sexta-feira, 30 de agosto de 2019

SPEECH

É UMA PÉROLA DA GLOBO?
NÃO! É UM MICO VOADOR!!!



Texto: Solange Galante
Foto do Mico: Jeroen Kransen/Flickr/Creative Commons)

Fantástico usa aeronave com situação irregular em reportagem sobre queimadas na Amazônia

Segundo a mesma, fóruns privados de aviação na internet haviam descoberto que a aeronave utilizada pelo repórter da TV Globo em reportagem sobre as queimadas na Amazônia era o PR-WMW, cuja matrícula (mais uma vez usaram indevidamente a palavra prefixo) visualizada no painel do avião, constava como aeronave proibida de fazer táxi aéreo pelo aplicativo Voe Seguro da Agência Nacional de Aviação Civil, a ANAC. E publicaram uma foto desse alerta.

De fato, o Cessna 206H de propriedade da empresa FERRO E ACO POCONE LTDA  , em tese, não poderia ser alugada para transportar o repórter às áreas desmatadas/queimadas da Amazônia. A não ser que o jornalista tivesse sido levado de carona por amizade, como aconteceu com o cantor Gabriel Diniz, há poucos meses.

Dois detalhes me chamaram a atenção. O primeiro, na reportagem em si, onde o jornalista do Observatório da Televisão – alguma inspiração no Observatório da Imprensa não deve ter sido mera coincidência – diz: Mesmo que, eventualmente, não tenha tido conhecimento da irregularidade, a equipe do Fantástico esteve em risco e compara a situação, como já fizemos acima, com o acidente fatal de Diniz e também com a morte do jornalista Ricardo Boechat, que também voava uma aeronave, no caso, um helicóptero, que não deveria ser alugado como táxi.

Esse detalhe, devo esclarecer aos mais apressados em escrever/ler sobre táxis piratas (também chamados Transportes Aéreos Clandestinos - TACAs), por si só, não é um fator de risco ao(s)ocupante(s). O avião não sabe se quem está dentro dele é o proprietário e seus funcionários ou um carona ou cliente alugando o transporte. E a experiência do piloto no momento de uma emergência, se fosse o caso, seria a mesma independentemente da missão daquele voo. Toda vez que se registra essa ligação umbilical "TACA–risco de acidente" tem-se a impressão que quem o faz já está assinando não um contrato de aluguel mas seu próprio atestado de óbito. Na verdade, vários fatores se encadeiam para que se consuma um acidente aéreo com aeronave clandestina ou não. Claro, o risco É maior, pelas aeronaves de uso privado (categoria TPP, e não TPX) não serem submetidas a exigências e fiscalizações tão rigorosas, mas o sensacionalismo dá a entender que o perigo é ainda maior e eminente.

Porém, o outro detalhe é que mais me chama a atenção: depois do acidente com Boechat, o acidente com Diniz, os anteriores acidentes com duas noivas que tinham alugado helicópteros como TACA – uma delas morreu com a queda da aeronave, a outra, felizmente, se salvou, bem como os demais ocupantes – até uma reportagem do próprio Fantástico, anos atrás, com um táxi pirata de uma empresa de Campinas... depois disso tudo, portanto, a TV Globo ainda não aprendeu que deve checar antes de alugar se a aeronave pode mesmo ser alugada???

Taí o...


Penso até que se o repórter tivesse conhecimentos mínimos sobre aviação – desconheço se Álvaro Pereira Jr. os tem, como outros jornalistas, do naipe de Fábio Pannunzio, Eleonora Paschoal etc – não entraria nessa roubada. Embora, com tanto estardalhaço após os casos acima citados envolvendo TACAs e a criação do Voe Seguro pela ANAC, é impressionante não terem todos ou qualquer um da equipe de TV atentado a isso.
Por isso que estou sempre atenta à matrícula das aeronaves que aparecem na TV, seja em reportagens, novelas, filmes ou mesmo comerciais: mais do que mero "prefixo" (unidade mórfica é utilizada na língua portuguesa para dar um novo significado às palavras, que é sua definição) aquelas letras que compõe, no Brasil, a marca de nacionalidade e a matrícula do avião ou helicóptero, podem revelar muita coisa interessante...

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