segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

SPEECH

 MINHA HOMENAGEM AO "ALEMÓN" MAIS BRASILEIRO QUE JÁ CONHECI

Ele partiu para o outro plano no útimo dia 15 de dezembro.



(por Solange Galante)

Como conheci ULRICH F. HOPPE? Já não tenho certeza mas, provavelmente, foi na antiga Convenção do Clube do Manche, uma feira/encontro de colecionadores e entusiastas de aviação onde, vez por outra, estrangeiros também participavam.

Como acontece com toda amizade, aos poucos vamos conhecendo tudo o que agrada ou desagrada nossos amigos, gostos que compartilhamos ou não.

Para resumir o que eu conhecia sobre o "Uli", como era mais conhecido aquele alemão que trabalhou praticamente a vida toda no Grupo Lufthansa, de onde se aposentou há poucos anos como engenheiro, ele falava bem o português, mas sempre com sotaque – até quando estava escrevendo! O que me fazia, às vezes, pedir para que ele "traduzisse" ou explicasse melhor, mesmo que fosse em inglês!

Mas eu acho que, sem dúvida alguma, a característica mais marcante do Uli era seu grande amor pelo Brasil, sobretudo pela Amazônia. Lá em Manaus ele tinha um apartamento onde vive sua esposa, brasileira e pesquisadora. Mesmo quando ainda estava trabalhando na Lufthansa Technik, ele sempre vinha ao Brasil pelo menos duas vezes por ano, para ficar por várias semanas. Ele já passou, inclusive, as festas e Natal e Ano Novo em Parintins (AM), a cidade do Boi Bumbá, onde Uli era fã e torcedor do "Caprichoso", o Boi preto com uma estrela azul na testa. Para quem não sabe, esse evento folclórico, a Festa do Boi Bumbá, ocorre anualmente em Parintins sempre na última semana de junho e a cidade é praticamente toda dividida – não só na época da festa – entre os dois Bois concorrentes, sendo que a cor vermelha é de apoiadores do Boi Garantido, branco e com um coração vermelho na testa, enquanto o já citado Boi Caprichoso é inspiração para seus fãs investirem na cor azul, seja nas paredes das casas quanto na escolha do carro ou moto, roupas etc.

VÁRIAS PAIXÕES

Ulrich era uma pessoa que vivia intensamente suas paixões. Viajar por todo o mundo, fotografar aviões, trens, navios, ônibus, ou mesmo fazer fotos turísticas "padrão", ou seja, estando do lado de atrações locais. Viajava sozinho ou acompanhado de amigos que dividiam com ele os mesmos hobbies (spotting, em especial). Sempre muito bem humorado, posava com chapéus típicos ou diante de placas identificadoras das cidades, e não perdia nem mesmo uma revoada de cegonhas no céu europeu: tudo podia ser alvo de seus cliques. Como funcionário da Lufthansa, constantemente voava, mesmo em aviões cargueiros da companhia, registrando muitos detalhes de seus voos. 

Mas era na Amazônia que ele se realizava. Tão logo chegava a seu apartamento, procurava pelo casal de araras vermelhas que viviam na mata nativa atrás de seu condomínio. Lembro como ficou triste há alguns anos, quando percebeu que a mata havia sido queimada na estação seca, por isso, não estavam lá suas queridas vizinhas. Mas a mata renasceu e, já no ano seguinte, ele voltou a clicar o casal e outras araras lá vivendo.

Talvez o segundo compromisso, em Manaus, fosse sempre beber um suco de frutas tropicais na Skina do Suco. Ou comer uma feijoada acompanhada de uma caipirinha. E o terceiro, o quarto, o quinto compromissos fossem pegar um avião de empresa aérea pequena ou mesmo um táxi aéreo e voar para o interior do Amazonas, para cidades pouco conhecidas da maioria dos turistas "normais" na região. E lá ia ele registrando em foto e/ou vídeo micro aeroportos, pistas quase isoladas no meio da floresta, e aviões mono ou bimotores para poucos passageiros.

Uli jamais deixava de compartilhar seus registros. Às vezes, eu lhe pedia material para minhas reportagens e ele enviava para o meu email dezenas de fotos que havia feito em determinado lugar, como em Itaituba, para ilustrar o que eu escrevia sobre aviação regional. Mas, às vezes, eu também lhe pedia fotos mais antigas ou de aviação comercial ao redor do mundo. Eu não deixava, é claro, de colocar os créditos de suas fotos, com o nome Ulrich F. Hoppe.

Falando em fotos mais antigas, de tempos em tempos ele inundava seu perfil no Facebook com registros bem antigos, de quando fotografava com equipamento analógico e em preto e branco. Inclusive cliques feitos em aeroportos brasileiros nos longínquos anos 1970. E tudo que ele postava em seus grupos de fotografia eram alvo de muitas "curtidas" principalmente por parte de seus amigos alemães e brasileiros, alguns destes, nossos amigos em comum. Aliás, ele tinha o hábito de somente carregar no Facebook fotos de própria produção, jamais fotos de terceiros, fossem quem fossem.

Eu estava ansiosa para que Uli viesse conhecer minha casa. Como ele geralmente só passava por São Paulo rapidamente, ou nem saía do aeroporto de Guarulhos pois estava em conexão, estava mesmo difícil nos coordenarmos.  Mas o consegui no ano passado. O interessante é que separei uns presentes de aviação para lhe dar mas ele recusou. parece que o problema era realmente não ter herdeiros para suas coisas de aviação, ninguém mais na família se interessava pelo assunto, então ele mantinha apenas suas fotos como coleção. Aliás, sabendo que eu sempre gostei da Lufthansa, ele sim me presenteou com dezenas de cartões postais da companhia, que costumava imprimir esse tipo de material e distribuía a funcionários e clientes. Muitos deles já expus aqui no Blog.

Falando em postais, quando visitei o escritório do Ulrich em minha viagem à Alemanha em 2017, lá no aeroporto de Frankfurt, além de ter me dado alguns, também me levou para visitar o pátio do aeroporto onde estavam alguns aviões novos ou exclusivos, como um Boeing 737 usado em treinamentos para o Grupo Lufthansa. Esse não foi, a propósito, meu primeiro encontro com ele na Alemanha. Em 2011 me levou a um "spotting point" de onde fiz muitos registros, inclusive do então ainda novo em várias frotas gigante Airbus A380. Em 2017 também me levou para outros spotting points. Ou seja: ele sempre era atencioso, educado, um excelente anfitrião, seja em seu ambiente ou fora dele.

As fotos abaixo, de minha coleção pessoal ou de seu Facebook, são apenas uma amostra de quem era essa pessoa que partiu exatamente na metade de dezembro de 2022 e exatamente na cidade do mundo que ele mais amava e para a qual sempre migrava para se sentir reenergizado.

(TODAS FOTOS DE ULRICH F. HOPPE).

Embarcando em Altamira para voar para Itaituba.

Suas vizinhas, com quem se reencontrava todos os anos.

Barcelos, interior do Amazonas.

Flashback de fotos. Uli contando a história da Lufthansa.

A paixão pelo Boi Caprichoso.

Chapéu panamá no... Panamá!

No passado, voando no avião prediletíssimo, o Lockheed Electra!

Quando arrumava tempo para passear em São Paulo, admirava muito
a arte de rua!

Voando no cargueiro da Lufthansa rumo ao Brasil.

Mais uma foto para a coleção de seu lado "busólogo".

"Batendo cartão" na Skina dos Sucos.


Paixão por fotografar trens e viajar neles.


Ângulos diferentes para registrar seus voos.


Nesta e nas outras fotos abaixo, os incansáveis registros da Amazônia.




Spotting no Aeroporto Eduardo Gomes, em Manaus.


Simplesmente, uma de suas últimas fotos postadas no Facebook.


Nas homenagens após seu falecimento, o resgate de encontros passados de vários amigos.
(Foto: coleção Afonso Delagassa)

(Foto: coleção Solange Galante)
 

Take-off Azulconecta Cessna Carvan PR-WOT TFF-IRZ 08.12.2022
(crédito: Ulrich F. Hoppe)

Você estará sempre em nossos corações, Uli!!!




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