quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

NOTÍCIAS CAIXA PRETA


 

ATENÇÃO


Para o resultado do QUIZ do EPISÓDIO 144 do PROGRAMA VOO 123

DO CANAL

SOLANGE AIRWAYS !

E, é claro, também QUEM VENCEU, E A PONTUAÇÃO INICIAL DO  PRIMEIRO HALL DA FAMA DO ANO!

Ontem eu publiquei os Quizes do primeiro programa de 2025. Agora é hora de dar as respostas, ver quem ganhou o presente do nosso entrevistado e também quem ganhou na pontuação para o Hall da Fama!

Lembrando que estamos com novas regras, facilitando a SUA participação!!! 

(Olhe na descrição do programa)

 

Estas foram as perguntas do Quiz (que agora está padronizado em cinco perguntas, de múltipla escolha ou não):

OBS-1: deveriam ser CINCO questões mas acabei não colocando no ar uma (foi descuido mesmo), portanto, só quatro teriam que ser respondidas neste episódio.

OBS-2: a primeira questão tinha uma pegadinha, com DUAS respostas corretas! (eu nunca falei que teria que ser uma correta só por questão...). Como ninguém a acertou assim, respondendo apenas uma das alternativas corretas, considerei cada uma delas como 2,5 pontos e não 5 pontos. E não teve pontuação para quem acertasse em segundo lugar essa questão.





 Estas foram as respostas do Quiz (que agora tem pontuação individual!):

 

Todas as respostas foram retiradas do livro VOANDO NAS ASAS DE UM SONHO, de autoria de Willian Rady (publicação restrita mas que, em breve, há planos de entrar no mercado).


Participante 1 (LAURENCE) foi o primeiro a acertar a questão 3 e metade da 1 = soma 5  + 2,5 pontos = 7,5 pontos. E foi o segundo a acertar a questão 4  = soma + 3 pontos. Soma total: 7,5 + 3 pontos = 10,5 pontos
 

Participante 2 (SERGIO) foi o primeiro a acertar a questão 2 e metade da 1 = soma 5 + 2,5 pontos - 7,5 pontos. Soma total = 7,5 pontos

Participante 3 (PATRICK) foi o primeiro a acertar a questão  4 = soma 5 pontos. E foi o segundo a acertar as questões 2 e 3  = soma + 6 pontos. Soma total: 5 + 6 pontos = 11 pontos.

Então, a pontuação geral ficou assim!


Patrick Krug..................= 11 pontos + 5 do Chat = 16 pontos
Laurence Melo............. = 10,5 pontos + 5 do chat = 15,5 pontos
Sérgio Cardoso.............= 7,5 pontos + 5 do chat = 12,5 pontos

 

Parabéns ao PATRICK!


Vai ganhar o presente da Decolagem 144!
 
E segue a soma de todos para o Hall da Fama!
 

 
Não assistiu à Live de quarta-feira? Não sabe como poderia participar? E, muito menos, nem sabe que em TODAS as Lives há/haverá brindes ou presentes? 


Assista, dê seu LIKE e se inscreva no canal!
Toda QUARTA-FEIRA às 18h30 (Brasília)

  https://www.youtube.com/c/SolangeAirways




quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

terça-feira, 21 de janeiro de 2025

Diretamente dos nossos "Archivos"

 FOTOS DA CHEGADA DO PROTÓTIPO DO SAAB SCANDIA À VASP

 (por Solange Galante)

Todo mundo sabe que a Vasp operou todos os Saab Scandi fabricados, inclusive o protótipo, que se tornou o PP-SQB – se você não sabia, ficou sabendo agora!

As fotos abaixo, originalmente coladas e legendadas como um "release" para a imprensa, mostram a chegada dessa aeronave ao Brasil. Uma pena que a foto é noturna, reduzindo a definição do avião, mas as legendas são valiosas pela identificação dos personagens.

Obs: as fotos originais, na minha coleção, medem  cerca de 13 cm X 15 cm



 Acima, como era o protótipo do SAAB 90A-1 Scandia

(Fonte: Walter van Tilborg Memorial Collection em https://1000aircraftphotos.com)

quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

MATÉRIA ESPECIAL

EXCLUSIVO

 

O QUE ACONTECEU

EM NOVA YORK

TAMBÉM JÁ ACONTECEU

EM SÃO PAULO


E TESTEMUNHA RELEMBRA AQUELE DIA,

QUASE 46 ANOS DEPOIS

 

1945: um bombardeiro B-25 colidiu contra o Empire State Building.

2001: dois Boeing colidem contra as torres do World Trade Center.

Quem nunca imaginou a colisão de um avião contra um edifício

próximo ao Aeroporto de Congonhas, na capital paulista?

 

(por Solange Galante)

 

O imaginário popular sempre foi tão intenso que até um "vidente" – que depois foi desmascarado – "previu" que um avião que iria decolar de Congonhas colidiria, em 2014, contra um prédio da Avenida Paulista. Felizmente, era só um sonho de uma noite de primavera.

Mas, 35 anos antes, ninguém havia previsto o que realmente aconteceu em São Paulo.  E não se trata de quedas de aviões sobre casas térreas, sobrados e ruas como, infelizmente, os noticiários já nos mostraram ao longo dos anos na maior cidade brasileira.


 
                                          

Acima, foto do local atingido pelo B-25 Mitchell no Empire State Building, em Nova York, que resultou em 11 mortes e 26 feridos e teve como fator preponderante um fator meteorológico (denso nevoeiro).

(crédito: domínio público)

 

 

Um fato inédito na cidade de São Paulo – e que, graças a Deus, jamais se repetiu – ocorreu em um sábado muito chuvoso, o dia 24 de março de 1979. Até então, aquele parecia um sábado como tantos outros em Moema, um bairro nobre da cidade.

Por volta de 19h30, a professora de sociologia da FMU (Faculdades Metropolitanas Unidas) Miriam Gomes da Silva, 40 anos de idade, juntamente com uma amiga, desceu do 15º andar do Edifício Marajó, onde residia. Como a chuva estava intensa, ela subiu de volta ao apartamento para dar um telefonema – claro, eram tempos em que telefones celulares ainda não estavam disponíveis no Brasil – pois resolveu ir buscar seu filho Wagner Roberto, de 13 anos, no clube de escoteiros que ele frequentava, embora não fosse muito distante de lá. Normalmente, ele voltava sozinho para casa mas, diante de tal volume de chuva, a professora percebeu que, se o filho ficasse no ponto de ônibus, ele ficaria encharcado e, se ficasse abrigado dentro do clube, não veria o ônibus passar. Então, após avisar o clube resolveu pegar o automóvel e ir buscá-lo.

Ninguém ainda sabia como a decisão de Miriam simplesmente salvou sua própria vida naquela noite.

Muito pouco tempo depois, em frente ao Edifício Marajó, Adélia Lapenta Barbosa e sua família jantavam em casa. Eram aproximadamente 19h45 quando a família foi surpreendida pelo barulho de uma explosão e o clarão que iluminou brevemente a noite. Todos correram para a porta e olharam para cima. Havia um incêndio no vizinho Edifício Marajó. E lâminas de fogo caíam no jardim do mesmo prédio.

Em outro curto espaço de tempo, a professora Miriam já estava voltando para casa com o filho quando percebeu um grande tumulto justamente na esquina das ruas Ministro Gabriel Resende Passos e Inhambu, bem onde fica localizado o Edifício Marajó. Uma multidão formada por seus vizinhos e dezenas de curiosos dividia espaço com carros de bombeiros recém-chegados, algum já com escadas Magirus estendidas.

Horrorizada, Miriam olhou para cima e viu chamas no andar onde ela residia!

Sem pensar duas vezes, como ela contou em uma entrevista, rompeu a multidão, tomou o elevador e, chegando à entrada do apartamento 151 deu de cara com homens do corpo de bombeiros combatendo um incêndio exatamente na biblioteca onde, até menos de meia hora antes, a professora passara a tarde inteira preparando aulas.

Boa parte de sua residência estava destroçada. Um avião bimotor havia colidido contra o edifício e se dividira em dois dentro do apartamento. O motor direito, que arrebentou a biblioteca ao lado do banheiro, ficou onde estava a mesa de trabalho da professora. A parte traseira da cabine e a cauda ficaram do lado de fora, enquanto gasolina em chamas escorria pela fachada lateral externa atingida. E três mortos, os ocupantes da aeronave, estavam no banheiro.

Mas talvez nada se comparasse ao flagrante presenciando pela empregada doméstica Maria de Fátima Góes. A pernambucana de 21 anos, que trabalhava e residia no apartamento 161 do mesmo edifício, atraída pelo som da tempestade, foi à área de serviço checar a intensidade da chuva mas o que viu foi muito pior do que poderia imaginar. Segundo ela se recordaria “Vi um negócio bem grande entrando no prédio, seguido de dois fortes abalos e uma explosão! Surgiu uma chama que quase queimou meu rosto e muita fumaça! Pensei que o prédio estivesse caindo! Ajoelhei, depois, não vi mais nada!”

O “negócio” era, simplesmente, uma das asas do avião bimotor que havia colidido com a lateral do prédio e atingido principalmente o 15º andar na lateral dos apartamentos que davam frente para a rua Ministro Gabriel Resende Passos.

O dono do apartamento 161 jantava com as quatro filhas e a esposa e correu até a área de serviço tão logo ouviu o barulho, e ali viu, além do fogo, Maria de Fátima desmaiada. Ele não teve tempo para pensar em mais nada e carregou a empregada, bem como sua filha de três anos, para fora do apartamento e mandou os demais familiares descerem pelas escadas. Aliás, vários moradores tiveram a iniciativa de evacuar o edifício e a evacuação foi tranquila, apesar daquelas circunstâncias.


 




 
 Sobre fotos recentes, a localização da colisão contra o Edifício Marajó.

(crédito: Google)


No momento da colisão, o apartamento 174, na ala dos apartamentos que davam frente para rua Juriti, paralela à Gabriel Passos, também estava ocupado. Lá morava Isaltino Brochado Neto. Quase 46 anos após o ocorrido, esta repórter conseguiu localizá-lo e ele conseguiu se recordar de muitos detalhes daquele fatídico sábado. Ele conta: “Eu estava em casa, deitado no sofá, e minha ex-esposa estava sentada numa poltrona, com uma almofada amparando-a de cada lado.”

Grávida, a então esposa de Isaltino aguardava o primeiro filho do casal, que estava prestes a nascer.

“Quando houve aquele estrondo, eu falei assim: “Nossa, deve ter acontecido uma explosão de gás!” mas minha mulher comentou “Não pode ser, aqui é gás encanado.”

Pela porta da cozinha, Isaltino pôde ver um clarão. Ele cruzou a cozinha, chegou à área de serviço e, quando abriu a janela da área viu um pedaço de asa de avião incrustrado no apartamento da dona Miriam, no 15º andar.

 


O bimotor atingiu diretamente o 15. andar do Edifício Marajó exatamente no apartamento 151, também afetando parcialmente os apartamentos 161 e 141. Essa fachada fica diante da rua Inhambu. Na seta, janela da área de serviço do apartamento 174, de onde Isaltino B. Neto descobriu o que havia acontecido.

(crédito: Jornal da Tarde - reprodução)

 

 

Croqui mostrando localização dos apartamentos de final 1, 2, 3 e 4 e onde o avião atingiu o prédio. No apartamento 151, o cômodo destinado à empregada doméstica era a biblioteca da professora Miriam.

(crédito: Isaltino Brochado Neto)

 

Ele foi um dos moradores que percebeu o silêncio que antecedeu a colisão – com a proximidade do Aeroporto de Congonhas, a cerca de dois quilômetros dali, não era nada normal a aproximação silenciosa de uma aeronave, inclusive com as luzes externas apagadas, como outras testemunhas perceberam, e sem contar que o avião estava completamente fora da rota normal conhecida, como depois todos perceberiam.

 


Localização do edifício atingido, completamente fora da trajetória correta de aproximação final para a então pista 16 R do Aeroporto de Congonhas. Colocado no mapa também, o Shopping Ibirapuera é referência bem conhecida, sendo sempre sobrevoado, até hoje, pelas aeronaves quando a pista em uso é a atual 17 R ou 17 L.

(crédito: arte sobre Google Maps)

 

Uma longa noite estava apenas começando para Isaltino. Simplesmente, há menos de dois meses ele passara a ser o subsíndico do Edif. Marajó. O síndico em si estava viajando – alertado sobre o ocorrido, ele anteciparia seu regresso e no domingo já estava de volta – e, por sorte, o síndico anterior encontrava-se no prédio. “E ele estava com pneumonia...” lembra Isaltino, que hoje ri do conjunto da situação toda, mas por puro nervosismo, por relembrar dos momentos tensos e inusitados em que se tornou um dos protagonistas, representando o condomínio em uma situação jamais imaginada que poderia um dia acontecer. “O pepino sobrou para mim”, ele disse. Isaltino nunca havia tido antes a ideia de ser subsíndico, até o momento de formar uma chapa, vencedora por sinal, com outro morador do 17º andar com o objetivo de resolverem um problema de infiltração no solário da cobertura.

Formando em Engenheira Elétrica e com então 25 anos de idade, ele teve duas preocupações iniciais. Primeiro, ligou na portaria e pediu para o porteiro chamar os dois elevadores para o térreo e desligá-los. Pois via fogo escorrendo pela fachada e não tinha ideia do alcance do incêndio.

Isso feito, a providência seguinte e urgente passou a ser tirar a esposa de lá. “Ela já tinha estado na maternidade, o médico conseguiu segurar o neném mais uns dias. Meu primeiro filho nasceria cerca de 17 dias depois” – ele se recorda. O casal começou a descer a escada e, chegando ao 15º andar, Isaltino encontrou o zelador, sozinho, tentando inutilmente arrombar a porta do apartamento 151, onde ele desconhecia se a professora Miriam estava ou não em casa.

Como todas as pessoas estavam descendo pela escada, Isaltino disse para a esposa ir descendo também, devagarinho, “não dá pra correr com essa barriga” e acrescentou que iria tentar ajudar o zelador a arrombar a porta do 151. Foi quando chegaram dois moradores fortes para ajudar. Eles pularam duas vezes naquela porta e foi o suficiente para conseguirem estourar a fechadura e entrar. Isaltino já tinha puxado a mangueira de incêndio para o combate inicial ao fogo e avisou os três homens que iria descer, porque precisava tirar a esposa dali, preocupado como estava se, diante de toda aquela tensão, seu filho já iria nascer ou não. O zelador e os dois moradores conseguiriam extinguir o foco inicial do incêndio

O subsíndico desceu correndo, passou pela portaria, pediu para seu pessoal, que já havia chamado o corpo de bombeiros, para fechar a portaria e pedir para as pessoas ficarem do lado de fora,e ninguém entra, a não ser que chegue aqui alguém da Força Aérea, ou alguém que se responsabilize pelo prédio”. Mas pediu também para não desligarem a eletricidade, pois o prédio não tinha gerador de emergência e as pessoas precisariam de iluminação para descer as escadas. E foi levar a esposa até a casa de seus pais em Higienópolis.

Foi justamente enquanto ele levava a esposa para um lugar seguro que a professora Miriam chegou e subiu.

E quando eu cheguei de volta” – disse o subsíndico – “os bombeiros já tinham apagado em definitivo o incêndio, bem como já tinham liberado o uso dos elevadores porque eles tinham constatado que a colisão não tinha causado nenhum dano excessivo” recorda-se. “E é aí que eu subi até meu apartamento, peguei a mala do nenê e desci, porque aí meu cunhado estava junto comigo e levaria para minha ex-esposa.”

Mas o condomínio permanecia fechado para os demais moradores. Situação em que sempre aparece alguém querendo quebrar uma regra, como foi o caso de um senhor dizendo que ele era um delegado e queria subir. Ele apresentou uma identidade mostrando que era delegado do Detran (Departamento de Trânsito) e foi aconselhado, então, a cuidar das ruas do entorno do edifício, e não do acidente aéreo lá em cima, porque havia o risco de cair algum pedaço do avião em cima dos carros na rua e até provocar um novo foco de um incêndio lá embaixo também.

Mas ele insistia em subir, ameaçou prender quem o impedisse, e só foi desencorajado diante da quantidade de repórteres que estavam filmando tudo, até sua teimosia.

Para a sorte de Isaltino, nesse momento chegou o pessoal da FAB, que iria tomar conta da situação. O subsíndico apenas pediu a eles permissão para ele e também para o ex-síndico poderem circular pelo prédio para cuidar da segurança dos apartamentos e dos moradores.

Assim foi feito e os dois subiram, indo de apartamento em apartamento, porque muita gente havia saído largando a porta aberta. Elas foram fechadas e as chaves recolhidas em uma caixa para os condôminos pegarem depois.

Pelo que Isaltino se recorda, teria sido no 2º ou 3º andar, apartamento 23 ou 33, onde, quando o ex-síndico tocou na porta verificou que estava aberta e parecia que haviam saído e deixado a televisão ligada. Ele, então, entrou para desligar a TV e surpreendeu-se ao ver uma senhora idosa lá dentro assistindo a algum programa – e ela se assustou com aquele homem entrando. A moradora sequer sabia o que estava acontecendo, não havia ouvido nada. A empregada que residia com ela havia saído correndo e disse, depois, que havia gritado para a patroa “vamos sair que teve um problema!” mas a idosa achou que a empregada havia saído para comprar alguma coisa e permaneceu lá. Ficou nervosa quando o visitante inesperado contou o que havia acontecido mas ele logo pediu-lhe calma, explicou que os bombeiros já haviam apagado o incêndio e o pessoal da Força Aérea estava resolvendo a situação do avião, e ajudou-a a descer.

Quando Isaltino entrou no apartamento 151 já sem incêndio, a imagem era degradante. Segundo ele, dos três ocupantes do avião, apenas um dos corpos estava inteiro, tendo sido jogado para a frente dos outros, mas todos ficaram dentro do banheiro da residência.

Cerca de três horas após a colisão, uma das partes da cauda da aeronave que havia ficado do lado de fora do apartamento, desprendeu-se e caiu sobre o jardim, causando um estrondo. Enquanto isso, já estava sendo instalado um sistema de guincho na cobertura do prédio e, após mais meia hora aproximadamente, o restante do avião cravado na parte externa, já amarrado pelos bombeiros, começou a ser arriado por cordas até o chão, para a decepção dos curiosos que, na manhã do domingo, sob dia claro, já estavam lá nas ruas vizinhas tentando ver o avião espetado no edifício. 

Os motores também desceram graças ao guincho. “Isso foi concluído, se não me falha a memória, por volta das 2 h da madrugada do dia 25” disse Isaltino.

Restaram as manchas de fuligem provocadas pela explosão, incêndio e combustível que escorrera pela fachada. O então subsíndico lembra que a gasolina em chamas que havia escorrido havia chegado a penetrar nos vãos de respiração da garagem, junto ao jardim do térreo, mas, felizmente, sem atingir os automóveis lá dentro.

Representantes da construtora do edifício, que era novo e tinha então apenas seis anos desde inaugurado, inspecionaram todo o prédio após os destroços terem sido removidos e concluíram que nenhuma estrutura principal havia sido atingida. A seguradora, além da restauração da área comum (externa) assumiu também  a restauração do apartamento da professora Miriam que, com o dia claro no domingo, pode presenciar melhor os danos. Ela tinha o coração estraçalhado pela perda de sua biblioteca. O fogo havia consumido cerca de 1.500 livros, a maioria deles sobre sociologia, inclusive alguns exemplares raros. A tarde do dia 24 de março havia sido a última em que ela teve a companhia deles. Segundo ela, o que perdeu de livros seria um valor maior que o próprio valor do apartamento.

Os apartamentos 161 e 141 foram outros afetados diretamente pela colisão e incêndio, embora menos que o 151. O susto havia sido grande mas, por muita sorte ou por um grande milagre, especialmente para a professora da FMU, nenhum dos moradores havia se ferido. No entanto, o avião transportava aquelas que viram a ser as três vítimas fatais: o empresário e piloto Paulo Ernesto Robba, de 37 anos, sócio de uma empresa de Engenharia; Hugo Francisco Boggio, engenheiro e marido da repórter Isabel C. Dias de Aguiar Boggio, da editoria de economia do jornal Folha de S.Paulo, e o promotor público da cidade de Águas da Prata, Carlos Siqueira Neto.

Na segunda-feira à noite, no salão de festas do Edifício Marajó, um padre rezou uma missa com a presença dos moradores para ajudar a tranquiliza-los.

Isaltino continuou morando no Edifício a tempo de acompanhar toda a restauração mas, em 1980, já estava se mudando para Goiânia. O Edifício Marajó permanece firme e forte no local e o apartamento 174, de propriedade do irmão do ex-subsíndico, hoje está alugado.

Vinte e sete anos depois, Isaltino perderia, no acidente com o voo 402 da TAM, que havia decolado de Congonhas rumo ao Rio de Janeiro, um grande amigo, que não era para estar naquele voo – mas havia perdido o voo anterior –, ao mesmo tempo em que seu irmão e um colega de empresa salvaram-se do desastre com o mesmo avião da TAM e o mesmo voo onde deveriam estar, pois não chegaram a tempo de embarcar no Fokker 100. Isaltino, por sua vez, viajou muito de avião a trabalho, especialmente entre Florianópolis e São Paulo mas, no ano passado “aposentou-se” como passageiro frequente, para poder permanecer mais em casa, e trabalhando em home office.

 

A APURAÇÃO DA AERONÁUTICA

Mas, por que o bimotor estava fora de rota, e entrou em rota de colisão com um edifício de 17 andares?

Segundo o relatório do SIPAER – Serviço de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos – a que tive acesso – embora a data do acidente esteja indevidamente catalogada como 25 de março, tendo ocorrido na verdade no dia 24 de março – a aeronave PT-IKT, um Piper PA-34-200 (Seneca II) com número de série 34-7350162 e autorizada apenas para voos visuais (VFR) diurnos havia decolado à noite de um aeródromo em Mogi-Mirim não homologado para tal para São Paulo (SP). Para justificar a etapa noturna, que executaria dentro da Terminal São Paulo, seu piloto havia declarado ao Controle que procedia de um campo mais distante, no caso, a Fazenda Prata, supostamente em Ourinhos (SP), cidade aonde o piloto teria se dirigido antes de seguir para a capital, segundo seu irmão.

Informações do morador Isaltino Brochado Neto, o subsíndico do Edifício Marajó, que acompanhou o caso e tinha um amigo na aviação comercial, o destino do bimotor era, na verdade, o Campo de Marte mas, devido à forte chuva, esse aeroporto estava fechado, de modo que a alternativa para o avião seria o Aeroporto de Congonhas.

Dez minutos após a decolagem o piloto Robba entrou em contato com o Controle São Paulo, que o vetorou até que interceptasse o curso do Localizador do ILS, a quatro milhas do Marcador Externo do procedimento ILS para a pista 16 (hoje, 17). Observação: naquela época, apenas a pista 16 possuía equipamentos para pouso por instrumentos de precisão (ILS).

Em seguida, Robba informou à Torre São Paulo que havia bloqueado o Marcador e estava com trem de pouso baixado e travado. O controlador liberou seu pouso informando que chovia forte sobre o aeródromo. Porém, o piloto arremeteu logo em seguida, sem informar à Torre os motivos da sua arremetida.

Imediatamente, a Torre instruiu-o a chamar novamente o Controle SP para iniciar novo procedimento. Desta vez, a vetoração foi feita até duas milhas do mesmo Outer Marker. No bloqueio do marcador Robba informou que havia avistado a pista e, novamente, que estava com trem baixado e travado. Encontrava-se a aproximadamente duas milhas náuticas da pista 16 R e o controlador avistou seus faróis. Disse-lhe “livre pouso” e desviou os olhos para atender outra aeronave, que aguardava na posição 2 para decolagem. Perdeu, então, contato visual com o Seneca, sem ter recebido nenhuma mensagem do piloto; suspendeu temporariamente as operações em Congonhas e realizou 21 chamadas ao Índia Kilo Tango, sem receber resposta.

Pilotos que frequentavam o Aeroclube de São Paulo, onde, inclusive, Robba havia concluído seu curso de piloto privado em janeiro de 1975, foram entrevistados por uma emissora de televisão (a TV Tupi) e levantaram a hipótese de Robba ter se confundido ao dizer que avistava a pista quando na verdade talvez tivesse avistado uma das avenidas da região do Parque do Ibirapuera, já que tentava voar sob condições visuais mesmo à noite e sob chuva pesada, prática condenada e chamada informalmente de “visumento”. Ele também seria um piloto que voava com pouca frequência – no relatório da Aeronáutica constava um total de apenas duas horas e meia nos últimos 30 dias – e seu avião estaria hangarado e parado há cerca de um mês no hangar do Aeroclube.

A investigação verificou que, no momento em que deixou de ser avistado pelo controlador, a aeronave havia desviado abruptamente para a esquerda, num ângulo aproximado de 40 graus com o rumo do curso do Localizador, em trajetória descendente e terminando por colidir com o edifício de apartamentos em atitude levemente cabrada, na altura do 14º andar.

Os investigadores apuraram também que as hélices não estavam tracionando no momento do impacto, o tanque de gasolina esquerdo estava sem combustível suficiente para ser utilizado, o tanque direito tinha 19 litros ainda, mas apenas 9,5 l utilizáveis e ambas as seletoras de combustível, bem como seus comandos, encontravam-se na posição de alimentação cruzada (Cross-Feed ou X-Feed).

Com isso, os peritos levantaram duas hipóteses para o acidente com o bimotor:

1) Normalmente, durante o voo, as seletoras são colocadas em posição “Aberto” (“ON”), onde o motor direito é alimentado pelo tanque direito e o motor esquerdo, pelo tanque esquerdo. Diante da falha de um dos motores por pane seca, o piloto teria que realimentá-lo com combustível do tanque oposto mediante a seleção de “X-Feed” e executar procedimento de partida do motor.

No caso do acidente com o IKT era possível que o piloto, surpreendido com uma pane no motor esquerdo, situação tão delicada em fase crítica de voo – aeronave configurada para pouso, situação meteorológica adversa, voando IFR e com baixa velocidade – teria colocado AMBAS as seletoras em “X-Feed”, até mesmo por desconhecimento do procedimento correto para tal emergência.

Na reconstituição dos PROVÁVEIS procedimentos executados por Robba, o Centro Técnico Aeroespacial (hoje DCTA) verificou que, estando o motor esquerdo parado por falta de combustível no tanque e o motor direito ainda funcionando, ao serem posicionadas ambas as seletoras em alimentação cruzada, o motor direito, com o seguinte regime – 30 Pol HG/Passo mínimo/Mistura Rica – após 20 segundos também teria parado.

Ao se analisar o esquema do sistema de combustível do Seneca II, com ambas as seletoras em “X-Feed” haveria, logicamente, uma inversão na alimentação: o motor direito consumiria a gasolina do tanque esquerdo e motor esquerdo, o combustível do tanque direito. Mas, estando o tanque esquerdo sem combustível utilizável, o motor direito inevitavelmente pararia de funcionar e o motor esquerdo, alimentado pelo tanque ainda com combustível, retornaria ao seu funcionamento normal se fosse acionado o sistema de partida – caso a hélice não estivesse girando em molinete.

Para definir essa hipótese, faltou aos investigadores encontrar componentes vitais (magnetos, bomba elétrica etc) que poderiam comprovar se o piloto procedeu ou não à tentativa de religar o motor esquerdo. Mas, embora não tenham sido encontrados, a suposição de pane elétrica total foi descartada, pela indicação efetiva de instrumentos elétricos encontrados junto aos destroços. Apesar da aeronave ter atingido o prédio sem iluminação externa.

Em uma aeronave sem gravadores de dados de voo, o que era um fator a dificultar, a investigação teve que levantar ainda uma segunda hipótese para o ocorrido.

2) Caso Robba tenha percebido o baixo nível de combustível do tanque esquerdo, sua primeira ação seria justamente acionar o “X-Feed” da seletora desse tanque para manter alimentado o motor do mesmo lado com combustível do outro tanque (direito), seguindo o manual da aeronave. Como a tomada de alimentação do tanque fica em um nível acima da quantidade de gasolina residual (9,5 l), os dois motores utilizariam os 9,5 l restantes, do total de 19 l marcados como quantidade do tanque. Mas, ainda assim, o avião não estaria completamente seguro. Porque as variações em atitude e inclinação das asas da aeronave poderiam provocar o escoamento da gasolina para áreas do tanque que, distantes do acesso à tomada de alimentação, forçariam a bomba a succionar ar para as linhas de combustível, o que poderia causar a falha de um ou de ambos os motores. Na dúvida, ou até mesmo no desespero, Robba teria colocado ambas as seletoras em “X-Feed”, provocando a situação anterior (hipótese 1)

Ao ouvir testemunhas (reabastecedores) e cruzar informações da documentação pertinente (Caderneta Individual de Voo do piloto) a investigação concluiu que o Seneca não possuía combustível suficiente para ir a uma alternativa mais 45 minutos de voo, dentro da legislação em vigor na ocasião. O piloto ainda arriscou-se em ir para um aeródromo de destino que poderia ser interditado a qualquer momento, devido às condições meteorológicas – tendo sido a intenção inicial pousar no Campo de Marte, antes da opção Congonhas, foi justamente o que ocorreu.

Um detalhe técnico muito importante e que poderia ter contribuído para o acidente no caso em questão estava bem perto do piloto.

Foi verificado que os comandos das válvulas seletoras de combustível não possuIam travas ou sequer algo que pudesse mantê-las na posição “ABERTA” (“ON”), permitindo, assim, que passassem para a posição “FECHADA” (“OFF”) diretamente, sem paradas, sem relevos, sem saliências. E mesmo a posição ocupada pelo painel de comando das seletoras, entre os assentos dianteiros, era vulnerável a mudanças inadvertidas. As próprias alavancas, pelo uso continuado, poderiam se tornar ainda mais macias ao serem movimentadas. Nessa situação, Robba poderia até mesmo ter colocado uma delas em “OFF” sem querer.

 

 Localização da seletora de combustível entre as poltronas do Seneca II

(Fonte: canal Passion Aviation (reprodução) https://www.youtube.com/@passionaviation1741)

 

Na colocação intencional para a posição “X-Feed” as alavancas passam obrigatoriamente pela posição “FECHADA” (“OFF”). Não se descarta uma pane de trava da válvula nesta posição, desligando o motor por falta de alimentação.

Isaltino, o subsíndico do Edifício atingido pelo avião, levantou uma terceira hipótese, a partir de comentários que circularam pela aviação – ele teria tido acesso a essa hipótese a partir de um amigo pessoal, que era piloto da Varig. Comentava-se que a bolsa de um dos ocupantes teria se enroscado nas chaves do painel da seletora de combustível, localizada, como foi citado, entre os bancos dianteiros do avião. Isaltino lembra que, na época, os homens costumavam andar com uma bolsa a tiracolo, com uma alça longa.

 

TRADUÇÃO COM ERROS E OMISSÕES

 

 

O PT-IKT era um Piper “Seneca II” fabricado nos Estados Unidos – lembrando que o Brasil também produziu aeronaves da linha Piper, por alguns anos, sob licença, pela Embraer/Neiva. Embora homologado pelo DAC – Departamento de Aviação Civil (antecessor da ANAC) o Manual do Piloto, em sua tradução para o português, apresentava, segundo a investigação, erros e omissões:


a) No item que se referia a “Operação Cross-Feed e monomotor” o texto original da fabricante dizia que “A X-Feed é provida para aumentar o ALCANCE durante uma operação monomotor” – o destaque em “alcance” foi feito pela investigação.


 

Mas a tradução em português, no manual, dizia “O X-Feed é determinado para acrescentar VELOCIDADE durante uma operação monomotor” – idem acima para esse destaque em “velocidade”.

No destaque acima para essa página do manual original, a seta vermelha inferior chama a atenção para que não se deveria colocar ambas as seletoras em "X-Feed".


 

b) Uma omissão fundamental no manual traduzido na época – acrescentado apenas posteriormente, conforme imagem acima – refere-se a uma nota importante emitida pela Piper, constante no manual original em inglês: “Uma tubulação de retorno de vapores, em cada motor, fará voltar ao tanque daquele mesmo lado uma determinada porcentagem de gasolina. Por isso é necessário que se use, no mínimo, 30 minutos de combustível desse tanque, antes de se selecionar ‘X-Feed’. Se o medidor estiver próximo à posição ‘Full’, selecione novamente esse tanque e utilize-o por 30 minutos para diminuir o seu nível antes de voltar a operar em ‘X-Feed’. Caso contrário, algum combustível será expelido para o exterior através da tubulação 'VENT'”.

A conclusão foi de que os fatores que contribuíram para o trágico acidente com o PT-IKT incluíam o ser humano do ponto de vista biológico como contribuinte e como fatores operacionais – ações do ser humano no desempenho da atividade aeronáutica – as condições meteorológicas adversas, a deficiente operação da aeronave, um deficiente planejamento de voo, além de uma deficiente doutrina de segurança de voo.

Além das recomendações para que pilotos tenham disciplina suficiente para seguir todas as normas e regulamentos pertinentes às operações aéreas, julgando a viabilidade de execução de um voo e planejando adequadamente a missão, deveriam ter serenidade psicológica suficiente em caso de emergências, o que requer também pleno conhecimento dos sistemas da aeronave.

A investigação também recomendou, na época, que a Embraer, juntamente com o CTA, realizasse estudos para efetuar modificações no sistema de comando das válvulas seletoras de combustível, evitando as deficiências observadas nessa aeronave. E, por último, o DAC deveria rever todo o Manual de Operações de aeronaves daquele modelo para esclarecer dúvidas em relação ao sistema de “X-Feed” e divulgar amplamente esses esclarecimentos.

 


O SENSACIONALISMO E A DESINFORMAÇÃO

 

 
(crédito: reprodução da internet)

A curiosidade mórbida e o sensacionalismo, a partir do próprio dia do acidente, uniram-se a uma polêmica antiga, e colocaram mais uma vez em dúvida a existência do Aeroporto de Congonhas na cidade. Mas o fato é que praticamente todos os acidentes aéreos ocorridos na região, antes e depois desse, e incluindo a própria colisão do PT-IKT não tiveram como fator preponderante a localização do aeroporto em si.  

Por sua vez, a análise da cobertura da imprensa na época inevitavelmente deixaria qualquer leitor repleto de dúvidas sobre alguns acontecimentos relacionados ao acidente. As várias versões para qual teria sido o avião que colidiu com o edifício, em pelo menos quatro jornais, apresentaram confusão entre os modelos “Asteca”, “Navajo” e “Cherokee”, todos realmente da fabricante Piper. Sendo que poucas publicações acertaram ao escrever que se tratava de um “Seneca”.



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