TRINTA ANOS (ININTERRUPTOS) DE JORNALISMO ESPECIALIZADO EM AVIAÇÃO!
(por Solange Galante)
No próximo dia 19 de outubro completarei 30 anos de profissão como jornalista especializada em aviação. Como comecei?
Formada em Comunicação Social – Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero de São Paulo em 1993, eu, no entanto, continuava trabalhando como escriturária no hoje extinto Banco do Estado de São Paulo e eu estava afastada da aviação (como entusiasta mesmo) há alguns anos, mas isso tudo me incomodava deveras: ter diploma mas ainda não estar atuando na área – sequer estagiando – e ter me dedicado durante quase sete anos a aprender muito sobre aviação e também não estar utilizando o conhecimento acumulado.
Foi quando o temível “aerococus” me infectou de novo em 26 de janeiro de 1995 e, conformada que aquela doença não tinha cura, voltei a pesquisar novamente sobre os queridos aviões.
Pouca gente sabe que durante vários anos também tive como hobby pintar em papel com tinta para artesanato. Eu pintava animais, de pelos e de penas. E resolvi começar a pintar em camisetas para fazer um dinheirinho extra.
Mesmo sedenta por comprar alguns apetrechos para impulsionar ainda mais minha volta à aviação – quais sejam, canetas, chaveiros, pins, bonés etc – passei em frente e decidi entrar para conhecer uma loja chamada Espaço Aéreo, que ficava em uma rua pertinho do Aeroporto de Congonhas. Comprei pouca coisa, mas decidi voltar lá quando tivesse mais dinheiro.
Ainda bem que decidi voltar, embora eu não soubesse ainda quando isso aconteceria!
A venda de algumas camisetas me deu caixa para esse retorno à loja. Felizmente, isso ocorreu no início de outubro de 1995. Talvez, se fosse antes, eu não tivesse visto o que vi e, se fosse bem depois, muito menos.
Sempre convicta de que tudo tem uma razão de ser e que coincidências não existem, mesmo que não consigamos explicar certas coisas, quando eu estava dentro da loja fazendo minhas comprinhas vi sobre o balcão um convite. Reproduzo a imagem dele abaixo:
Eu já tinha ouvido falar do autor. No meu retorno à aviação conheci a revista Aero Magazine, lançada em 1994, onde um dos colaboradores era justamente o piloto Décio Corrêa, conhecido, inclusive, por apresentações acrobáticas.
Se também era conspiração do Universo ou pura sorte, eu ainda tinha, do total de cinco, uma folga extra para gozar naquele ano, uma espécie de licença prêmio que os funcionários do banco podiam tirar quando quisessem, desde que avisando previamente a chefia. E decidi tirar aquela folga precisamente no dia 19 de outubro.
No dia da tarde de autógrafos conheci pessoalmente Décio Corrêa, sua esposa Maria Lúcia e como eu, sendo mulher, era minoria entre os visitantes, ainda mais naqueles tempos, onde, exceto as aeromoças, mulheres era uma minoria pra lá de microscópica na aviação brasileira, mesmo como entusiastas, Décio me perguntou o que eu fazia, no que eu trabalhava. Respondi que trabalhava em um banco, resposta que deve tê-lo se decepcionado. Em seguida, ele emendou outra pergunta: “Mas você tem algum tipo de formação?” Respondi que eu me formara como jornalista há dois anos mas ainda não atuava na área.
Em seguida, ele me perguntou se eu conhecia a revista Aero Magazine e respondi afirmativamente. E foi então que ele me deu seu cartão do Aeroclube de São Paulo, onde ele era vice-presidente, onde anotou no verso um nome e telefone.
“Temos poucos jornalistas (de fato) escrevendo sobre aviação. Fale com o Roberto Pereira, editor da revista, para você escrever lá.”
E foi assim que, nesse dia, além de voltar para casa com o livro do Décio, eu trazia comigo uma chance de ouro de unir duas coisas que me apaixonavam: aviação e escrever.
Na semana seguinte, em plena Semana da Asa, lá estava eu na redação da Aero Magazine, que ficava na Alameda Ministro Rocha Azevedo, perto da Av. Paulista, e me vi frente a frente com o saudoso jornalista e editor Roberto Pereira, que já havia sido avisado da indicação do Décio – meu “descobridor de talentos” – e que me perguntou se eu tinha alguma sugestão de pauta. Sim, eu tinha: eu havia contatado há alguns meses, por outro motivo – trocar ideias para reescrever os originais de meu livro “A Ás” – a Cmte. Claudine Melnik, da Brasil Central (empresa do grupo TAM), primeira comandante da aviação comercial regular brasileira, e eu achava que seria interessante uma matéria sobre ela para a revista. Mas Roberto Pereira sugeriu que eu escrevesse sobre todas as mulheres pilotos que já trabalhavam na nossa aviação naqueles tempos e eu aceitei. Não se assuste: eram apenas dez, a Claudine e mais nove copilotos, sendo que acabei não conseguindo falar com todas elas pois voavam muito – mas falei com a maioria para minha primeira matéria profissional, publicada em abril do ano seguinte. Aquela mesma que foi minha primeira matéria premiada, “Mulheres na Cabine de Comando”. Ou seja, estreei como jornalista de aviação já em grande estilo.
A partir de então comecei a escrever como frilance para a revista Aero Magazine, depois também para a extinta Aviação em Revista, em seguida também para a Flap Internacional e Avião Revue e algumas matérias para a revista Asas, além de dezenas de participações em periódicos menos conhecidos, mas também sobre aviação, por exemplo, jornais de associações de tripulantes. Convém observar que eu sempre fui convidada e/ou indicada para escrever para aquelas cinco revistas citadas no início, em nenhum dos casos eu fui procurar emprego ou trabalho nelas. E os 30 anos ininterruptos que se seguem foram de muitos textos sobre aviação e apenas um unicozinho fora do tema, mais exatamente, um texto feito em casa, com pesquisas por telefone, sem viagens, sobre os trens disponíveis para turistas em várias cidades do Brasil, feito para a revista de bordo Céu Azul da editora da antiga Flap. O que não deixa de ser um trabalho para a aviação!.
Óbvio que foram três décadas com muito suor, estresse, claro que também com inspiração, mas dando até cansaço, às vezes. Desde 2019 não tenho mais nada publicado em revistas, por decisão própria, para me dedicar a outros projetos na área – livros, cursos e redes sociais – onde continuo exercitando meu ofício especializado, além de fazer novos amigos, agregando mais conhecimento. E só tenho a agradecer a cada um que contribuiu, de uma forma ou outra, para que eu chegasse até aqui!
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