DESMONTADO O ÚLTIMO A300
QUE RESTAVA NO BRASIL
QUE RESTAVA NO BRASIL
E o PP-SNM deixou de ser um avião. Após o desmonte/picote dos irmãos PP-SNL e PP-SNN que estavam em Congonhas, autorizados pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), como os leitores puderam acompanhar por este Blog, no mais completo acompanhamento jornalístico do destino dos bens, aviões e suvenires da saudosa Vasp já publicado pela imprensa nacional, restava o November-Mike. Ele parou no Aeroporto de Guarulhos e lá ficou, na área chamada de "cemitério", de onde, pouco a pouco foram sendo retirados outros aviões e restaram até recentemente apenas três: além dele, o DC-8 PP-BEL da Beta e o 727 da Fly matriculado PP-JUB.
No dia 30 de setembro de 2013, ocorreu o leilão do PP-SNM, junto com outros aviões da Vasp Brasil afora. Estranhamente, o A300 foi arrematado por meio milhão de reais mas o suposto arrematante, que o havia feito online, não de maneira presencial, jamais apareceu para pagar e reivindicar sua aeronave, enquanto todos se perguntavam: "O que o sujeito vai fazer com um avião que não voa mais e cujo desmonte e transporte, com certeza, vai custar uma nota preta?"
Seria ele um laranja? de quem? Por quê?
O tempo passou, outros aviões, inclusive parados no GRU, foram sendo retirados pelos seus proprietários ou preparados para deixar o aeroporto no ano seguinte, e o A300 ainda lá.
No dia 30 de janeiro de 2014, já que não foi pago nem reivindicado, o Airbus foi leiloado de novo, e arrematado, desta vez por um valor muito mais realista, R$ 80 mil por um empresário de Franca, completamente fora da área da aviação, que participa de tudo quanto é leilão que aparece, mesmo sem planos concretos para os objetos de desejo.
Tendo ido somente em março ver o avião, o empresário descuidou de seu grande bem. Nesse ínterim, GRU havia sido invadido – a administração do aeroporto nega, mas, contra evidências e fotos não há o que negar – pois vários dos aviões lá no cemitério foram pichados, melhor, grafitados – o que requer mais tempo para os invasores permanecerem no local – e vários instrumentos de alguns dos aviões foram furtados, o que o empresário de Franca constatou ao ir visitar seu Airbus, pronto para começar a desmontá-lo, em maio seguinte.
Tudo isso foi publicado neste Blog: fotos "antes e depois", por exemplo.
Furtar instrumentos aeronáuticos não é uma brincadeira de entusiastas. Todo mundo comenta – e autoridades fazem vista grossa – que há tráfico desse material no GRU Airport, sendo que as peças e instrumentos oriundas de aeronaves abandonadas ou em manutenção no pátio remoto alimentam um mercado clandestino que envolve países africanos, que ainda voam aviões como os Boeing 737-200 e Airbus A300. Como isso sai do país, quem comanda isso e quem são os envolvidos, ninguém sabe, ninguém viu. Mas, com absoluta certeza, instrumentos que foram retirados do painel do A300 PP-SNM, por exemplo, não foram destinados às estantes de entusiastas, e sem saíram de lá andando sozinhos.
GRU nega que tenha havido desvio de peças e instrumentos do Airbus no cemitério. Ou alega que já haviam sido retirados quando da administração da Infraero, antes da concessão do aeroporto. Mas fotos que um colega nosso fez em 30 de setembro de 2013 provam o contrário:o painel estava todo lá, impecável, e nenhum instrumento estava fora de seu lugar original. Depois, em março, o empresário de Franca chegou a fotografar instrumentos no chão do avião, como se estivessem sendo preparados para serem levados embora, num segundo momento.
Devemos perguntar quem invadiu uma área aeroportuária, que sempre é de segurança máxima (ou deveria ser) enquanto que pessoas que querem ir até lá oficialmente levam horas para conseguir crachá e acompanhante armado para acessar o espaço.
Bem, alertado para o tráfico de peças, que poderia respingar sobre si próprio se as peças fossem posteriormente localizadas em outras aeronaves e, pior, se causassem acidente por não serem peças confiáveis, o empresário de Franca tratou de fazer imediatamente um Boletim de Ocorrência na delegacia do aeroporto e solicitar perícia policial... que só foi feita muitos meses depois, após uma primeira tentativa fracassada porque o GRU Airport não providenciou uma escada para os peritos acessarem a aeronave sinistrada e os peritos não quiseram ter o trabalho de exigir esse apoio físico – outro dos fatos suspeitos envolvendo o avião.
A demora de autoridades – desde o CNJ até os peritos policiais –, do GRU Airport, que fez cara de paisagem, e do próprio arrematador do avião levaram à decisão judicial e unilateral dos administradores do aeroporto – que perde gato, cachorro, mala, passageiro etc, – a desmontar o PP-SNM. São fatos por debaixo dos panos que o passageiro que fica maravilhado com os novos terminais e perfumaria não imaginam a gravidade que possuem.
Estamos ainda apurando o destino dos restos mortais do único Airbus A300 que ainda restava no Brasil, pois a assessoria de imprensa do aeroporto trata com imenso descaso essa questão, como se o cemitério fosse apenas um vizinho chato e fora de sua responsabilidade.
Enquanto isso, descanse em paz, SNM!!!
(Foto: Solange Galante)