quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

SPEECH

 AS MARCAS

DO PASSADO DE CONGONHAS 

Um registro para os historiadores


(por Solange Galante - texto e fotos, exceto quando identificadas à parte)

No final de novembro do ano passado, passei, por acaso, pelo Aeroporto de Congonhas e dei de cara com uma grande reforma de troca do piso do saguão central, aquele maravilhoso saguão com as escadarias, colunas revestidas de pastilhas, aquele teto com luzes que lembram uma constelação de estrelas... Sabendo que o mais famoso aeroporto de São Paulo é tombado como Patrimônio Histórico e Cultural da cidade , cheguei a temer por uma violação de regras. Mas, que regras? Como nem eu mesma sabia detalhadamente quais eram, fui atrás de todas as respostas possíveis. Não sem antes fotografar detalhes da obra.

À esquerda, parte do piso original do saguão central, nitidamente muito desgastado. À direita, parte do novo piso, em área já liberada para transeuntes. A divisão seria removida para o novo piso avançar sobre a área do antigo, após removido este.


Vista do saguão central, com seu piso original, na década de 1970. Note os balcões das empresas aéreas Varig-Cruzeiro, Transbrasil e Vasp.(foto: Infraero)


Mais detalhes do piso original antes de ser removido.


Outra vista do saguão central, com seu piso original, na década de 1980. Note que os balcões das empresas aéreas Varig-Cruzeiro, Vasp e Transbrasil já haviam sido removidos para a ala norte do aeroporto. Parte do piso já havia sido removido para  colocação de outro, constituindo duas áreas redondas (uma delas em destaque com a seta) ou retangulares com bordas arredondadas feitas em pedras, nos locais onde estavam os balcões já citados, marcando parcialmente seu passado, mas agora, tendo recebido balcões e exposições diversos.(foto: Infraero)

Foto feita ainda durante as obras (27 de novembro de 2020), onde pode-se ver com mais proximidade a área central onde o piso antigo já havia sido removido para criação de um retângulo com pedras e, posteriormente, piso emborrachado, antecedendo as escadas rolantes colocadas em 2005. Nesta foto, pode-se ainda ver parte do piso original que seria removido juntamente com a área central.


A colocação do novo piso: vista parcial, em imagem captada no final de novembro de 2020.


Detalhe do novo piso, na mesma data do final de novembro de 2020, onde já liberado para o trânsito de pessoas.


Vista do saguão central, em foto tirada do mezanino, já com o novo piso totalmente colocado, bem como o piso tátil para deficientes visuais. Anos atrás, com a colocação das escadas rolantes, houve muita discussão sobre a alteração das características originais do aeroporto. Minha opinião: eu preferiria sem, pela beleza original do saguão, mas só de lembrar como facilitam a mobilidade especialmente das pessoas mais idosas e dos deficientes, além dos passageiros com pressa para acessar a área de embarque no mezanino, penso que sempre teremos que fazer conviver com o máximo de harmonia  a tradição e a modernidade. No caso da trocas do piso, ficou mais bonito, visualmente mais limpo também, sem aquelas áreas circulares constituídas de pedra e piso emborrachado que, realmente, destoavam do design original.. Mas, vamos ao que interessa... e o tombamento do aeroporto?

Segundo a RESOLUÇÃO Nº 20 / CONPRESP / 2011 do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo em seu Artigo 2º, que trata do terminal de embarque e desembarque de passageiros, no parágrafo que trata especificamente do Saguão Central, detalha-se a: 

Preservação das características arquitetônicas internas e dos
elementos construtivos e decorativos originais caracterizadores daquele espaço, no
térreo e no mezanino, tais como: escadarias, corrimãos e guarda-corpos, piso
quadriculado, forros e sancas, luminárias, revestimento de mármore travertino do bloco
dos elevadores e da parede lateral direita das escadas rolantes, revestimento de pastilhas
das colunas, vidraças, placas comemorativas.


Consequentemente, embora tenha tamanho e material nitidamente diferentes do piso original, as placas do piso mantêm o quadriculado caraterístico que deve ser preservado pela lei da CONPRESP. 

Em acréscimo à minha solicitação de detalhes sobre as obras que estavam sendo executadas, a administradora do aeroporto destacou, via e-mail, em dezembro de 2020:

"A Infraero está com uma série de obras e melhorias no Aeroporto de Congonhas. Com investimento de R$ 3,8 milhões, a reforma e ampliação da sala de embarque, embarque remoto e área de vistoria tem previsão de entrega no primeiro semestre do ano que vem. A restauração das fachadas do terminal de passageiros soma investimento de R$ 7,8 milhões e deve ser concluída no primeiro semestre de 2021. Estão em execução os serviços de demolição e assentamento de pisos, construção de calçadas, limpeza de caixilhos e pastilhas."

reforma dos pisos do aeroporto se estendem também a outras áreas, como as calçadas, conforme foto a seguir. 

Parte da calçada já reformada.


Uma obra, sem dúvida, muito necessária, ainda mais na futura e cada vez mais próxima troca da administração do Aeroporto de Congonhas para concessão privada, o que, com certeza, aumentará o interesse de candidatos à concessão. 

A resolução CONFRESP na íntegra, com todos os detalhes dos elementos tombados do Aeroporto de Congonhas pode ser acessada pelo link:




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