segunda-feira, 31 de maio de 2021

SPEECH

 MAIS DO QUE DIVERSÃO

E MAIS DO QUE PASSATEMPO:

PROJETO LOUCOS POR AVIAÇÃO!




(fotos: todas da coleção pessoal de Romeo Rodrigues)

(por Solange Galante)
A paixão por um A300 da VASP...

Este Projeto pretende registrar as loucuras que os apaixonados por aviação chegam a fazer para colecionar alguma coisa referente ao tema! PARTICIPE TAMBÉM enviando sua história!

Por exemplo: este entusiasta se desdobrou para conseguir uma lembrança de um Airbus e conseguiu uma palheta do motor dele. Afinal,  não era uma palheta qualquer.  

Ele se apaixonou pela aeronave, assim como eu me apaixonei pelo Boeing 767-200 PT-TAC da Transbrasil, do qual tenho partes também.

Veja mais sobre este entusiasta!!!



Romeo Rodrigues tem 38 anos recém-completados, é formado como comissário mas ainda trabalha como publicitário. Ele mora em Recife (PE)



Caixa Preta: Como você começou a se interessar por aviação e por quê? 

Romeo Rodrigues: Sou apaixonado por aviões desde que me entendo por gente. Essa paixão carrego comigo desde os tempos que levava meus familiares ao aeroporto. Minha aproximação com a aviação se deu através do meu primeiro voo. Fiz Recife-Fortaleza em 2002 no voo VASP VP4264. Lembro que quando fui comprar a passagem no aeroporto com minha mãe, eu teria visto de relance no sistema que a aeronave daquele trecho se tratava de um 737-200, o glorioso "breguinha". Confesso que queria o voo do A300, mas pelo que havia notado não estava programado para aquele voo. Eu estava enganado. Naquele dia tão esperado, eu, no portão 6, acesso remoto do Aeroporto dos Guararapes, vejo na minha frente uma aeronave totalmente diferente – era o então "Epaminondas" que me aguardava para embarque. Seu prefixo? PP-SNM. Não tinha como esquecer, uma vez que, da poltrona 29H, fotografei meu primeiro voo bem na hora da decolagem e aquele prefixo se destacava na foto, sobre a asa. Foi paixão ao primeiro voo. Meu voo de retorno ao Recife (adivinha!), foi feito também no PP-SNM. Daqueles voos em diante, uma relação foi estabelecida com aquela aeronave. Constantemente visitava o aeroporto para vê-lo e fotografá-lo. Ele chegava de Salvador com escala no Recife e seguia para Fortaleza no VP4264. Voltava no VP4265 e, claro, lá estava eu esperando o retorno dele. Só voltava pra casa quando ele decolava por volta das 16:50LT, seguindo rota para Salvador e Guarulhos. 

CP: Você tem alguma coleção principal, que está sempre sendo atualizada, por exemplo: safety cards, passagens aéreas antigas, revistas? 

RR: Tenho uma modesta coleção de safety cards que vai do DC9 da US Airways até A350 da LATAM, passando por raros como o da 727 da Via Brasil e afins. Acho que uns 35 no total. Outros apetrechos de voo também fazem parte do meu inventário, como copos (inclusive um da VASP que guardei de um dos voos no A300 que até hoje continua intacto), materiais promocionais de aeroportos, tarjas de bagagens, talheres, revistas de bordo, de aviação e até bandejas de serviços. Todas presenteados ou conseguidos em voo, também através da tripulação do voo, por amigos, aeronautas ou simpatizantes. 


CP: o que você tem na sua coleção o que considera mais precioso, e porquê?

RR: Sem sombra de dúvidas a resposta mais rápida e fácil de responder: uma blade do motor GE CF-6-50 que pertenceu ao meu estimado A300B2 PP-SNM. Como mencionado, vivi toda uma história com esta aeronave em particular e o ápice dessa relação foi a conquista de uma parte dele comigo. Paguei cerca de R$ 1.250,00 por ela! Descobri o link da empresa que a vendia pelo site Contato Radar.



CP: Fale mais sobre sua relação com o PP-SNM, do qual adquiriu a "blade".

RR: Quando a VASP parou, só me vinha uma coisa à mente: o destino do PP-SNM. Vi o destino inglório dos irmãos dele, o PP-SNL e PP-SNN*, e torci para que o PP-SNM fosse, de alguma forma milagrosa, conservado seja como restaurante em algum lugar do Brasil ou até mesmo – não custava sonhar – na coleção do Museu Asas de um Sonho, pertencente então à TAM. Finalmente a aeronave foi arrematada num leilão e ficou um bom tempo estocada em Guarulhos, envolta em fuligem e pó. Até que subitamente a aeronave foi removida dali e levada para uma sucata. Ainda dá para dar boas risadas quando a mídia tratou desse caso como o "mistério do avião que sumiu". Com esta remoção do A300 de GRU, iniciou-se minha missão de localizar a aeronave, pois, sem sombra de dúvidas, possuir até pedacinho de metal "retorcido" da primeira aeronave que me levou aos ares e me casou com aviação já me satisfaria. Então entrei em contato com alguns amigos de São Paulo a fim de coletar informações a respeito do paradeiro dele. Infelizmente não tive sucesso. passe a ficar de stand-by até encontrar alguma informação relevante. Foi então que fizeram uma postagem de um grupo que participo no Facebook chamado "VASP – Memórias". O post levava para uma matéria do Contato Radar com o seguinte título: "Já pensou em ter uma parte original do motor de um Airbus A300 da VASP?". Quando vi aquilo, o coração disparou. Seria do PP-SNM? ou do SNN? Ao ler a matéria tive a grata surpresa que se tratava dos blades dos motores do Sierra-November-Mike. A pauta em questão levava para o site da Aerocast Store, onde pude efetuar a compra mais emocionante da minha vida. Como era fim de ano, meu presente de ano novo já estaria garantido. Quando a blade chegou, fiz uma bela postagem no próprio grupo "VASP - Memórias" para agradecer a conquista e compartilhar minha emoção ao realizar aquele sonho. 




CP: Quanto você já pagou por algo para sua coleção? Quanto você normalmente investe em sua coleção?

RR: Como se trata de paixão, realmente não considero o preço – considero o valor daquilo que está sendo ofertado. Seja este emocional ou até mesmo histórico. No momento não ando investindo muito na minha coleção, mas estou montando um espaço memorável com os pertences referentes ao PP-SNM, onde vão constar a própria blade em destaque, uma maquete dele, safety card e algumas fotos minhas nele, inclusive no cockpit. 





CP: Você acha que se os organizadores dos leilões da Vasp tivessem pesquisado mais a respeito teriam arrecadado bastante dinheiro com a venda de suvenires que estavam dentro dos aviões que picotaram? Consta que bandejas, bagageiros, poltronas, safeties etc foram todos pro lixo ... 

RR: Sem sombra de dúvida! Esses organizadores não fazem ideia da fortuna que poderiam ter arrecadado. Eu, particularmente, pagaria um ótimo preço por uma porta de triquilha que contém o prefixo SNM, pois seria algo extremamente memorável ter esta peça com a matrícula em evidência. Realmente não sei se este pertence está com alguém ou "virou panela". Se esta peça fosse destinada pras pessoas corretas, teriam um retorno além do que valeria comercialmente aquele pedaço de metal. É uma pena que o processo de desmonte das aeronaves não levaram muito em consideração os milhares de apaixonados pela VASP e pela aviação que temos no Brasil. Se isto fosse pensado como deveria, com certeza eles teriam muito mais lucro e mais pessoas teriam seus desejos realizados.

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* Essas duas aeronaves foram picotadas em Congonhas, onde estavam paradas há anos, em abril de 2012

* * * * * 


sábado, 29 de maio de 2021

NÃO É BEM ASSIM

 


"... como falamos, como escrevemos,

como publicamos, como digitamos..."

Pérolas, deslizes e outros erros que acontecem por aí

* * * * * 

Atualizado em 03/06/2021 (vide sublinhado)

(por Solange Galante)

O olhar afiado e profissional descobre num relance deturpações do bom jornalismo, lembrando que:

* bom jornalismo é igual a credibilidade

*e o mau, consequentemente, desserviço, desinformação, piadas e até motivo de repulsas!


(E mesmo que vc pense que não está fazendo "jornalismo!... está sim, tanto quanto a grande mídia mas, talvez, sem os mesmos resultados...)


Capturei um título na internet e, sem citar a fonte, sequer o link de origem, muito menos o texto que se seguia a ele, o submeti a algumas pessoas do meu convívio com a seguinte pergunta:


"O Boeing 737-400 da Total já chegou,
mas seus pilotos estão saindo do Brasil"


***Respostas*** (MINHA análise está logo a seguir)

1) de um piloto militar, posteriormente também comercial = "PQP, Solange... Olha só, quem falou isso aí? Foi a Dilma? Pede pra traduzir! rs... Deve ser o seguinte: que o Boeing chegou e a tripulação que trouxe o avião, que é a tripulação lá do Canadá, lá da empresa, já voltou, já está saindo do país. Só pode ser isso, cara... porque...  tá parecendo a Dilma falando... Com certeza, manchete mal redigida!" 


2) de um profissional de comunicação familiarizado com a  aviação brasileira = "Que pilotos com habilitação para pilotar o equipamento estão deixando o país. Falta de oportunidade por aqui."


3) de um piloto comercial e empresário da aviação: "Estão indo para o simulador talvez."


4) de um mecânico da aviação comercial = "Entendo que quem trouxe o avião está voltando para seu país de origem."


5) de um jornalista familiarizado com aviação comercial = "Olha, esse 'mas' ferrou o texto. Lendo só este trecho, sem ler o texto completo da notícia ficou bem confuso, no mínimo. Não entendi onde chegou, porque não diz, e nem para onde estão indo os pilotos. Enfim, confuso esse trecho do texto." 


6) de um engenheiro que trabalha na Total Linhas Aéreas = "À primeira vista parece que os pilotos estão em lado oposto do processo, abandonando a empresa. Sabemos que não é verdade. Tivemos que procurar outros simuladores no exterior, visto que o existente no Brasil não está operacional neste momento."

Varias interpretações, pois o título não está claro. O que é uma péssima maneira de atrair o leitor. Pode até atrair, mas confunde e direciona de maneira equivocada sua interpretação.


"Seus" pilotos pode ser entendido como: do translado? Da Total? OU de ambos (pilotos da Total que fizeram o translado?

Se não são da Total mas sim da empresa que transladou o avião, não tem nada demais estarem saindo do país: estão voltando pra casa, certamente!

Se são da Total mas estão indo treinar no exterior, além do "mas" o uso do verbo "saindo", usado maciçamente no caso de pilotos expatriados (como quando ocorreram grandes demissões ou fechamento de empresas) pode direcionar a interpretação à resposta "2" acima. Foi esta aliás, a MINHA interpretação, antes de ler a matéria.

Exagero meu? Não é o que parece, já que leitores mais atentos comentam assim no próprio perfil em rede social do site:


Uma coisa está comprovada: os pilotos que trouxeram o avião não eram da própria Total, não havia nenhum deles a bordo. O que exclui algumas interpretações sobre a possibilidade de "seus" se referir à Total quanto ao translado.

Mas, afinal, o que a matéria diz sobre os pilotos?

"Enquanto isso, a primeira turma de pilotos que vai comandar o jato já se prepara para realizar o treinamento de simulador da Simaero, que deve ocorrer em junho, na França, segundo fontes próximas da empresa nos relataram. Essa etapa de treinamento é mandatória e parte da certificação do modelo para operar na empresa."

Enfim: ser comunicador e saber usar adequadamente a (neste caso) língua portuguesa, não é para qualquer um.

Quer ler a matéria na íntegra e tirar suas próprias conclusões? Pois não! https://www.aeroin.net/o-boeing-737-400-da-total-ja-chegou-mas-seus-pilotos-estao-saindo-do-brasil/?amp=1 

👉 "Arroz e feijão" é muito bom, desde que seja BEM preparado, mas comida gourmet é outra coisa... Por isso que os "cadernos especiais" de jornais, revistas e internet têm público fiel, selecionado e muito bem qualificado.

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Outros destaques


(Fonte da matéria: 

https://www.aeroflap.com.br/total-recebe-o-primeiro-boeing-737-cargueiro-da-sua-frota )


Título:

Trechos:



Comentário: indício de substituição ou de continuidade? Achei aí uma contradição no texto!

      Já neste trecho... 

...o nome do presidente da Total está incorreto, sendo correto Alfredo Meister, como está corretamente grafado no meu citado blog.

* * * * * 

(Fonte da matéria



Título/olho:


Trecho:


Comentário: As pessoas não saltaram ("pular" é de doer..) de paraquedas, mesmo porque a aeronave Cirrus SR-22, ela própria já tem paraquedas balístico!!! Ou seja: acionaram o paraquedas do avião!

Quer comprovação? Pois não! >>> veja em 

e em 

https://twitter.com/CockpitChatter/status/1392528760981770241/photo/2

(o Cirrus está inteiro, sinal que desceu, ele sim (e seus ocupantes dentro) de paraquedas.)

Observação: este é um erro comum em redações onde seus profissionais não têm um conhecimento de aviação suficiente para entender fatos dentro desse assunto ou buscar fontes fidedignas. Não é necessário ser um especialista no assunto para ter um conhecimento satisfatório sobre o que se irá escrever.


* * * * * 

"O governo privatiza 22 aeroportos no país e arrecada mais de 3 bilhões de reais."

(Fonte: Jornal da Cultura, 7 de abril de 2021)

Esta explicação da Câmara dos Deputados de Brasília diz tudo de maneira bem clara:

"De maneira geral, define-se privatização como a venda de órgãos ou de empresas estatais para a iniciativa privada, geralmente, por meio de leilões públicos. Já na concessão, a transferência é temporária e a empresa tem prazos definidos, que podem ou não ser renovados, além de regras para explorar o serviço." 

(publicada em https://www.camara.leg.br/radio/programas/468026-concessao-x-privatizacao-definicao-e-historico/#:~:text=De%20maneira%20geral%2C%20define%2Dse,regras%20para%20explorar%20o%20servi%C3%A7o.

Exemplos: Embraer e Vasp foram PRIVATIZADAS. Aeroportos internacionais de Natal (RN) e Campinas (SP) foram concedidos mas depois de alguns anos "devolvidos" ao Governo Federal para serem concedidos de novo, para outras empresas que se interessarem.

* * * * * 


quarta-feira, 26 de maio de 2021

ENTREVISTA ESPECIAL

 

 



Com entrevista EXCLUSIVA: 
DOMÍCIO ANGELO DA FONSECA 


Arquivo pessoal

Ex-Flight Engineer de Boeings  

(707, 727 e 747) da empresa


(por Solange Galante)


A história “rasa” da aviação (sem pesquisa, sem investigação, sem profundidade) registra que a também gloriosa e saudosa VARIG teria sido a única empresa aérea brasileira a operar o icônico Boeing 747, apelidado de Jumbo. Por exemplo, foi o que o site Aeroflap publicou no último dia 7 de maio:

"A primeira e a única companhia aérea brasileira a operar o Boeing 747, a Varig se ainda estivesse operando estaria completando hoje (07) 94 anos de vida."

Podemos dizer que a Transbrasil nunca operou uma aeronave desse modelo com suas próprias cores. Mas várias empresas operaram aeronaves, de modelos inéditos ou não, com as cores das proprietárias das aeronaves que arrendou ou alugou. Lufthansa, Futura, Euroatlantic, Britannia, Transavia, Nigeria Airways foram algumas delas que tiveram suas cores viajando nos céus brasileiros com o nome de nossas companhias (Vasp, Varig, Transbrasil, em especial) adesivado nos aviões ou não. Da mesma maneira, dizer que uma empresa nunca operou determinado modelo de aeronave porque "não era dela" também é incorreto, pois, inclusive, há décadas a maioria das empresas aéreas do mundo operam aeronaves de empresas de leasing, de propriedade de bancos ou de outras companhias. Não fosse assim, a Varig, muito maior que a Vasp, por exemplo, teria deixado em nossos aeroportos muito mais aeronaves de sua propriedade sucateadas do que a empresa paulista.

A entrevista mais abaixo  provará que a afirmação acima, de que a Varig teria sido a "única" brasileira a operar o 747 foi uma fake news. A Varig não precisa desse tipo de “homenagem”.

E O ÚNICO 747 QUE RECEBEU AS CORES DA EMPRESA ... NÃO FOI OPERADO POR ELA!


Muitos já viram algumas raras fotos do Boeing 747-100 N472EV da companhia norte-americana Evergreen repousando em Marana (Arizona) com uma cauda muito semelhante a da companhia Interbrasil Star, regional da Transbrasil. 

As fotos foram reproduzidas em reportagens de revistas, em sites especializados na internet e em livros, com comentários semelhantes a este:  

"A Aerobrasil também negociou o arrendamento de uma aeronave Boeing 747SR-46 junto à companhia norte-americana Evergreen. O negócio não foi finalizado e o jato nunca chegou a ser entregue para a empresa, apesar de ter recebido uma pintura especial, lembrando as cores da Interbrasil Star, regional pertencente à Transbrasil, e a matrícula PT-TDE (ex-N478EV)."

(Fonte: Passageiro de Primeira reproduzindo matéria da revista Flap Internacional)

No entanto, o que nem todo mundo sabe é que uma das empresas mais queridas do Brasil em todos os tempos operou sim o “Jumbo”.  Há sites que lembram disso, com pequenos registros, como o exemplo abaixo:

“Em 1996 a empresa (AeroBrasil Cargo) chegou a utilizar um Boeing 747 da Evergreen.” (site aviacaocomercial.net)

Gianfranco “Panda” Beting, em seu livro "Tango Bravo Alfa" registra com mais detalhes isso.

Portanto, embora não tivesse recebido a aeronave em Marana, durante pouco mais de um ano a divisão cargueira Aerobrasil fez algumas centenas de voos com aeronaves da empresa norte-americana Evergreen com tripulação quase sempre totalmente brasileira, da própria Transbrasil. Se as aeronaves não receberam o nome Transbrasil ou mesmo AeroBrasil na fuselagem, suas tripulações o tinham no peito com suas "asinhas" da Transbrasil e por ela eram remunerados, provando que a companhia brasileira também voou o então maior modelo de avião cargueiro e civil ocidental.

Sabendo disso, cheguei até Domício Angelo da Fonseca, 58 anos, um dos engenheiros de voo que trabalharam nessas fantásticas aeronaves. Antes de  voar na Transbrasil ele já tinha passado pela Varig, desde 1982, trabalhando na manutenção dos Electra e Boeings 727 e 737. Depois de sair da Transbrasil ainda voou no DC-10 da cargueira MTA e, hoje, trabalha na Embraer dando treinamento a pilotos no ground school do KC390. Infelizmente, ele disse que não conseguiu guardar fotos daqueles tempos, lembrando que não existiam câmeras digitais e nem smartphones, o que dificultava o registro por parte de fotógrafos amadores. Porém, fotos exclusivas de suas lembranças de seus voo no Jumbo ilustram essa matéria. Acompanhe!

CAIXA PRETA: Em que período você trabalhou na Transbrasil e com qual cargo?

Domício Ângelo da Fonseca:  Eu trabalhei na Transbrasil de 1986 a 1998. Comecei como técnico de manutenção e depois F/E.

CP: Já tinha essa função quando a empresa operou o Jumbo?

Domício: Sim, eu já era F/E no Boeing  707. 

Coleção pessoal Domício Fonseca



CP: Em que período essa aeronave voou pela empresa? 

Domício: Esses voos começaram no início de 1996 e finalizaram em fevereiro de 1997.

Acima: exemplo de voos como tripulante extra (no PP-TAE/Boeing 767 da Transbrasil) e operacional nos aviões da Evergreen (identificados como NEV). Coleção pessoal. 




Acima: Landing, Takeoff Data e Cruise Data de alguns voos que Domício realizou.  

CP: Como soube que a empresa iria operar essa aeronave e quanto tempo tiveram de treinamento?

Domício: Quando estávamos ainda no Boeing 707 nos comunicaram que a Transbrasil iria fazer o arrendamento de um Boeing 747. O treinamento nos incluiu e nós tripulantes da Transbrasil tiramos a habilitação do FAA em Ft Lauderdale (Flórida) para voar a aeronave com matrícula americana, depois o treinamento teórico no Oregon e, depois, o treinamento em simulador de voo em Denver. Isso teve a duração aproximadamente de cinco meses.


CP: A tripulação no 747 sempre foi da Transbrasil, portanto, tratava-se de um "dry lease"?

Domício: Sim, chegamos a voar a aeronave somente com tripulantes brasileiros.

CP: Quais foram algumas das rotas realizadas e qual a carga predominante? Pela necessidade de uma aeronave tão grande, acredito que eram cargas de grande volume, correto? Você se lembra o número do(s) voo(s)?

Domício: A rota normalmente era GRU-MAO-MIA-JFK (Ou seja, Aeroporto Internacional de Guarulhos (SP)-Aeroporto Internacional Eduardo Gomes (Manaus)- Aeroporto Internacional de Miami (EUA)-Aeroporto Internacional de Nova York (EUA). Eram cargas de grande volume.  Nos voos nacionais que eram GRU-MAO-GRU os números eram 800/801 ou 802/803. Nos voos internacionais MAO-MIA-JFK os números eram 950/951. Normalmente, era um voo diário GRU-MAO-GRU e nos finais de semana subíamos pra MIA-JFK.

Acima: Manuais do Boeing 747 da Evergreen estão entre as lembranças de Domício. 

CP: Por quanto tempo você trabalhou no 747 arrendado?

Domício: Incluindo treinamento e voo, foram aproximadamente um ano e cinco meses.

 

CP: O 747 era de que modelo? Era apenas uma aeronave, sempre a mesma?

Domício: Durante o tempo em que estivemos operando o 747 a Evergreen só tinha Boeing 747-100 e Boeing 747-200. Todos os finais de semana os aviões da Evergreen subiam pra JFK para fazer manutenção e na maioria das vezes eles trocavam a aeronave (isso estava no contrato). Eram 13 no total. Praticamente, voamos todos os 747 da frota da Evergreen.

CP:  Por outro lado, um 747-100 recebeu a pintura da Interbrasil Star mas nunca voou pela empresa, correto? 

Domício: Sim,  esse avião chegou a estar pintado em Marana-EUA e sua matrícula original era N472EV. Curiosamente, foi o único que nunca voamos!

CP: Segundo o livro do Gianfranco “Panda" Beting, a AeroBrasil encerrou as operações em fevereiro de 1997. Coincidiu, então, com o fim do contrato com a Evergreen?

Domício: Sim. Foi isso mesmo. O 707 já tinha parado, estava o 747 arrendado voando a carga e quando o 747 parou a aviação cargueira da TBA acabou. A partir daí eram utilizados os porões de carga dos 767 passageiros. Eu fiz parte da tripulação do último voo dessa aeronave (o Jumbo) aqui no Brasil. Esse voo foi MAO-GRU no dia cinco de fevereiro de 1997 com uma carga de 70 toneladas de Jet Skis.

CP: Você consegue resumir como era trabalhar com o Boeing 747?

Domício: Como experiência própria, eu entendo que o tripulante que passa a operar o Boeing 747  sente que chegou ao ápice da sua carreira na aviação, por esta aeronave ser um ícone, um clássico entre todas as outras.

Um avião de design diferenciado, lindo, enorme e ao mesmo tempo fácil e suave de operar! Eu sentia um misto de satisfação e orgulho por operar essa máquina maravilhosa.

Enfim, era como se passasse um filme na minha cabeça, desde o meu início de carreira na aviação até ocupar um assento no cockpit do Jumbo! Um sonho realizado!


terça-feira, 25 de maio de 2021

Plantão Caixa Preta

                            

Imagens exclusivas do avião da Total no trecho dos Estados Unidos rumo ao Brasil. Estamos ansiosos por você, PS-TLA!!! 

(Fotos: Steve Giordano via Twitter)






E lá vem ele!





sexta-feira, 21 de maio de 2021

SPEECH


NELLA, A MISTERIOSA...


(por Solange Galante)





Meus leitores já acompanharam aqui no Blog minhas críticas à imprensa especializada, em aviação e em turismo, em relação à Nella. Óbvio que recebi, em resposta, críticas em relação a isso. Não se trata de não querer que a companhia, bem como outras, "decolem", façam sucesso, empreguem bastante gente e levem suas aeronaves e suas cores para o país inteiro. Quando a Gol surgiu, logo após a Nacional (já ouviu falar?) e outras empresas que não se mantiveram no mercado, ela também parecia pouco promissora, mas está aí, felizmente, empregando bastante gente e operando em dezenas de destinos. Precisamos disso. Precisamos de MAIS disso. Precisamos de maior concorrência, mais alternativas e, por que não, mais companhias que realmente nos façam – somos todos passageiros – voltar a nos sentir felizes depois de cada voo, como no passado. Aquele passado que muitos "especialistas" do século XXI só ouviram falar por vídeos do Youtube, aqueles lindos flashbacks sobre Varig, Vasp, Cruzeiro, Transbrasil e outras, inclusive regionais, como Rio-Sul e Pantanal.

Minha crítica é sobre quem quer ser coadjuvante de uma história que nem começou direito e dar esperança a tanta gente desempregada, querendo colocação na aviação, como se tudo já estivesse alicerçado de fato. Enfim, minha crítica é sobre vender sonhos. 

Vamos devagar com o andor que o santo é de barro! Todo santo, na aviação, É de barro. Com margens de lucro minúsculas, se já vimos gigantes como Pan Am, Varig, TWA e versões anteriores da Alitalia irem à lona, não duvide das dificuldades das pequenas companhias num país com elevadas dificuldades, tributárias e de infraestrutura, que até empresta seu próprio nome ao Custo "Brasil".

Com 25 anos de jornalismo de aviação e mais de uma década, além desse tempo, só como observadora da  aviação, já vi muita coisa acontecer, de bom e de mau, no mundo empresarial brasileiro. Mas, não acreditem na minha desconfiança, se não quiserem!!! Que tal, então, acreditar na revista de aviação mais amada do Brasil, e mais longeva atualmente, a mega famosa Flap Internacional?

Segundo a revista apurou em sua edição de abril passado, a Nella protocolou seu pedido junto à ANAC em novembro. Aqui no Blog Caixa Preta eu também noticiei isso (vide link https://caixapretadasolange.blogspot.com/2020/11/plantao-caixa-preta.html), destacando minha frase final "A aviação brasileira precisa de mais empresas. Desde que voem, e saudavelmente, é claro!" Pois, é claro, não precisamos de mais empresas vendendo mas não cumprindo, e deixando na mão não só passageiros mas também funcionários.

Como também a revista acertadamente apurou, desde então "três conhecidos executivos do mercado não chegaram a esquentar a cadeira na direção da empreitada, abandonando o posto por diferentes razões."  Foi uma das AFAs (vulgarmente Associação dos Fofoqueiros de Aeroportos) mais comentadas, entre tantas outras, além de memes diversos sobre a empresa e seu presidente.(Onde há fumaça, há fogo...)

Em março, segundo afirma o redator – pessoa muito séria, com quem já trabalhei – a Flap Internacional recebeu em sua conhecida redação o misterioso empresário Mauricio Souza, que está à frente da mais misteriosa ainda Nella. Nas instalações da Flap são fotografados e entrevistados grandes empresários e executivos da  aviação comercial atuando no Brasil e/ou no exterior. Boa parte dessas visitas eu mesma acompanhei.

A Flap não engoliu essa Fake News...


A revista goza, como é sabido, de enorme prestígio e credibilidade, sendo a mais admirada do país e leitura obrigatória de geração após geração ao longo de décadas. Você, ainda assim, pode não concordar com tudo o que lê na Flap mas não pode negar que ela , quando quer, vai fundo nas questões fundamentais da aviação comercial, em especial. Inclusive, me admirou só agora estarem publicando uma ampla reportagem sobre a Nella. Outras empresas aéreas que pareciam promissoras aos olhos externos à Flap, fora do seu  escritório nas proximidades da Av Faria Lima, foram imediatamente colocadas em dúvida pelos anos de experiência do fundador e mandachuva da publicação, Carlos Spagat, um especialista (ele sim) que não fala de feiras de aviação sem ter ido lá pessoalmente conferir, não analisa empresas sem tê-las visitado ou sem ter conversado olho-no-olho com seus executivos. Isso quando não envia seus correspondentes mais além, para descobrir os bastidores. E não foram só companhias aéreas em desenvolvimento ou em promessas que a revista Flap colocou em dúvida ou até mesmo desmascarou. Empreendimentos como o Aerovale de Caçapava, bem como badaladíssimos eventos como o IBAS (Aeroporto do Galeão, 2017) e a Labace em Congonhas tiveram suas falhas e vícios trazidos à tona e expostos na primeira página das matérias enquanto o resto da imprensa jogava confetes em todos eles. Nada escapa ao perspicaz Spagat: falta de flor no banheiro, um furo na decoração, não cumprimento de promessas, aviões-fantasmas, rotas impossíveis de se operar. Exageros ? Alguns, talvez. Mas os confetes, inclusive, como hoje é comum haver, nas "lives" foram muito mais exagerados e são eles que eu critico.

Noutro trecho da mesma matéria sobre a Nella, a revista apurou que o Boeing 737-500 da companhia venezuelana Albatros, da qual Maurício Souza teria 25% das ações, não decola do solo venezuelano desde março de 2020, quando a companhia daquele país deixou de voar. A revista possui correspondentes na maioria dos países latino-americanos e não trabalha com "ouvi dizer" mas com informações precisas, acompanhadas em tempo real.

A revista também publicou que, (sempre) segundo Maurício Souza, a Nella já estaria na fase 3 (de 5) do processo de homologação junto à ANAC para a obtenção do COA (Certificado de Operador Aéreo) mas, na verdade, mal havia concluído ainda a fase 1 (segundo a ANAC; informação que eu mesma comprovei nesta semana, 18 de maio).


Não se trata apenas de ironia, mas de conhecer o mercado...

Em todas as entrevista e "lives" a que acompanhei, o misterioso Maurício Souza justifica a demora para a Nella realmente estar preparada para operar fazendo-se de "vítima" das circunstâncias. Ora, problemas burocráticos, financeiros, jurídicos, políticos, bem como pandemias e guerras são inerentes às atividades empresariais, em especial à aviação, com aqueles lucros microscópicos que já citei. Por que algumas empresas conseguem trazer seus aviões, apresentá-los, voá-los, operá-los e, mesmo que não durem muitos anos por motivos diversos, pelo menos apresentaram algo de concreto, para funcionários e passageiros, até então? Não estou dizendo que a Nella está apenas devagar em seu processo. Tempo nem sempre é um bom termômetro. Apenas acredito, ainda, que esse processo está estranho e nebuloso demais para se apoiar. Se eu estiver errada, ótimo, teremos mais uma empresa para empregar e prestar serviços. Mas se a Flap fer coro ao meu faro...


Qual é a diferença entre determinação e teimosia?

O site abaixo me deu algumas pistas sobre o processo de criação da Nella:

(https://www.blog-desenvolvimento-pessoal.pt/2015/05/04/resiliencia/)

"Teimosia é qualidade de teimoso; teima; birra; pertinácia; insistência.

Uma pessoa teimosa não cede a opiniões de terceiros. Mantém-se firme nas suas premissas e ideias sem pestanejar ou mostrar sinal de dúvida.

O "Teimoso" é a pessoa cujo temperamento se caracteriza por não mudar no que acredita mesmo que esteja visivelmente errada. (FonteResilience Core” – Gail M. Wagnild ®, 2010)

Etimologicamente, persistência deriva do latim: persistentia – persistir, que significa “manter-se firme”. Designa o que é perseverante e duradouro; pessoa que não desiste com facilidade.

Pesquisando perseverança, encontramos a seguinte definição: “capacidade de aguentar ou manter-se firme em face de dificuldades” (Fonte: www.dicionarioinformal.com.br/significado/perseverança) e os sinónimos: firmeza ou constância, persistência e tenacidade.(Fonte: www.priberam.pt – Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [on line], 2008-2013)

Em Psicologia, perseverança é a capacidade de sustentação voluntária de uma atividade implicada por uma tarefa prolongada.(Fonte:  Dicionário da Língua Portuguesa, de J. Almeida Costa e A. Sampaio e Melo, Porto Editora, 8ª edição, 1999)

Segundo o dicionário Aurélio, perseverante é aquela pessoa que “procura conservar-se firme e constante, permanecer sem se mudar ou variar de intento.” Teimoso é aquele que ”teima de forma exagerada; é obstinado; insistente; birrento”.

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revista conclui a matéria com uma pergunta feita diretamente ao fundador e presidente da empresa, e sua resposta:


O tempo dirá se é apenas teimosia ou realmente persistência de Maurício Souza.

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Esclarecimento: a seção "Speech" deste Blog SEMPRE reflete minha opinião pessoal. Achei importante esclarecer isso porque alguns leitores chegaram a achar que alguns "Speeches" já publicados aqui eram reportagens, mas eles já tinham provado antes que não sabem a diferença entre textos opinativos, interpretativos e informativos.