UMA AVÓ NA CABINE DE COMANDO – PARTE 2 (conclusão)
Cmte. Alexandra Lima e comissários
Na TAAG as "asinhas" não são broches, são lindos bordados
no quepe e uniforme dos tripulantes.
(fotos: Solange Galante)
Aqui está o final da entrevista que fiz com a Cmte. Alexandra Lima, da Transportes Aéreos de Angola quando esteve em São Paulo (veja a primeira parte em https://caixapretadasolange.blogspot.com/2018/05/caixa-cor-de-rosa.html ).
Muitas curiosidades sobre o comportamento dos passageiros são o destaque.
Muitas curiosidades sobre o comportamento dos passageiros são o destaque.
Acompanhe a seguir!
Há
alguns anos, a TAAG enfrentou alguns problemas, alguns de seus aviões não
podiam voar para a Europa, ela passou por algumas dificuldades, mas sabemos que
ela adquiriu aeronaves mais novas, Boeing 777 novinhos, e também está se
reerguendo, certo?
Os
problemas não estavam nos aviões. Segundo a INAVIC (1) o problema estava na
própria TAAG, que não conseguiu acompanhar a modernização da própria empresa,
mas foi uma coisa que já passou, hoje voamos para a Europa para a América do
Sul e, graças a Deus, não tem havido nada que nos torne menos profissionais que as outras companhias.
Todos
os funcionários também trabalharam a favor disso, não é?
Sim!
Todos estivemos empenhados porque, se a empresa fecha nós vamos para a rua! E
se formos para a rua não temos onde trabalhar... Ok, hoje já se pode trabalhar
para outras empresas, noutras partes do mundo, mas não há nada como o nosso
chão, a nossa cama... Estou aqui em São Paulo há cinco dias e já estou morrendo
de saudades da minha casa... e a profissão de piloto, e de tripulante de
empresa aérea, é uma profissão muito solitária. A gente passa meia dúzia de
horas dentro de um avião, chega ao hotel, mete-se no quarto, dorme, come...
O
pessoal da empresa se une mesmo como uma família? A família da Palanca Negra?
Sim. A
Palanca Negra é um antílope que está em vias de extinção, só tem em Angola
mesmo. E da mesma forma que quase esteve em extinção e está agora a ressurgir,
quase das cinzas, nós também estamos a levar a nossa companhia até o topo e
penso até que vamos conseguir. Mas, por exemplo, há ainda aquela coisa do mau
manuseamento por parte dos passageiros dos aviões, que são sofisticadíssimos
mas isso também bate na tecla da educação da população. Eu não posso aceitar
que um passageiro se sente e que estrague o comando do sistema de
entretenimento... quando se trata de má educação não tem nacionalidade, o mal é
geral... Eu tenho um colega, comissário, que, uma vez, o passageiro disse para
ele que a cadeira estava estragada, e meu colega o levou até o banco de descolagem
e aterragem e disse: “Estás a ver esta cadeira? Esta é a minha cadeira. Eu não
uso aquela cadeira. Quem usa aquela cadeira é o passageiro, o senhor e outros
passageiros. Não sou eu quem senta lá.” Ou então vão para os aviões usando o fone do
celular e dormem assim. Os fones caem dentro das cadeiras, que são elétricas.
Resultado: chegamos ao destino, quando estamos cansados e queremos ir embora
para descansar, temos que chamar o técnico em manutenção para vir puxar a
cadeira... nós mesmos já desmontamos a cadeira para tentar encontrar os
fones... Quer dizer, o passageiro não vai precisar dos fones dele ali, por que
não os guarda?
E
a companhia não se preocupa em fazer uma campanha de conscientização?
Já
fizemos. Tanto, tanto e tanto... Mas um dia vamos conseguir (risos).
Aqui,
já picharam por dentro avião da Gol... E
tiraram a porta de emergência, com o avião aguardando para taxiar, e saíram
pela asa...
Essa
falta de educação é geral, não tem nada a ver com uma raça e nem com um povo. A
aviação é uma coisa que é cara. Qualquer coisa que tem que se fazer no avião, a
manutenção de uma cadeira ou do sistema de entretenimento, tudo torna-se muito
caro. Agora há pouco tempo houve um passageiro que, por birra, estragou o
comando do sistema de entretenimento e foi levado ao Tribunal e obrigado a
pagar uma indenização à TAAG e pagar a manutenção daquilo que ele estragou. Foi
no 777. Por acaso, era um angolano que estava saindo de São Paulo para Luanda.
Depois houve outro que estava com os pés em cima da cadeira da frente. Eu vi e
pus uma foto dele no meu Facebook. Depois veio a público no Facebook dele, que pediu
desculpas, porque aquilo foi sendo partilhado... “Não é desculpa, você nunca
poderia ter feito isso”, falei “Porque se você fosse educado, isso nunca
poderia acontecer.”
Quais
seus passatempos?
Sou
piloto mas sou muito feminina, adoro cozinhar e passo a vida a falar disso...
Meu passatempo é cozinhar e cuidar dos meus filhos, fazer o que eles gostam que
eu faça para eles.
Qual
são as especialidades da sua cozinha? Mais pratos regionais ou contemporâneos?
Da
cozinha angolana eu sei fazer pouco. Gosto muito mais de pastelaria, de doces,
sobremesas e gosto da cozinha internacional. Gosto de inventar, criar, e tenho
me dado bem! (risos)
Agradeço imensamente à Cmte. Alexandre Lima, uma simpatia em pessoa, bem como à tripulação da TAAG que a acompanhava quando nos encontramos no hotel. Sucesso e bons voos a todos!
(1)
equivalente à Anac no Brasil = http://www.inavic.gv.ao/opencms/inavicsite/inavic/
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