segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Plantão Caixa Preta - ESPECIAL

FOTOGRAFOU? NÃO? ENTÃO, DANÇOU!!!!

PARTE 1: FÁBRICA DE MENTIRAS



                                                                                     por : Solange Galante

Na década de 1970, o alemão Günter Wallraff assumiu a identidade de Hans Esser e foi contratado pelo jornal alemão Bild, o mais popular da Alemanha. Seu objetivo era comprovar as mentiras publicadas e inventadas por Bild, bem como seu desrespeito pelos leitores, fontes e seus próprios jornalistas. O resultado foi o livro “Der Aufmacher” (A História Principal, que ganhou em português o nome Fábrica de Mentiras).
O livro já foi citado em várias faculdades de jornalismo justamente para exemplificar que não se deve manipular as notícias, enganar os leitores. Esse livro foi material para provas e trabalhos na faculdade que cursei, a Cásper Líbero.
No quesito “deturpação do trabalho do jornalista”, Hans Esser escreveu um texto sobre o desemprego na juventude que foi totalmente reescrito pelo editor que, aliás, já havia sido enfático: “Nada de matéria de cunho social!” Mas, pelo menos, elogiou o desempenho de Esser em outra pauta, que havia lhe incumbido fazer: sobre o centenário dos anões de jardim. Sim, aquelas estátuas colocadas no gramado ou entre flores...
Em dado momento, a redação recebe um release sobre uma grande exposição de peixes, com espécimes de todo o mundo. Piranhas são pequenas coadjuvantes, e não colocam os visitantes em perigo. Mas o responsável pela exposição tem interesse em que ela seja divulgada pelo Bild, e confessa a Esser que é por isso que trouxe as piranhas. E logo a notícia no Bild passa a ser o pequeno ataque de algumas delas ao chefe do um aquário, que resultou em um (apenas um) pequeno ponto no dedo dele – a vítima havia sido descuidada ao colocar a mão no aquário durante uma transferência de peixes.
O ataque – Bild não mencionou que isso havia ocorrido oito anos antes – tornou-se o fato principal da matéria, em tons bem sanguinolentos, mas, ainda assim, ajudou a exposição a ter muitos visitantes. O fato foi explicado da maneira correta por outro jornal mas, que importa? O Bild já havia vendido muito e, a exposição, havia sido um sucesso. Embora as piranhas fossem apenas inofensivas coadjuvantes entre centenas de outros peixes.
Escreve Günter Wallraff, em seu livro: “A verdade está no Bild, tanto nas linhas quanto nas entrelinhas: possivelmente ela se encontra de qualquer maneira, por detrás das letras impressas. Impresso é tudo aquilo que faz aumentar a tiragem — mesmo que, por acaso, seja verdade. E não impresso é tudo aquilo que não ajuda a vender. Um princípio clássico, simples e, ao mesmo tempo, de utilidade universal. Numa época em que se vive com pressa, exige-se um jornalismo rápido, muito rápido. O redator do Bild é bom em generalizações. Se os leitores acreditam ou não em tudo o que se publica, não tem a menor importância, desde que continuem comprando o jornal.”

Meus leitores, agora, devem estar se perguntando “Epa! Mas esse Blog não é sobre ‘aviação’???
Calma, essa foi apenas uma introdução... Vamos ao que interessa...

Tenho saudades de quando eu escrevi para uma conhecidíssima revista de aviação brasileira. Respeitava-se o leitor e até mesmo os colaboradores. O que era publicado realmente havia acontecido e era orgulhosamente noticiado. Sem se aumentar. Sem se modificar, sem se adulterar. As fotos eram feitas pelos próprios colaboradores, poucas delas eram enviadas pelas fontes e, aliás, todas elas eram creditadas, sejam as dos fotógrafos da revistas, sejam as de divulgação das empresas. Os fatos, assim como as fotos, tinham suas fontes, eram fidedignos.
O que Günter Wallraff escreveu em seu livro e eu copiei aí em cima, sobre a “deturpação do trabalho do jornalista”, textos totalmente reescritos, sentido alterado, informações incorretas enxertadas, isso passava longe da redação da revista de aviação onde colaborei por anos, era inadmissível! Pelo menos nos primeiros anos de sua existência.
Tudo era tão ético e profissional que se havia um roll-out, um evento de grande importância, uma coletiva de imprensa bem concorrida, publicava-se as fotos do evento feitas pelos próprios colaboradores. Fotos reais, não capturadas da internet, todas com crédito ao autor e por aí vai... Afinal de contas, que adianta participar de um grande evento e não se registrar, nem que fosse com uma câmera mais simples ou, mais modernamente, com o celular ou tablet? E, registradas, logo em seguida, são publicadas, orgulhosamente mostrando “Nós estivemos lá sim!”, "Fazemos parte da história e podemos provar!!!"

Há alguns anos fiz uma extensa reportagem sobre como é um voo no MD-11F da Lufthansa, entre Viracopos e Manaus. Deu trabalho conseguir a autorização e planejar tudo. Publiquei o que a empresa autorizou, e foi o suficiente para mostrar que sim, eu participei mesmo do voo. Publiquei até fotos da passagem que recebi da companhia aérea alemã para me permitir esse voo. A matéria foi publicada condensada na revista Avião Revue e, mais completa e extensa aqui no meu Blog: http://caixapretadasolange.blogspot.com.br/2014/08/materia-especial.html

Afinal, por que ocultar as provas? Foi tudo feito de maneira honesta e profissional, nada há o que esconder. E a matéria do Blog foi tão agradável que ficou entre as finalistas do Prêmio Abear de 2014!
Estimados leitores: aguardem mais capítulos emocionantes sobre nossa denúncia de desrespeito em forma de jornalismo!


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