Treinamentos de
evacuação de aeronaves são bem comuns de serem exibidos pela imprensa em geral.
Uma aeronave, geralmente operacional, é cedida por algumas horas por uma
empresa aérea, posicionada em local que não gere interferência ao tráfego
normal de um aeródromo, e funcionários do aeroporto ou da própria companhia
aérea, todos voluntários, maquiados com enorme fidelidade para simulação de
ferimentos, transformam-se em atores, gritam por socorro, urram de dor e
simulam incapacidade para se movimentar, sendo, então, “resgatados” e atendidos
pelos “soldados do fogo” conforme a gravidade de cada um, e dispostos em lonas
de cores diferentes, como verde, amarelo, vermelho e preto que identificam sua
prioridade de atendimento. Trata-se de um atendimento a grandes ocorrências com
múltiplas vítimas utilizando o método START, que nada mais é do que fazer uma
triagem simplificada e rápida das vítimas.
Devido à pandemia de covid-19, esse treinamento não tem sido feito. Normalmente, ele costuma ser realizado a cada seis meses ou anualmente, para manter a proficiência dos integrantes de um ou mais grupamentos, mas em breve serão retomados no principal aeroporto brasileiro. O que faltava, porém, ao 5.o Grupamento do Corpo de Bombeiros, que atende o Aeroporto de Guarulhos, era um treinamento mais específico, de uso de ferramentas que normalmente são utilizadas em veículos em rodovias e avenidas ou em desabamentos de edifícios: qual seria a mais adequada para abrir uma entrada na fuselagem de uma aeronave acidentada, facilitando o trabalho dos bombeiros, que sempre correm contra o tempo, já que têm como principal objetivo salvar vidas?
Esse treinamento específico é mais raro, justamente devido à indisponibilidade de aeronaves não operacionais que possam ser perfuradas, rasgadas, abertas. Foi por isso que o GRU Airport, segundo o 1.o Tenente PM Anderson Alves Silva, do 5.o Grupamento, contatou a corporação militar para oferecer essa oportunidade, treinando no DC-8-73 da Beta Cargo que restava no "cemitério" do maior Aeroporto da América do Sul.
“Esse treinamento
realizado no dia 16 setembro foi inédito para o Corpo de Bombeiros devido exatamente
à dificuldade de se ter à disposição uma aeronave para poder efetuar um
simulado de cortes. Foi uma oportunidade, a GRU Airport entrou em contato com o
Corpo de Bombeiros e, a partir daí, agendamos uma data para realizar esse
evento.” O tenente disse que o treinamento contou inclusive com a Escola de
Bombeiros do Estado de São Paulo, a unidade que forma os novos bombeiros, que
também teve a oportunidade de participar, além dos bombeiros da própria área de
Guarulhos, que atendem a diversos tipos de ocorrências, e uma equipe especial, para
grandes desastres, centralizada na cidade de SP, chamada GAED (Grupo de Ações
em Emergências e Desastres), que só é acionada para grandes emergências e
acidentes.
O 5.o
Grupamento atende a área dos municípios de Guarulhos, de Santa Isabel e de
Arujá, e tem efetivo de 120 bombeiros. Para o treinamento, foram deslocados cerca
de 50 bombeiros militares de São Paulo, e os da Escola, incluindo algumas
mulheres. “No treinamento da abertura da aeronave, alguns bombeiros civis da
Falck também acompanharam as ações.” A Falck, ele explica, é uma empresa privada, com bombeiros civis, contratada
pela GRU Airport para atendimento exclusivo à área aeroportuária. Entre outros,
eles prestam serviços de prevenção de incêndios dentro das dependências do
aeroporto e são os responsáveis pelos famosos jatos d’água dos “batismos” de
aeronaves, cias. aéreas, despedidas de tripulantes que se aposentam etc, no
Aeroporto. E eles acionam o reforço dos bombeiros militares, para ocorrências
diversas, quando necessário. No caso do treinamento no DC-8, eles também
acompanharam o evento.
FERRAMENTAS
O bombeiro explica que o grupo usou esse treinamento para testar realmente as ferramentas e avaliar quais seriam necessárias para abrir um avião. “Foi um treinamento inédito, pioneiro. Utilizamos as ferramentas que utilizamos em ocorrências veiculares, no nosso dia a dia, para testar em eventos de desastre, pois nem sempre teremos à disposição ferramentas da Falck ou do próprio aeroporto, nosso foco é usar o que temos nas nossas viaturas, nos nossos caminhões.” Uma delas são os chamados desencarceradores, ferramentas hidráulicas (utilizando óleo hidráulico) ou elétricas (utilizando bateria) semelhantes a uma grande tesoura. “Entre elas, há ferramentas que só cortam, outras que só alargam, uma variedade de ferramentas, mas com o mesmo princípio, para facilitar o acesso aonde está a vítima.
Outras ferramenta foi a serra sabre, semelhante a uma serra tico-tico, usada para cortes de veículos.”
Outra técnica que o tenente destaca é o oxi-corte, utilizando oxigênio e combustão mas “a ferramenta que obteve a melhor eficiência foi aquela chamada moto abrasivo, que utiliza um bico abrasivo que vai se deteriorando, se desgastando, conforme vai sendo utilizado. “Usamos normalmente para cortar ferro, por exemplo, um portão, em casos de desabamento, ou também a usamos para cortar concreto. É uma ferramenta bem dinâmica, para cada uso há um disco de aço diferente. Foi a ferramenta que, no caso do treinamento, mostrou maior eficiência.”
O treinamento na
aeronave começou às oito da manhã, com uma parte teórica, explanada pelo Cel.
Rodrigues, comandante do Corpo de Bombeiros de São Paulo. Por volta das 10 h da
manhã o grupo se deslocou até a aeronave e lá iniciaram o teste de ferramentas.
Todo o evento durou aproximadamente até às 16 h. “Nós ficamos muito satisfeitos
com o resultado, porque definimos que o melhor método seria mesmo usar a
ferramenta moto abrasivo.”
O bom resultado é
uma recompensa a todos os usuários da aviação civil. “Nosso intuito, além do
profissionalismo e segurança, é efetuar o atendimento com eficiência que, com
certeza, esbarra no tempo. Sempre tentamos conciliar segurança, eficiência e
tempo, pensando na vítima.” finaliza o 1.o Tenente PM Anderson.
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