UMA PERDA ENORME PRA A HISTÓRIA DA AVIAÇÃO COMERCIAL BRASILEIRA
(Texto e foto: Solange Galante)
Nossa aviação está de luto. Eu soube, há pouco, do falecimento, no Rio de Janeiro, do historiador Germano Bernsmüller.
Este amigo insubstituível, irmão de aviação, só quem o conheceu pode defini-lo.
Eu o conheci numa das saudosas Convenções do Clube do Manche. Onde Germano estava, logo se reuniam curiosos para saber de todas suas histórias e aprender com seu vasto conhecimento.
O ponto alto de nossa amizade foi quando viajei pela primeira vez ao Rio de Janeiro e conheci sua casa e sua coleção. Quase deu um nó em meus neurônios, pois ele não parava de contar saborosíssimas histórias, emendava uma na outra, meu "HD" interno mal conseguia processar qual era mais incrível, e eu mal conseguia anotar alguns detalhes num papel...
E que histórias eram essas?
O 747 da Pan American que se acidentou em San Francisco por estar decolando em uma pista mais curta do que ele necessitava e, ao retornar, "sentou" pela falta do trem de pouso central.
O 707 da Varig que se incendiou dentro do hangar de manutenção por efeito do oxigênio.
O 737 da Vasp que pousou de barriga em Congonhas.
E centenas de outras!
Muitas, ele próprio testemunhou, pois trabalhara como Despachante Operacional de Voo em várias empresas como Pan Am, Lufthansa e Cruzeiro do Sul, além de ter passado também pela Aerolineas Argentinas, sempre no Aeroporto do Galeão. Por isso, esse gaúcho de ascendência alemã fincou bases na Ilha do Governador.
Sempre que recebia visitantes para conhecer seu acervo e suas histórias, ele era um anfitrião de primeira. Quado ainda tinha automóvel e saúde, colocava as visitas dentro de sua velha Belina branca e os levava para conhecer pontos turísticos cariocas como o Pão de Açúcar, de onde podíamos nos encantar com o Aeroporto Santos Dumont, lá embaixo. Ou nos levava para uma imersão na história da aviação dentro do Museu Aeroespacial.
Em uma de minhas idas ao Rio, fomos à Torre de Controle do Galeão. Com uma inseparável pasta repleta de fotos antigas ele se sentou perto de alguns controladores que estavam descansando e lhes narrou histórias que mesmo aqueles homens acostumados a ver avião todos os dias jamais poderiam imaginar que teriam um dia acontecido no passado aeronáutico brasileiro.
O incansável colecionador sem celular, que não dava conta de gerenciar tantos itens guardados em uma casa alugada onde não havia computador, pacientemente atualizava fatos e datas com lápis em um caderno mas a maior riqueza estava mesmo em sua cabeça. Não foram poucos os visitantes que literalmente passaram vários dias e várias noites praticamente sem dormir só ouvindo histórias e conhecendo materiais das companhias de outrora como Panair, Real e Varig dos tempos de Ruben Berta.
Pelo menos três reportagens eu escrevi para revistas de aviação inspiradas em suas histórias e com material que ele pessoalmente copiava (xerox de livros) para eu levar para São Paulo e usar como material de pesquisas. E pelo menos dois livros indicados por ele eu cacei em sebos para juntar ao meu acervo.
Digno de se registrar é também seu apoio incondicional ao Museu Aeroespacial (Musal), seu assíduo comparecimento ao Instituto Histórico-Cultural de Aeronáutica (Incaer) e participação, enquanto tinha saúde para tal, em outros eventos aeronáuticos, para compartilhar seu conhecimento e sempre incentivar a aviação.
Sem dúvida, é um historiador a menos, como faz muita falta neste país outros semelhantes.
Que Deus o receba de braços abertos como o Cristo Redentor que sempre o protegeu.
Obrigada por ter existido, amigo!
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