O OXIGÊNIO DA VIDA E DA MORTE
Elemento químico essencial para a vida aeróbica,
como a das plantas e dos animais em geral (ser humano incluído) o oxigênio está
fazendo falta a pacientes vitimados pela covid-19 no Amazonas. Esse gás, no
corpo humano, participa das reações químicas da respiração e é o mais comum dos
comburentes (um dos ingredientes necessários à combustão; ele reage com um
combustível liberando energia).
Por isso, ainda mais em se tratando de Manaus, a capital amazônica sem acesso rodoviário com importantes núcleo brasileiros que tem urgência de oxigênio para os doentes afetados pela pandemia, o avião se mostra o meio mais rápido para fazer chegar esse insumo aos hospitais locais.
No entanto, o risco de seu transporte, seja qual é o meio, é grande. Trocando em miúdos: transportar oxigênio requer o máximo de cuidado e obediência às normas em vigor. Por isso, segundo informa a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), os cilindros contendo oxigênio comprimido (UN 1072) estão entre os artigos perigosos classificados pela OACI (Organização de Aviação Civil Internacional) e sua movimentação só pode ser feita por empresas especializadas. No Brasil, essas empresas devem ser certificadas pela ANAC seguindo as disposições do RBAC 175 e Doc.9284 da OACI. As regras permitem o transporte do oxigênio em cilindros com capacidade até 150 kg do gás em aeronaves de carga ou com configuração cargueira aprovada, limitado somente à capacidade e à segurança disponível.
Para que, no desespero por atender aos pacientes que estão correndo risco literal de morte por asfixia, a segurança aérea não seja violada, a ANAC divulgou nesta semana a lista das empresas aéreas regulares e de táxi aéreo (RBACs 121 e 135) devidamente autorizadas a fazer o transporte de oxigênio.
A lista está neste link:
https://www.anac.gov.br/noticias/2021/arquivo/Empresasautorizadasaotransportedeartigosperigosos.pdf
Atenção: a ANAC alerta que o oxigênio líquido refrigerado ((UN 1073) é um artigo perigoso cujo transporte em aeronaves civis é proibido. O transporte desse produto é feito normalmente por via marítima ou terrestre e, quando há a necessidade de transporte por via aérea, utiliza-se, em geral, aeronaves militares, mais apropriadas para esse tipo de operação. Contudo, há na regulamentação brasileira a possibilidade de emissão de autorização especial da ANAC para o transporte do oxigênio líquido em aeronaves de carga em casos específicos, sob solicitação.
OXIGÊNIO FATAL
(Foto: AirLive.net/Creative Commons)
Quais as consequências da falta de cuidados no transporte aéreo de oxigênio e seus equipamentos? Um exemplo notório foi o acidente com a empresa aérea Valujet em 1996.
O McDonnell Douglas DC-9 N904VJ da empresa aérea norte-americana de baixos custos/baixas tarifas fazia o voo 592 entre o Aeroporto Internacional de Miami, na Flórida, e o Aeroporto Internacional de Atlanta Hartsfield-Jackson, na Geórgia, com 105 passageiros e cinco tripulantes, quando, poucos minutos após a decolagem, fumaça e fogo surgiram na cabine de passageiros. A origem do incêndio era do porão de cargas. Com o sistema de eletricidade afetado gravemente pelo incêndio, o jato acabou caindo e mergulhando no pântano do Parque Nacional Everglades. Não houve sobreviventes.
Uma empresa terceirizada havia embarcado no porão do DC-9, em Miami, cinco caixas dos geradores químicos de oxigênio. Foi a primeira regra não obedecida, pois a Federal Aviation Administration já proibia o transporte de materiais perigosos em porões de carga de aeronaves de passageiros. Depois, tanto a empresa terceirizada quanto a própria Valujet embalaram e acondicionaram de maneira errada as caixas no porão da aeronave. A informação de que eram cilindros de oxigênio vazios (portanto, seguros) também era falsa.
Os geradores químicos de oxigênio, quando ativados, na despressurização de uma aeronave, por exemplo, são capazes de produzir oxigênio para passageiros e tripulantes naquela situação de emergência (e caem as famosas máscaras). Mas, para isso, os geradores também produzem grande quantidade de calor nessa reação química. Os investigadores do NTSB (National Transportation Safety Board), encarregados de descobrir as causas do acidente, determinaram que, durante o taxiamento em Miami, o avião deu uma leve sacudida e um dos geradores foi acionado. O calor que ele produziu e foi aumentando inflamou as caixas e embalagens do porão, dando início ao incêndio. O oxigênio produzido manteve o fogo aceso. Apesar daquele porão ser hermético, isto é, vedado o suficiente para não receber ar externo, o que extinguiria (normalmente) um incêndio por falta de comburente (oxigênio). Não havia detectores de fumaça nem sistemas de combate a incêndios naquele porão, que era Classe D.
Não foi o único acidente e/ou incidente aéreo envolvendo oxigênio. Apenas como curiosidade, já que o contexto foi outro, um Boeing 707 (PP-VJR) da Varig se incendiou no Galeão, durante a manutenção, em 1968, por ocasião da troca dos cilindros de oxigênio, que teve contato com graxa. Por isso, especialmente no transporte dessa carga, todo cuidado é pouco e os usuários não podem se descuidar mesmo na urgência.
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