – os responsáveis por receber clientes em potencial para seus aviões de milhões de dólares.
Da mesma maneira, visitas à Embraer são muito mais restritas a fotógrafos do que se pode imaginar – mesmo para jornalistas da imprensa geral ou especializada – e, ao contrário do que spotters menos experientes possam pensar – não são permitidas fotos de aeronaves de clientes, apenas da própria Embraer, exceto em casos muito especiais. Aliás, eventos muito frequentes da Embraer sobre entregas de aeronaves a clientes foram sendo restritos à medida que se encheram de representantes de blogs e sites que a Empresa não considerou de interesse da Embraer, ou seja, a empresa passou a selecionar muito mais quem poderia cobrir os eventos de acordo com as mídias que representavam, lembrando que existem "blogs, canais e sites profissionais e blogs, canais e sites não-profissionais", assim como existem "jornalistas e pseudo-jornalistas".
Ou seja: organizar-se para visitar certos eventos e locais como se visita e se deseja visitar aeroportos para ter uma agradável tarde de spotting, nem sempre é a mesma coisa.
Enfim, a discussão com o pessoal do GRU Airport foi, na minha opinião, excelente, justamente para todos, de ambos os lados, se conhecerem. Falta, no entanto, para alguns, que as melhores ideias sejam colocadas em prática para que não se volte à situação anterior de marginalização do spotting.
Fica a dica!!!
Não tenho muito o que comentar, pois você Solange descreveu muito bem o que um aeroentusiasta (Não curto a palavra Spotter) das antigas sempre teve em mente.
ResponderExcluirRegistrar para a posteridade, criar um acervo com as aeronaves e companhías aéreas que estiveram no Brasil.
Quanto aos garotos mimados, eu apenas sinto pena.
Obrigada pelo comentário, Rosvalmir! Abs
ExcluirTem que acabar com este negócio de crachá, associaçao, colete, burocracia, acesso à área restrita e privilégios: precisamos de terraços abertos para todo mundo nos aeroportos, com vista para o pátio, onde TODOS possam ver os avioes principalmente as crianças, futuros aeroentusiastas. Quando a GRUAirport vai abrir terraços públicos? Nao queremos eventos de vez em quanto, mas terraços abertos todos os dias.
ResponderExcluirPerfeito! Apoiada!
ExcluirSeu post foi direto ao ponto. Preciso como uma bala! Eu como "macaco velho" do hobby vejo da mesma forma que você os pontos positivos e negativos dessa mudança de paradigma.
ResponderExcluirHoje a fotografia digital facilitou bastante nossa vida. O hobby ficou mais barato, temos acesso a equipamentos de melhor qualidade, vemos na hora a qualidade da foto, podemos mexer depois no enquadramento, edição de luz etc, podemos tirar mais de 500 fotos em uma tarde no aeroporto. Bem diferente de quando fotografávamos em filme/negativo.
A abertura de vários administradores aeroportuários ao hobby é positiva. Mesmo com eventuais desacordos ou as tristes panelinhas, hoje está melhor do que em outros tempos, onde eu cheguei até a ser "convidado" até a sede da Polícia Federal em BH por causa de um radinho de escuta daqueles bem mequetrefes.
A expansão infelizmente trouxe todo o tipo de gente ao hobby, desde pessoas bacanas, que apesar de não terem o tempo de estrada que nós, contribuem enormemente com a cultura aeronáutica. E trouxe também moleques, no mais literal sentido da palavra, que se acham donos da verdade e encaram o spotting apenas como um joguinho de auto-promoção.
Eu sempre fotografei "pra mim". Não no sentido egoísta, mas no sentido de registrar para a minha própria satisfação. Antigamente fazíamos nossos próprios álbuns e no máximo trocávamos nossas melhores fotos com os amigos pelo Correio, sem essa necessidade desenfreada de aparecer e ganhar likes.
Espero que com o tempo essa geração selfie amadureça, pra que nosso hobby perdure e nós mesmos possamos desfrutar dos benefícios que levaram décadas pra serem conquistados.
Um abraço e parabéns pelo texto cirúrgico!
Antônio
Obrigada pela participação, Antônio. Bom conhecer opiniões como a sua! Boas fotos!
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