terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Plantão Caixa Preta




SEM AS MARCAS EXTERNAS DA VASP
 MAS MUITO BEM PRESERVADO, FELIZMENTE!

                                                         por Solange Galante (texto e todas as fotos)

Todos os internautas que acompanham este Blog puderam acompanhar a saga dos aviões da Vasp que foram leiloados a partir de 2011, a maioria deles Boeing 737-200. Alguns deles foram picotados e vendidos como sucata. Outros, desmontados, e suas peças vendidas para os mais diversos fins. Outros, tiveram melhor sorte e se encontram inteiros, montados e expostos à visitação pública ou limitada.

O PP-SPH, que encerrou sua vida comercial no Aeroporto Juscelino Kubitscheck de Brasília, teve seu destino selado em 30 de setembro de 2013. Nesse dia, em um pregão que acompanhamos ao vivo em São Paulo, ele foi arrematado online pelo nome BN Produções, no valor de R$ 112 mil.
Ao contrário do caso de outros aviões, que foram adquiridos por pessoas que não querem aparecer na imprensa e muito menos mostrar suas aeronaves, fui prontamente bem atendida pela advogada do adquirente, que estava presente ao leilão, e que me forneceu o telefone do responsável pela BN Produções. A mesma boa receptividade ocorreu ao telefonarmos.

Hoje, o proprietário do PP-SPH é o Dr. Ailton Martins de Oliveira, cirurgião-dentista e piloto privado, que usou o nome da empresa de seu filho Benjamim, a BN Produções, como identificação durante o leilão.

O Dr. Ailton removeu a aeronave de Brasília com todo o cuidado e o levou para sua fazenda, chamada Sorriso Metálico, no município de Urutaí, interior de Goiás, um caminho mais próximo que o de outras aeronaves removidas do mesmo aeroporto, uma delas tendo seguido para o Paraná.
Mantive contato com o Dr. Ailton e tão logo ela já estava limpa e repintada, pudemos agendar esta visita exclusiva ao PP-SPH, o “breguinha” que tanto ajudou a Vasp, deu asas a inúmeros passageiros e agora será mantido impecável pelo seu novo proprietário, que também quer, por que não, fazer dinheiro com ele, para reaver os gastos com o leilão, transporte e manutenção do mesmo, muito bem aplicados até agora, por sinal. Aproveitamos para bater um papo com esse homem que foi fisgado pela aviação antes mesmo de ter surgido a oportunidade de ter um Boeing para dizer que é seu!

Caixa Preta: Como o senhor começou a gostar de aviação?

Dr. Ailton: Bem, eu sou de Urutaí, do interior de Goiás, e depois vim para Goiânia e fui morar aqui no setor Oeste. Isso aconteceu há 23 anos e eu já era dentista. Foi quando um amigo me convidou para conhecer uma escolinha de aviação, com ultraleves etc, e fazer um voo. Depois do voo passei a gostar disso, o “vírus” da aviação havia me picado. Passados uns seis meses eu comprei um avião Tupi, fabricado pela Embraer, que eu usava para ir para a minha fazenda e também fazer minha especialização em odontologia na cidade de Campo Belo, no sul de Minas Gerais. Eu ainda não pilotava, mas contratei um piloto, ao mesmo tempo em que comecei a fazer aulas de pilotagem também. Tirei meu brevê e, logo em seguida, comprei um ultraleve, com o qual tive um pequeno acidente, quando seu motor parou em voo.

Caixa Preta: E, pelo que se pode notar, o acidente não o abalou...

Dr. Ailton: Exato. Bem, fiquei durante seis anos com o Tupi e, após vendê-lo, passei para helicóptero: comprei um Robinson R-44 e contratei um piloto especializado no modelo. Depois de concluída minha especialização em Campo Belo, eu usava minhas aeronaves para ir à fazenda e comecei a montar algumas clínicas aqui no estado de Goiás, já usando a aviação como meio de transporte para eu me deslocar entre elas devido à segurança, facilidade e rapidez. Com isso, já há uns 20 anos que estou na aviação.

Caixa Preta: Portanto, é uma ferramenta de trabalho?

Dr. Ailton: Sim, e a cada dia que passa eu uso mais a aviação. Este ano mesmo já fui para a praia voando, é o meu meio de transporte e voo quase todos os dias.

Caixa Preta: Hoje, qual é a sua frota?

Dr. Ailton: Eu tenho um avião Inpaer Vans Aircraft RV-9, de dois lugares e que cruza a 290 km/h, que é o que eu mais uso, pois voo muito a trabalho, me permitindo então ir sozinho para as clínicas, e este ano já estive também em Fortaleza com ele, bem como já estive também em Porto Velho.  Tenho outro Vans, um RV-10, para quatro lugares, além de um helicóptero Robinson 44. Eu uso aviação como meio de transporte também pela questão de segurança: em dezembro passado, chegando a Goiânia, eu capotei um automóvel. Felizmente não me feri mas sei que, se eu estivesse em um avião, provavelmente isso não teria acontecido. Pelo menos eu me sinto muito seguro em um avião ou helicóptero, e além da segurança, é o meu prazer voar e saber pilotar. Sou admirador número 1 da aviação! Sinto-me muito feliz em estar pilotando e dominando a máquina! Eu uno a fome com a vontade de comer, pois além de gostar disso, eu preciso desse transporte devido ao meu trabalho, já que minha rede é composta por 25 clínicas localizadas, além de Goiás, também no Amazonas, Roraima, Amapá, Piauí, Acre e outros estados, apesar que, para ir a essas clínicas mais distantes, eu vou em avião de carreira, por ser mais tranquilo, mais barato e mais rápido. Mas para ir às clínicas aqui no estado de Goiás, eu só vou em meus próprios aviões. Já o helicóptero eu uso em época de chuva, como agora neste mês (janeiro), quando me sinto mais seguro com o helicóptero, do que com o avião. Já estive no ano passado em Foz do Iguaçu, também de helicóptero, a passeio, e também no Rio Grande do Sul e na Bahia. Passeio inclusive com a família, que também gosta de voar.

Caixa Preta: Ah, o senhor contaminou a família?

Dr. Ailton: Contaminei a família! (risos) Acho que parte de minha família nunca tinha visto avião, antes. Um fato muito importante é que quando eu conto pra minha mãezinha, por exemplo: “Mãe, estou indo para Barra do Garça.” Às vezes pode acontecer de eu precisar levar algum material, alguma cadeira odontológica, algum equipamento, o que me obriga a dirigir uma caminhonete para transportá-lo. Aí minha mãe, que tem 73 anos, me pergunta se vou de carro ou de avião. Quando eu vou de carro ela fica ligando, preocupada, para saber se eu cheguei. E quando eu vou de avião ela não fica ligando, fica tranquila. Quando eu comprei meu primeiro avião e fui mostrar para ela, acho que ela ficou algumas noites sem dormir, porque nunca tinha visto um avião de perto, só o imaginava caindo e se acidentando, e na hora que a levei comigo e fomos decolar para Campo Belo, ela me pediu, pelo amor de Deus, “para ir devagar”... de tão impressionada que ela estava. Mas agora é diferente, se eu falo que vou viajar e vou de avião ela não se preocupa. Mas se eu falar que vou de carro ela já tem uma certa preocupação de mãe...

Caixa Preta: E depois o senhor abriu uma pistinha...

Dr. Ailton: Desde que comprei meu primeiro avião já abri a pista na fazenda. Ela é registrada, asfaltada, totalmente legalizada... (Observação: designação SIYK, em asfalto e 710 m de comprimento por 18 m de largura no sentido 15/33)

Caixa Preta: E o interesse por ter aquele avião da Vasp, como começou?

Dr. Ailton: Eu fiquei sabendo do leilão porque tenho um companheiro em Araraquara que tinha comprado um Boeing também, o Cmte. Capistrano. Liguei para ele, conversamos e ele me contou do (então) próximo leilão. Meu interesse é comercial, estou querendo montar um ponto de parada, turístico, com restaurante, sorveteria, loja de suvenires etc, na minha cidade. A cidade é pequena (cerca de 6 mil habitantes) mas tem uma rodovia bem movimentada. Quero ganhar dinheiro com o avião, cobrando pela visitação. Vou manter o Boeing como está, ele está com todos os instrumentos, tudo arrumado, quero mantê-lo assim na íntegra, porque muita gente nunca entrou dentro de um avião e terá curiosidade para vê-lo.

Caixa Preta: O senhor viu o avião antes do leilão?

Dr. Ailton: Somente por fora, na época, não me autorizaram a entrar dentro dele.

Caixa Preta: Pois então deu sorte, porque outros aviões tiveram instrumentos furtados, antes e depois dos leilões, e muitos arrematantes ficaram chateados com isso.

Dr. Ailton: É, eu soube.


Quando comemorou seu aniversário de 2014 na fazenda, os amigos do Dr. Ailton vieram literalmente voando, em mais de 70 aviões, para participar da festa e conhecer o Boeing. Antes de ser colocado onde está hoje, quando estava bem mais visível da estrada, já atraiu muitos curiosos. E, como ele revelou, logo será um ponto turístico da pequena e muito amada Urutaí, a última escala do Sierra Papa Hotel, um dos "breguinhas" mais sortudos em sua aposentadoria da Vasp!


***Confira a seguir as fotos de nossa visita ao Sierra Papa Hotel.
Repare no compartimento do trem de pouso do PP-SPH: um brilho!!!!!!***
























































11 comentários:

  1. É uma pena que não preservou a pintura a VASP no avião, mas gostaria de saber o porquê. Mesmo assim, obrigado por salvar mais um pedaço desta empresa

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    1. Gosto pessoal. Conheço um cara que transformou uma linda e enorme maquete de MD-11 da Varig em uma linda e enorme maquete de MD-11 da KLM. Mas eu pedi ao Dr. Ailton para colocar a matrícula do avião (PP-SPH) na fuselagem e porta do trem dianteiro.

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    2. Não estou reclamando Solange. Achei muito bonito o esquema de cores. É que eu gostava muito das pinturas da VASP, mas ficou muito bonito sim.

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    3. Eu entendo, mas acho que o mais importante é o avião preservado. Por dentro, todas as marcas da Vasp permanecem!!!!! Abs!

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    4. Se colocar combustível e tomar os cuidados devidos, pode girar os motores, mas já está "aposentado".

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Solange, pra ficar fiel mesmo, por preciosismo, faltam as manchas de fuligem que os reversos jogavam nas laterais atrás das asas.

    Os breguinhas cumpriam 16h por dia durante décadas, muitas vezes com até 10 ciclos por dia. Nem máquina de lavar roupa GE aguenta tanto!

    O esquema da pintura me lembrou o da Janet, a linha aérea fantasma da área 51, em Nevada.

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    1. Oi, Sacco

      Mas essa pintura da Janet não tem azul... O PP-SPH está muito mais bonito, né não? ;) Abs!

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  4. Tens razão. O Dr. Ailton tem muito bom gosto. Em época de fechamento de museus (em SP foram 5), devemos exaltar quem leva a cabo a preservação da memória. O cuidado que ele teve em manter a originalidade do interior só reitera que o papa-hotel caiu nas mãos certas.

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  5. Solange ja existe valor para visitacao? Fiquei super interessada.

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