Um avião que é SUCESSO DE PÚBLICO!
(por Solange Galante: texto e fotos)
O enorme frisson no Aeroporto
André Franco Montoro, o Internacional de Guarulhos, tornou o dia 15 de novembro
de 2016 um feriado diferente na Grande São Paulo. Centenas de pessoas se
aglomeraram em vários locais esparsos da área de “Cumbica” durante toda aquela
terça-feira. Alguma celebridade internacional chegando? Sim e não.
Assim foi a visita do gigantesco
hexamotor Antonov 225 Mriya a São Paulo,
para transportar uma peça super volumosa, um transformador de mais de 150
toneladas, para a planta hidroelétrica de Colbún, no Chile. Não foi a primeira vinda do
gigantesco jato a Guarulhos mas, com certeza, foi a que mais causou frisson. Isto
porque, quando ele esteve pela primeira vez no aeroporto em pleno domingo de
carnaval de 2010, chegou quase despercebido – como se realmente tentasse essa
proeza – pois o anúncio de sua chegada ocorreu poucos dias antes, e não houve
escalas intermediárias no Brasil. Agora, além do anúncio muito mais antecipado,
ele primeiro passou por Viracopos, para ser carregado com parte dos
equipamentos para a missão logística, depois seguiu para Guarulhos para pegar o
equipamento principal – e entre sua previsão de vinda ao Brasil, seu pouso e
sua decolagem em Viracopos, e sua chegada a Guarulhos, a notícia correu feito
pavio aceso.
Não vou chover no molhado e falar
sobre as características do avião, sua história e a da União Soviética, ou a
complexidade de sua operação: isso a imprensa especializada ou não já o fez
exaustivamente. Vou falar sobre o que presenciei na véspera de sua chegada a
Guarulhos, quando a agitação foi em VCP, e seu tempo extra de solo, por
problemas de logística, no dia em que nele embarcou o tal transformador.
O ser humano pode ter preferência
por qualquer coisa: bichos, flores, carros, bonecas de pano, cozinhar. Pode
gostar de meditar. Pode gostar de colecionar objetos bélicos, tampinhas de
refrigerante, canetas, chaveiros. Mas, gostar de aviação será sempre especial!
Já disseram os psicólogos que ter
medo de voar é ter medo de ser governado por outros, quando num avião, ou pura
insegurança, se estiver flutuando sozinho no espaço. No lado contrário, a
paixão pela aviação pode sugerir poder, liberdade, ascensão social, encontro
com o divino, ou um sem número de sensações.
Pelo menos uns 90% das pessoas
que trabalham com aviação que eu já entrevistei afirmaram que foram “infectadas”
pelo famoso “aerococus”, o misterioso “vírus” que nós, entusiastas, acreditamos
ser a causa de nossa paixão. Sem esse entusiasmo todo, uma empresa aérea seria
uma empresa qualquer. E, ouso afirmar, empresas de aviação em que seus
diretores executivos não têm pelo menos um pouco de paixão pelo voo nas veias,
encontram dificuldades ainda maiores para sobreviver num mercado onde se
caminha sempre na corda bamba – e sem paraquedas ou asas.
Aos demais que não conseguiram ainda
conquistar seu lugar no céu ou se contentam em apenas curtir a aviação
anonimamente, um acontecimento como o de terça-feira passada tem o status de “O”
Acontecimento. Foi um feriado com menos gente nos parques, nas praias, nos
museus paulistanos ou na casa da vovó – mesmo porque dezenas de vovós também se
concentraram diante das janelas do mezanino de GRU. Guarulhos tornou-se uma Meca
e gente de outros estados também correu para lá.
O símbolo maior talvez tenha sido
o menininho João, seis anos de idade, vestido de comandante, levando nas mãos uma
maquete do mesmo Antonov lá de fora, em escala 1/200. Descoberto pela imprensa matutina,
deu diversas entrevistas e mostrou todo seu conhecimento sobre o aviãozão que
veio ver! Pasmem, ele veio de Belém do Pará especialmente para a ocasião! “O
senhor trabalha ou trabalhou com aviação?” perguntei ao pai, crente de que me
responderia afirmativamente e citaria ter trabalhado, mesmo que em terra, na
Vasp, na Varig, ou na Transbrasil. Ou que trabalha hoje na Latam, na Gol, na
Avianca, na Azul.
Mas, ele negou! “Que nada... Quem
nos influenciou foi nosso filho! O quarto dele parece um hangar!” É uma
excelente notícia! Pois tudo parece ter vindo naturalmente, como um presente de
Deus. Eu também comecei a gostar de aviação sem ter parentes, muito menos os
pais, na área. Mas eu já era mais crescidinha que o João e vivia bem mais
próximo de aeroportos gigantes.
Quando pensamos que acidentes
aéreos ocorridos no Brasil e no exterior chocam milhares de pessoas, envolvidas
direta ou indiretamente com eles, ou apenas telespectadores, leitores e
ouvintes, tememos que a aviação esteja firmando uma imagem indevida de atividade má. Mas, quando
vemos o brilho nos olhos daquelas pessoas todas, de diversas classes sociais,
idades, profissões e origens diante do A380, do 747-8 ou do Mriya – cujo nome,
em ucraniano, significa “sonho” – só temos que comemorar pois a chama permanece
acesa, mesmo com menos aeroportos com terraços, mesmo sem o glamour de
antigamente. Une-se a isso a maior facilidade, hoje, para se adquirir passagens
e temos a garantia de passageiros fiéis, que vão não só atrás de preço e
rapidez para viajar mas também atrás da sensação do voo.
É claro que a aviação ainda representa
um mundo mágico para alguns. Entre o povo presente ao aeroporto podia-se reconhecer
quem nunca havia entrado em um aeroporto, principalmente um internacional como
aquele, ou quem achava que aquele avião enorme poderia rachar a pista se alguma
manobra fosse exagerada. Podia-se ouvir o que, aos ouvidos especializados,
soava como pérolas, micos, besteiras. Mas tudo era apenas fruto de muita
curiosidade e desejo de saber mais – e curiosidade e desejo de saber mais são o
combustível da ciência.
Enfim, é extremamente muito
gratificante assistir ao que assistimos na terça-feira no famoso “Cumbica”! Que
as pessoas considerem cada vez mais a aviação como um todo e seus aviões comerciais
como celebridades dignas de assédio. É dessa fonte que a arte e a ciência do
voo beberão a curto, médio e longo prazo.
Parabens pelo texto.
ResponderExcluirGrata!!! ;)
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