domingo, 13 de janeiro de 2019

SPEECH


(Por Solange Galante) 

Não posso deixar de externar minha opinião sobre, mais uma vez, um político insistir em fechar o Aeroporto Campo de Marte, na Zona Norte paulistana. Não foi o primeiro a vir com esse ranço dos tempos de Getúlio Vargas, aliás.

João Dória Jr. se autodefine "gestor". Ele pode ter sido "gestor" antes de entrar para a política; hoje, ele já teve seu "batismo" como político desde que era prefeito, e aparenta não ter nenhuma noção sobre aviação enquanto, nitidamente, torna-se aliado da voracidade do mercado imobiliário, que está de olho não no suposto "parque" que seria construído ali, mas no entorno, onde poderiam trocar casas por arranha-céus.

Ter noção sobre aviação não é "só" saber a diferença entre um helicóptero e um avião.

Enquanto escrevia esta coluna eu via na TV Globo, no telejornal SPTV e em tempo real a chegada de um monomotor Cessna vermelho do SAMU de Santa Catarina pousando em São Paulo e transportando uma criança que seria submetida a uma cirurgia de transplante de rim na capital paulista.




A matéria mais completa foi ao ar no mesmo dia 11 de janeiro e pode ser acessada por este link: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2019/01/11/crianca-de-santa-catarina-vem-a-sp-em-busca-de-um-rim.ghtml

Esse pequeno avião, em uma grande missão, pousou no Campo de Marte.

Por que não foi para Congonhas?

Congonhas concentra importante parte das operações de aviação comercial ponto a ponto domésticas do Brasil, especialmente na rota São Paulo-Rio de Janeiro, e já tem tido muitos transtornos causados por condições meteorológicas adversas, drones clandestinos, urubus, canetas a laser de pessoas sem qualquer noção de segurança de voo, não tão inocentes pipas, incidentes na própria pista etc. Para o pouso de uma aeronave da SAMU provavelmente teria alguns voos retardados também (a prioridade é dada a essa categoria de aeronave). Enquanto isso, o Campo de Marte está lá para isso: receber aeronaves menores (mas jamais menos importantes) e não sobrecarregar nem Congonhas e nem mesmo o Aeroporto Internacional, em Guarulhos.

Por que o transporte da paciente não foi feito por helicóptero, que pode pousar até em hospitais?

Porque, dependendo das distância, o helicóptero não tem autonomia/alcance e nem tem velocidade para a urgência dessa necessidade. Como foi nesse caso, uma paciente de Santa Catarina.

Pergunto-me qual a experiência e conhecimento que o digníssimo governador tem de aviação. Suas aeronaves executivas podem pousar longe do Campo de Marte, que, aparentemente, não lhe faz falta, e ele pode acessar facilmente sua residência com helicóptero ou até automóvel escoltado por batedores. Para ele, o Campo de Marte pode ser supérfluo. Mas, na realidade, não é.

É mais do que óbvio que um "prefeito pela metade" – já que não concluiu o mandato para o qual foi eleito – e que pode ser em breve um "governador no máximo 90% do mandato" – caso se licencie no início de 2022 para ser candidato a presidente – quer publicidade desde já e eleitores da região norte de São Paulo, além de construtoras a seu favor. Mas, certamente, perderá muitos importantes eleitores entre os usuários do Campo de Marte, que ele parece ignorar que existam, tanto em quantidade quanto em qualidade .

Houve sim acidentes terríveis no entorno do Campo de Marte, isso é fato. Assim como a poucos quilômetros do centro de Nova York, com seus vários aeroportos no entorno (JFK, La Guardia e Newark). Com certeza, também houve no entorno de Londres, onde existem nada menos que cinco aeroportos próximos (Heathrow, Gatwick, Stansted, Luton e London City). O acidente fatal com um avião Concorde, em 2000, aconteceu muito pouco distante a Charles de Gaulle, que serve Paris, onde também existe o Aeroporto de Orly. Nenhum político de Nova York, Londres ou Paris levantou uma proposta de desativação imediata deses aeroportos que, além de acidentes e incidentes, são também sujeitos a ataques terroristas pela alta concentração de pessoas.

Algumas pessoa ME criticaram pela comparação, dizendo que não posso comparar Campo de Marte com Charles de Gaulle. Justamente por isso que chamo a atenção deles para os muito menores (que de Gaulle) Luton e La Guardia, por exemplo. Observando que: é bem provável que São Paulo precise muito mais do Campo de Marte do que Londres precise de London City e Stansted, simplesmente porque lá possuem ligações férreas nacionais e intercontinentais que até hoje estamos esperando sentados para ter também, como o trem bala entre Viracopos e qualquer ponto da maior cidade do Brasil.

Para construir, políticos demoram; para destruir, são muito mais rápidos...

Falando em acidentes: vamos fechar as marginais Tietê e Pinheiros e "n" rodovias estaduais paulistas devido ao alto índice de acidentes?

A população vizinha aos locais de acidentes aéreos têm sua razão para temer pelos aviões, isso é natural. Mas o problema não é do aeroporto, no caso do Campo de Marte, ele está lá desde 1920, quando, acredito, só anfíbios, répteis, insetos, mamíferos e aves em geral ocupavam o entorno. Hoje, o problema dos acidentes é de âmbito municipal, estadual e federal e passa por fiscalização, primordialmente. Mas não se resolve dessa maneira!

O Campo de Marte foi a sede da aviação da Força Pública, embrião do Grupamento de Radiopatrulha Aérea da PM paulista, seu usuário mais famoso. Foi a sede da companhia aérea Vasp, quando Congonhas ainda não existia. Foi importante base da FAB por meio do Parque de Material Aeronáutico lá instalado. Foi palco de inúmeros eventos aeronáuticos civis e militares. Sempre foi e é a sede de várias escolas de aviação, com destaque para o Aeroclube de São Paulo, que figura entre os mais importantes do Brasil. Em torno de toda essa atividade do passado e do presente foram se instalando empresas de ponta de manutenção, seguros aeronáuticos, venda de equipamentos e aeronaves. Trazendo muito dinheiro para o Estado que o Sr. Dória apenas começa a administrar. Ele sempre foi um dos usuários mais abastados da aviação executiva, mas a maioria dos demais usuários que pousam e decolam e dependem desse movimento fantástico existente em Marte estão muito longe de ser, como muitos opositores do Campo de Marte acreditam, riquinhos mimados que usam aeronaves só para ir ao Guarujá. Os usuários do Aeroporto Campo de Marte movimentam a riqueza do País e empregam muita gente.

Mudar tantas empresas de lugar (para um lugar ainda ignorado) não é tão fácil. Eu escrevo sobre aviação e visito o Campo de Marte há décadas. Já escrevi muitas reportagens a respeito de seus usuários e do aeroporto em si, se o Sr. Governador me procurar posso mostrá-las. Sei que há décadas se procura alternativas para Congonhas e Campo de Marte. Alguns aeroportos executivos estão em construção em Parelheiros e São Roque, entre outras promessas, como um projeto natimorto de Caçapava, mas a demora contínua para que fiquem prontos envolve vários problemas, ambientais, políticos, administrativos e não há qualquer certeza ou previsão sobre se conseguirão realmente atender aos usuários da aviação executiva se o Campo de Marte deixar de ter essa função. Da mesma maneira Jundiaí e Sorocaba são aeroportos que parecem ser a solução mas não estão tão próximos assim da capital paulista e muito menos comportariam um aumento brutal de operações. E se o avião da SAMU de Santa Catarina tivesse que pousar em um deles? A criança estaria ainda mais distante do hospital em São Paulo e, em caso de urgência, sua vida ou sua morte seriam definidas por congestionamentos na estrada terrestre ou até tempo fechado por chuva pesada na estrada aérea, se fosse transportada de helicóptero.

Será que o nosso governador sabe qual aeroporto mais conecta São Paulo a outras cidades brasileiras? Congonhas? Guarulhos? Não: o Campo de Marte. São centenas de voos diariamente realizados para todo o Brasil transportando pessoas que decidem o futuro do País.

Presentear mais um parque aos cidadãos pode conviver com as atividades atuais do Aeroporto, pois a área é enorme. Há espaço para todos: aviões, helicópteros, pedestres, ciclistas, em convívio pacífico e organizado.

Museu? Quem tem cacife para bancar o transporte de dezenas de aviões, se forem os do antigo Museu TAM ou oriundos de outros lugares? Fácil é falar...

Por isso, eu não aceito que, em troca de apoio de empresas interessadas apenas naquele terreno e/ou em seu entorno ou em troca de votos da opinião pública local estimulados por uma campanha mentirosa e contraria à Aviação visando uma futura candidatura a Presidente da República, mais um político dê as costas para a atividade aérea e sua contribuição para o PIB nacional. Não se trata de uma análise emocional, embora o aeroporto de Santana tenha uma bela e longeva história fazendo parte da vida de muitas pessoas: a crítica é, sobretudo, racional, pela perda de negócios que esse fechamento pode acarretar a curto, médio e longo prazo e prejuízo a uma grande parcela da população não só paulista, mas brasileira. Simples assim.

Citando a fonte e autoria, este texto pode e deve ser compartilhado. 

Participe, como eu, do abaixo-assinado para que o Aeroporto Campo de Marte não seja fechado:

https://www.change.org/p/governo-de-s%C3%A3o-paulo-n%C3%A3o-acabem-com-o-aeroporto-campo-de-marte?recruiter=748524310&utm_source=share_petition&utm_medium=facebook&utm_campaign=share_petition&utm_term=address_book.pacific_post_sap_share_gmail_abi.gmail_abi.pacific_email_copy_en_us_5.v1.pacific_email_copy_en_gb_4.v1.pacific_email_copy_en_us_3.control&fbclid=IwAR0SldN8n10xoeu8deTebkyDhqECyeksLd7kTp5kAcJwP1kFARRNKSF-JS0







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