domingo, 16 de abril de 2023

SPEECH

 

O PROBLEMA NÃO É O GALEÃO...


(Foto: divulgação)


(por Solange Galante)

Há poucos dias, Márcio França, o Ministro dos Portos e Aeroportos do Brasil  – que, acredito, só tenha alguma afinidade com a pasta por ter sido por duas vezes prefeito da cidade litorânea de São Vicente (SP) onde, aliás, até onde sei, não deixou nenhuma saudade – sinalizou que, na canetada, quer que grande parte do movimento doméstico do Aeroporto Santos Dumont migre para o Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro Galeão/Tom Jobim.

Talvez ele não saiba que o esvaziamento do Galeão se deve, em parte, pela precária segurança pública do Rio de Janeiro, que todos conhecem (mas, talvez, o Ministro, não).

Em 2006, no meio da crise da Varig cheguei ao Brasil, proveniente de Miami (EUA), com 24 horas de atraso. Eu deveria ter vindo em um voo direto para Guarulhos mas a empresa aérea colocou-me em um voo que terminava no Rio, devido ao cancelamento de vários voos por falta de aeronave (algumas delas estavam sendo retidas por credores da Varig).

Pois bem: lá estava eu desembarcando no Galeão à noite e me dirigindo ao balcão onde alguns funcionários da Varig iriam fornecer a conexão para dezenas de passageiros (do meu voo e de outros também).

Assim como meu voo para São Paulo, outros também só partiriam na manhã seguinte, de maneira que a Varig teria que nos pagar hospedagem em hotel. Era época em que ainda existia um hotel dentro do terminal 1 do Galeão e acreditei que iriam nos colocar lá, pelo menos alguns dos passageiros, e eu torcendo para ser um deles...

Porém, quando o funcionário anunciou que iríamos para o Hotel Glória, no centro do Rio, começou quase uma rebelião diante dele! Os passageiros, quase em uníssono berravam um "Eu não vou atravessar a Linha Vermelha a essa hora da madrugada, não!!!"

A via expressa que une a Ilha do Governador, onde fica o Aeroporto Internacional, aos bairros continentais da Cidade Maravilhosa corta diversas favelas, comunidades e, principalmente, algumas áreas dominadas pelos tráfico de drogas. E, assim como outros passageiros da Varig naquela noite, eu também não estava a fim de sair do Galeão (e a ele retornar na manhã seguinte) pelo caminho sinistro...

Após algum estresse, os funcionários realocaram parte dos passageiros lá no hotel do Galeão mesmo. Felizmente, eu estava entre esse passageiros... Quanto aos demais, acho que tiveram que ir (rezando) para o Glória, pois não teria lugar para todo mundo no hotel do aeroporto.

Mas, com ou sem movimento intenso no aeroporto, e com ou sem hotel próximo, hoje ainda continua sendo tenso ir e voltar pela Linha Vermelha. Pode ser sossegado em vários momentos mas... pode também não ser, e haver tiroteio no caminho.

Mas, é claro, o problema do aeroporto que já fez a alegria e o orgulho de muita gente não se resume à Linha Vermelha. Pessoas vão aonde há negócios, e se as feiras, congressos e encontros setoriais acontecem hoje com muito mais frequência em São Paulo do que no Rio, a preferência passa a ser Guarulhos e Congonhas para voos de clientes executivos, os quais, aliás, também preferem o Aeroporto Santos Dumont por já estar no centro da capital fluminense, evitando trânsito volumoso e outros dissabores. Junte-se a isso o Brasil  não ser ainda a potência de turismo que desejaria ser. Países muito menores, com menos diversidade cultural e climática ganham do nosso de lavada, como é o caso da França.

O texto publicado nesse link da BBC é do final do ano passado e cita alguns dos fatores que dificultam a expansão do turismo internacional de lazer no nosso país: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-63671736

Se o lazer não usufrui do Galeão e os negócios estão atraindo mais pessoas, inclusive do exterior, para São Paulo e a violência ainda não é combatida como deveria (problema inclusive político de vários governos anteriores fluminenses), não será, infelizmente, uma canetada que provocará a migração do aeroporto SDU para o GIG como o ministro deseja...

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