FOTOGRAFOU? NÃO?
ENTÃO, DANÇOU!!!!
– PARTE 1:
FÁBRICA DE MENTIRAS
por : Solange
Galante
Na década de 1970, o alemão Günter Wallraff assumiu a
identidade de Hans Esser e foi contratado pelo jornal alemão Bild, o mais
popular da Alemanha. Seu objetivo era comprovar as mentiras publicadas e
inventadas por Bild, bem como seu desrespeito pelos leitores, fontes e seus
próprios jornalistas. O resultado foi o livro “Der Aufmacher” (A História
Principal, que ganhou em português o nome Fábrica de Mentiras).
O livro já foi citado em várias faculdades de
jornalismo justamente para exemplificar que não se deve manipular as notícias,
enganar os leitores. Esse livro foi material para provas e trabalhos na
faculdade que cursei, a Cásper Líbero.
No quesito “deturpação do trabalho do jornalista”,
Hans Esser escreveu um texto sobre o desemprego na juventude que foi totalmente
reescrito pelo editor que, aliás, já havia sido enfático: “Nada de matéria de
cunho social!” Mas, pelo menos, elogiou o desempenho de Esser em outra pauta,
que havia lhe incumbido fazer: sobre o centenário dos anões de jardim. Sim,
aquelas estátuas colocadas no gramado ou entre flores...
Em dado momento, a redação recebe um release sobre uma
grande exposição de peixes, com espécimes de todo o mundo. Piranhas são
pequenas coadjuvantes, e não colocam os visitantes em perigo. Mas o responsável
pela exposição tem interesse em que ela seja divulgada pelo Bild, e confessa a
Esser que é por isso que trouxe as piranhas. E logo a notícia no Bild passa a
ser o pequeno ataque de algumas delas ao chefe do um aquário, que resultou em
um (apenas um) pequeno ponto no dedo dele – a vítima havia sido descuidada ao
colocar a mão no aquário durante uma transferência de peixes.
O ataque – Bild não mencionou que isso havia ocorrido
oito anos antes – tornou-se o fato principal da matéria, em tons bem
sanguinolentos, mas, ainda assim, ajudou a exposição a ter muitos visitantes. O
fato foi explicado da maneira correta por outro jornal mas, que importa? O Bild
já havia vendido muito e, a exposição, havia sido um sucesso. Embora as
piranhas fossem apenas inofensivas coadjuvantes entre centenas de outros
peixes.
Escreve Günter Wallraff, em seu livro: “A verdade está
no Bild, tanto nas linhas quanto nas entrelinhas: possivelmente ela se encontra
de qualquer maneira, por detrás das letras impressas. Impresso é tudo aquilo
que faz aumentar a tiragem — mesmo que, por acaso, seja verdade. E não impresso
é tudo aquilo que não ajuda a vender. Um princípio clássico, simples e, ao
mesmo tempo, de utilidade universal. Numa época em que se vive com pressa,
exige-se um jornalismo rápido, muito rápido. O redator do Bild é bom em
generalizações. Se os leitores acreditam ou não em tudo o que se publica, não tem a
menor importância, desde que continuem comprando o jornal.”
Meus leitores, agora, devem estar se perguntando “Epa!
Mas esse Blog não é sobre ‘aviação’???
Calma, essa foi apenas uma introdução... Vamos ao que
interessa...
O que Günter Wallraff escreveu em seu livro e eu
copiei aí em cima, sobre a “deturpação do trabalho do jornalista”, textos
totalmente reescritos, sentido alterado, informações incorretas enxertadas,
isso passava longe da redação da revista de aviação onde colaborei por anos, era inadmissível! Pelo menos nos primeiros anos de sua existência.
Tudo era tão ético e profissional que se havia um
roll-out, um evento de grande importância, uma coletiva de imprensa bem
concorrida, publicava-se as fotos do evento feitas pelos próprios colaboradores. Fotos reais, não
capturadas da internet, todas com crédito ao autor e por aí vai... Afinal de
contas, que adianta participar de um grande evento e não se registrar, nem que
fosse com uma câmera mais simples ou, mais modernamente, com o celular ou
tablet? E, registradas, logo em seguida, são publicadas, orgulhosamente mostrando
“Nós estivemos lá sim!”, "Fazemos parte da história e podemos provar!!!"
Há alguns anos fiz uma extensa reportagem sobre como é
um voo no MD-11F da Lufthansa, entre Viracopos e Manaus. Deu trabalho conseguir
a autorização e planejar tudo. Publiquei o que a empresa autorizou, e foi o
suficiente para mostrar que sim, eu participei mesmo do voo. Publiquei até fotos
da passagem que recebi da companhia aérea alemã para me permitir esse voo. A
matéria foi publicada condensada na revista Avião Revue e, mais completa e extensa aqui
no meu Blog: http://caixapretadasolange.blogspot.com.br/2014/08/materia-especial.html
Afinal, por que ocultar as provas? Foi tudo feito de
maneira honesta e profissional, nada há o que esconder. E a matéria do Blog foi
tão agradável que ficou entre as finalistas do Prêmio Abear de 2014!
Estimados leitores: aguardem mais capítulos
emocionantes sobre nossa denúncia de desrespeito em forma de jornalismo!
Já espero o próximo episódio kkkk
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