segunda-feira, 26 de agosto de 2019

SPEECH


EXCLUSIVO

REGISTROS QUE DEIXAM IMENSA SAUDADE


(Foto de autor desconhecido)

Texto: Solange Galante

Autor de todas as fotos a seguir: Germano Bernmüller


Quem teve a dádiva de conhecer Germano Bernsmüller sabe que ele foi um dos maiores historiadores da aviação comercial brasileira. Ter trabalhado para as empresas Aerolineas Argentinas, Cruzeiro do Sul, Pan Am e Lufthansa, sendo a maior parte de sua vida profissional como Despachante Operacional de Voo no Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro (Galeão) possibilitou-lhe estar perto de grandes acontecimentos da aviação brasileira e também mundial, já que ele mantinha contato constante com representantes de todas as profissões dessas empresas, de diretores e despachantes a aeronautas e mecânicos, em maior ou menor grau.

Germano, juntamente com o irmão Martin, conhecido por muitos spotters e historiadores brasileiros – inclusive, um dos livros do qual Martin participou é o belíssimo Cronologia da Aviação Comercial Brasileira 1897-2017 – procurava ficar por dentro de tudo o que acontecia na área e lia ávidamente publicações de primeira. Mais que isso, era um agente de promoção da aviação. Quem já esteve em sua casa, na Ilha do Governador, além de se perder no meio de tantos objetos de coleção, revistas, livros, fotos e anotações e poder ficar por dias ouvindo suas explicações – super detalhadas – especialmente sobre companhias que não existem mais há décadas, como Real, Aerovias Brasil, Viação Aérea Santos Dumont e Panair, além das americanas Pan Am, TWA e Eastern, entre outras, era convidado a vistar com ele a Torre de Controle do Galeão onde, com sua inseparável pasta com fotos e recortes, contava aos controladores de voo e outros funcionários do aeroporto "causos" pra lá de interessantes, como de um avião brasileiro que "decolou" sozinho com o vento, ou o 747 que teve o ventre perfurado pelas torres de ALS em pleno aeroporto de Los Angeles durante uma decolagem longa demais.Além de aviação, ele tinha muito material antigo de outros assuntos, como trens e brinquedos do início do século. Século XX!

Gaúcho mas apaixonado pelo Rio de Janeiro, onde se casou e teve três filhos (nenhum trabalhando na aviação), não perdia a oportunidade, quando ainda tinha saúde e automóvel próprio, de levar os amigos de fora para visitarem pontos turísticos da Cidade Maravilhosa ou o Museu Aeroespacial - Musal.

Várias matérias que escrevi para a revista Aero Magazine foram inspiradas em "causos" quer ele me narrou ou material que ele me deu, xerox de seus livros sobre a Pan Am, por exemplo.

Infelizmente, embora rico como ser humano e em conhecimento, Germano vivia uma vida material bem modesta e escrevia a lápis suas anotações sobre aviação, jamais tendo tido, por exemplo, um computador para auxiliá-lo a catalogar seu material, o que, sem dúvida, facilitaria realizar seu sonho de publicar um livro com fotos-legendas da aviação comercial brasileira.

Da época em que eu ia com mais constância ao Rio de Janeiro, ele me mostrou fotos que fez na antiga Varig Engenharia e Manutenção (VEM) do Aeroporto do Galeão durante a pintura do MD-11 PP-VPP e do Boeing 737-300 PP-VOZ para a Copa do Mundo de 1998, na França, quando a VARIG foi, mais uma vez, a transportadora oficial dos atletas brasileiros. Embora a seleção tenha sido derrotada, com certeza, voou num dos mais lindos aviões, de todos os tempos, customizados para tal missã . Logo que me mostrou as fotos, pedi para que me fizesse algumas cópias das mesmas, para minha coleção pessoal, mesmo porque eu sempre adorei o McDonnell Douglas MD-11. Ele prontamente providenciou o material, pelo qual eu, na época, paguei e guardei-o, acatando sua única solicitação: que eu não as publicasse, para não incomodar quem, na Varig, o teria autorizado a entrar no hangar, acompanhar o trabalho, que durou alguns dias, e fazer esse registro, e ele nunca revelou quem era. Mas hoje, mais de 20 anos depois de feitas as fotos, agora, no ano seguinte ao falecimento do amigo Germano, quando nem VEM, nem VARIG e nem mesmo a McDonnell Douglas existem mais, eu me vejo não só na obrigação de divulgá-las como com o dever de homenagear a seriedade e dedicação de um legítimo representante de uma espécie em extinção hoje no Brasil: os historiadores de aviação comercial. Infelizmente, o que vemos hoje são jovens mais preocupados em publicar fotos no Instagram ou mantê-las no celular do que cultivar a pesquisa histórica envolvendo uma companhia aérea, um avião em particular, e hábitos da época em que voar tinha muito mais glamour.

Todas as fotos a seguir estão datadas automaticamente pela câmera do autor. A primeira mostra o PP-VPP já pronto mas, as seguintes, mostram as etapas diárias de pintura da gigantesca aeronave, incluindo uma do PP-VOZ, o 737 que também foi customizado.  As imagens originais e negativos são propriedade dos irmãos Bernsmüller, a quem agradeço, em nome de toda a comunidade aeronáutica, pela dedicação total à nossa aviação.

























E o que resta do riquíssimo acervo de Germano? Agora administrado por seu filho mais velho, espero (esperamos todos) que seja exposto a toda comunidade aeronáutica brasileira pois o historiador gaúcho e carioca de coração assim o desejava: incentivar os jovens a também se apaixonarem pela aviação!!!

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9 comentários:

  1. Simplesmente magníficas as fotos do MD-11.
    Um das pinturas mais lindas que uma aeronave já teve.
    Parabéns.

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    1. Eu voei no VPP mas ele tinha acabado de retirar essa pintura... resta a saudade, né? Eu gostaria de saber quem criou essa pintura, na época, foi muito bem inspirado!

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  2. A pintura foi criação do arquiteto e designer Sergio Bernardo, que trabalhou na VEM. Ele também criou as usadas no 767, 757 e 737-300 da Pluna, a do 737 da Rico, a do 767 da VARIG que festejava os 500 anos do descobrimento e a do 737-300 da Flex.

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  3. Eis o artista: http://www.esdi.uerj.br/esdianos/2509/sergio-bernardo-dos-santos

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  4. Fiquei muito feliz com a informação, que agrega muito ao meu texto! Obrigada! Abraços!

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  5. É o Daniel Carneiro quem respondeu?

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  6. Realmente uma linda homenagem. Também tuve a grande oportunidade de conhecer o Germano e encontrar-me quase sempre quando estava de visita no Brasil para discutir sobre a aviação brasileira, especialmente sobre a "nossa" VARIG

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  7. Parabéns Solange pela linda e histórica homenagem ao Germano e Martin que além de destacados profissionais, tem contribuído com uma riqueza de detalhes na preservação da memória da aviação. Tive o privilégio de conhece-los aqui em FRA,GIG e POA. Estive recentemente com Martim em POA em um encontro da Varig e tive o privilégio de compartir algumas horas vendo o arquivo incrível de fotos e documentos da história da aviação.
    Abraços
    G.Santandreu
    Varig Frankfurt

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    1. Eu que agradeço o carinho de vocês, historiadores "raiz", pela aviação brasileira e mundial! Abraço forte!

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