terça-feira, 16 de dezembro de 2014

CAIXA PRETA # 111

Dezembro de 2014


O LADO “B” DAS CONCESSÕES

Para quem não viveu a era dos discos de vinil, a expressão “lado B” pode não significar nada. Para essas pessoas, é difícil “cair a ficha” (ops! outra frase antiga!) a respeito.
Nos discos de vinil que, ao contrário dos CDs da era digital que só têm um lado gravável, era no lado B em que eram gravadas, na maioria das vezes, as músicas menos famosas, menos conhecidas e menos expressivas do cantor, cantora ou banda.
Já o lado B dos aeroportos concedidos à iniciativa privada (às vezes, “privada” em todos os sentidos) pode ser ofuscado pelo lado A, comemorado pela imprensa e divulgado aos quatro ventos pelas assessorias de imprensa dos mesmos. Mas é o lado B que nos faz, às vezes, sentir até mesmo certa saudade da Infraero, a conhecida administradora federal dos aeroportos brasileiros. Não que a Infraero tenha, de repente, se tornado santa – o que ela nunca foi, mesmo com algumas boas iniciativas aqui ou ali – mas ninguém esperava que os aeroportos “privatizados”, como se diz, fossem rezar da mesma cartilha, e até superarem a Infraero no quesito “maldade”.
A foto abaixo é da sala de embarque do Terminal de Passageiros 4 do GRU Airport, o famoso “puxadinho”, que virou motivo de piada ao ser construído pela Infraero para aliviar a falta de  espaço nos terminais 1 e 2 do aeroporto da Grande São Paulo e ainda teve um desabamento às vésperas de sua inauguração, no final de dezembro de 2011, ferindo dois operários. O desabamento, aliás, aconteceu durante uma entrevista coletiva de imprensa (vide notícia em http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/sp/cai-teto-de-novo-terminal-no-aeroporto-de-guarulhos/n1597394037868.html).
Como se vê pela foto de Solange Galante, esta que vos escreve, os vidros foram tornados foscos, com apenas uma faixinha transparente, impedindo que se veja os aviões no pátio e, principalmente, que se fotografe os mesmos. 



Frescura de spotter comentar isso? Nada disso: quantas crianças não chegavam também perto dos vidros, maravilhadas pelas máquinas voadoras, e que agora não podem mais ver aquelas reluzentes máquinas? Quantos passageiros de primeira viagem – hoje eles são inúmeros – só ficam sabendo como é o avião onde vão embarcar após a abertura de portas e entrega quase simultânea de seus cartões de embarque ao despachante da empresa, antes de caminharem até o avião? Ou seja, já se eliminou os terraços panorâmicos e o GRU Airport, em particular, fez um spotter point distante e pessimamente localizado só para “inglês ver” (às vezes nem inglês vê) e eliminou os pontos de observação de aeronaves nas asas A e D, no mezanino dos terminais 1 e 2 para trocá-los, após as reformas em curso, por mais lojas no futuro.
Capitalismo selvagem, nada mais que isso? Que nada, grande aeroportos da Europa e EUA – este, o maior país capitalista do mundo – têm pontos de observação de aeronaves para passageiros e visitantes, dentro e fora dos terminais, grandes ou pequenos, com ou sem regras específicas e até rígidas de segurança, mas os têm. E, mais ainda, foram nesses pontos de observação que pilotos e administradores de empresas aéreas de hoje aprenderam, ainda quando crianças, a gostar de aviação, mesmo no Brasil, quando ainda existiam esses terraços! Tá, se querem manter spotters afastados dos aviões – o que é errado, pois eles não são criminosos, apenas se dedicam a um hobby muito mais saudável que infestar redondezas de aeroportos com balões artesanais de ar quente ou se drogar nas cercanias dos mesmos aeroportos – pelo menos respeitem as crianças, os jovens, e mesmo os mais velhos que querem ver os aviões antes do embarque.
A propósito ainda do GRU Airport: matéria da revista Valor Econômico cujo link é http://www.valor.com.br/empresas/3811230/iata-diz-que-terminal-novo-de-guarulhos-mantem-gargalos aponta o dedo para o aeroporto ao noticiar que David Stewart, diretor de Desenvolvimento de Aeroportos da Associação Internacional de Transporte Aéreo, a IATA, disse a jornalistas internacionais (ou seja, agora tá todo mundo publicando isso) que o GRU Airport, em relação ao TPS 3 de Guarulhos, (tão grande quanto bonito... mas...) não entendeu que “o aeroporto é um grande hub internacional e o quanto é importante facilitar a conexão de passageiros para outros voos”. Ele acrescentou que “Não houve nenhuma melhora no processo e tempo de conexões”. Sim, existem relatos de passageiros que perderam mais facilmente as conexões em Guarulhos diante de tanta fila. Eu mesma, ao utilizar Guarulhos semana passada, ouvi passageiros no ônibus de e para o metrô Tatuapé, amaldiçoando o aeroporto, em vários sentidos. Segundo a IATA, a concessionária do GRU Airport teria “perdido uma grande oportunidade de resolver esses gargalos históricos no fluxo de passageiros no aeroporto”.

QUESITO ALIMENTAÇÃO

Mas não fica só nisso. O ultra-mega-gigantesco TPS 3, orgulho da GRU Airport por ser maior que TPS 1, 2 e 3 juntos, desagrada também paladares. O editor/diretor/presidente e fundador da revista Flap Internacional, Carlos Spagat, que viaja muito, conhece muito de aviação e de aeroportos, ao longo de mais de 52 anos de estrada de sua revista, a maior do gênero do país, fez críticas – e um pequeno elogio no final – ao TPS 3 de GRU, que reproduzimos a seguir (edição de novembro passado). Será que os administradores do aeroporto não poderiam, por exemplo, escolher melhor e não só pelo quesito “etiqueta” ou “griffe” a gastronomia local e manter fiscalização permanente quanto a isso?




MAIS SOBRE O GRU AIRPORT

O texto abaixo é de autoria do Sindicato Nacional dos Aeronautas, publicado no último dia 12 de dezembro:

“SNA busca solução para problemas com Passe Livre no GRU Airport

O SNA enviou ofícios e está em tratativas com a superintendência do GRU Airport (Aeroporto Internacional de Guarulhos) para solucionar problemas relacionados ao não-cumprimento do direito ao Passe Livre.
Desde o dia 01 de agosto de 2014, seguindo determinação da última Convenção Coletiva de Trabalho, os aeronautas com contrato de trabalho ativo em empresa de aviação regular têm direito a usar voos de companhias aéreas congêneres, uma reivindicação histórica da classe.
Porém aeronautas têm encontrado dificuldades e entraves no acesso aos voos das companhias congêneres no Aeroporto Internacional de Guarulhos. O acesso aos tripulantes uniformizados e que estejam portando o crachá funcional não pode ser vetado, mesmo que não estejam com bilhete ou cartão de embarque em mãos, já que algumas companhias utilizam o sistema de e-mail.
O SNA vai continuar fiscalizando e exigindo providências para facilitar o trânsito dos tripulantes entre os terminais, privilegiando-se a efetividade deste direito dos aeronautas.”

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Portanto, questionamos: até quando a GRU Airport nos dará de presente seu pacote de maldades para com passageiros, visitantes, spotters, aeronautas, criancinhas e novos viajantes?

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CONCURSO DE ILUSTRAÇÕES – FOTOS DO VENCEDOR!!!


Ricardo Sacco, vencedor do nosso concurso de ilustrações, recebeu em domicílio e pelo correio seu kit de presentes e fez fotos com seu celular, junto a seu filho, comemorando os presentes. Parabéns novamente!!!





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Colaboração (o autor pede anonimato mas garante que tem motivos para reclamar):
“Imagino que a TAM deva estar tendo lucros enormes, aviões sempre cheios para dispensar passageiros. Tem como dificultar mais o simples processo de comprar um bilhete?? O site é uma m****, o atendimento telefônico é uma m****, você quer fazer uma compra pela internet mas não consegue pois o lixo do site simplesmente diz que o seu email (o mesmo que o Fidelidade lhe manda correspondência) não é válido. Liga para o setor correspondente de apoio ao site e o mesmo já encerrou o atendimento. P****, e se amanhã o bilhete estiver mais caro?? Vão deixar de cobrar a diferença?? Claro que não!! Não boa, já tivemos coisa muito melhor representando o Brasil como empresa aérea de bandeira.”

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Colaboração

Flagrante de Alberto Semedo Neto


"Calma , Calma , estou chegando !!! " .... kkkk 




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“NOSSAS PRINCIPAIS SEÇÕES”

NOSSA EMOCIONANTE COLEÇÃO DE PÉROLAS VOADORAS

(Erros da imprensa que capturamos por aí. Vamos contar somente os pecados, e não os pecadores, senão eles vão soltar uns pitbulls atrás de mim!!!)



A Pérola da imprensa especializada em outubro de 2010 (revista 01)

“(...) Muitas delas (empresas aéreas brasileiras) simplesmente faliram, ou foram absorvidas por outras empresas maiores. Dentre essas companhias podemos lembrar o Aerolloyd Uguassú (1933-1939) (...)”

O nome correto dessa empresa foi Aerolloyd Iguassú. Entendemos, erro de digitação – mas, para isso, existe revisão final... (ou deveria existir)



A Pérola da imprensa especializada em outubro de 2010 (revista 01)

“Desculpas aos nossos colaboradores – na edição de no131, a foto do Boeing 737-300 da Pluma Air, publicada na página 49, foi feita por Eros Moura Filho.

O nome correto desse fotógrafo é Enos Moura Filho, nosso amigo, aliás. Não identificar corretamente a autoria de uma foto e ainda errar o nome do fotógrafo na tentativa de corrigir o erro, não dá, né?



A Pérola da imprensa especializada em maio de 2014 (revista 02)

“1996 - 31 de outubro – O Fokker 100 (Fokker 28 Mk-0100) PT-MRK da TAM (...) cai no bairro do Jabaquara (...). Morreram 96 passageiros, seis tripulantes e três pessoas no solo.”

Negativo. Segundo o relatório oficial do Cenipa, que temos em mãos, as vítimas fatais foram 89 passageiros, seis tripulantes e quatro pessoas no solo.


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VALE A PENA LER DE NOVO

de CAIXA PRETA no 49 / janeiro, fevereiro, março e abril de 2006


OUVIDO NA TEVÊ:

"Um avião da FAB deve desembarcar às quatro horas da tarde de hoje no Peru para buscar os brasileiros envolvidos no acidente com um ônibus."
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Caixa preta de comissário: li no Orkut um cara dizer que escutou um comissário de bordo da Gol, durante o speech, chamar o 737-300 de Boeing Next Generation. Mas “Next Generation”, na verdade, é a família 737-700, 737-800 e 737-800. Mas vale tudo para fazer com que o passageiro leigo acredite que está voando em uma aeronave de última geração.
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NÃO ME ENGANA QUE EU NÃO GOSTO!

A rádio Jovem Pan de São Paulo vendeu seu helicóptero próprio (um Bell todo vermelho), mas continua chamando o helicóptero atual, um R-22, alugado de uma empresa do Campo de Marte, de “vermelhinho Jovem Pan”, embora ele seja azul. O pior é ouvir a repórter aérea, enquanto se aproximavam de Congonhas, dizer:
“Agora, podemos ver um avião da Gol pousando na pista QUATRO do Aeroporto de Congonhas...” *

*Para quem ainda não sabe, as pistas de Congonhas são a 17 (17R e 17L) e 35 (35R e 35L) e há só duas pistas paralelas.

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DIRETAMENTE DOS NOSSOS “ARCHIVOS”

(Ensinando Airbus para a Veja)


  


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DEU N@ INTERNET
Este mês, indicamos dois links que são verdadeiros presentes de Natal para nossos leitores: primeiro, o link de um belo texto escrito por Lucas Ulhôa e Alexandre Alves sobre a preservação de dois Boeing da Vasp na Chácara do Piloto, do Cmte. Edinei Capistrano, em Araraquara/SP:


E recomendamos também o Blog  varigmemories.blogspot.com.br” do ex-piloto da Varig e variguiano apaixonado Sérgio Knoch, que nos apresenta sua coleção de material da Varig, uma das maiores do país (se não a maior!)


São dois exemplos indiscutíveis de resgate e preservação da memória de nossas saudosas companhias aéreas de quando voar não era barato mas era muito mais apaixonante!!!


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– “PENSAR PARA VOAR” –

(PENSAMENTOS E FRASES RELACIONADOS À AVIAÇÃO) 

“Para cada tragédia há centenas de milhares de êxitos.” (Robert J. Serling, no livro “O Avião”(Loud and Clear)


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CAIXA COR DE ROSA

Neste mês, meu presente natalino para meus leitores. Um dos trechos dos quais mais gosto, de meu inédito romance de aviação, para que apreciem hoje ou mesmo na Noite Feliz de 24 para 25 de  dezembro! A principal personagem é a Piloto de Linha Aérea “Cmte. Sô”.
(texto de Solange Galante)



“(...)
Atravessaram o saguão do aeroporto, em cujas lojas havia papais-noéis sempre cercados por crianças. Era dia vinte e quatro de dezembro – haveria ainda tempo para os derradeiros pedidos de presentes?
Apressados, os passageiros e seus acompanhantes mal apreciavam o grande presépio perto dos check-ins.
Enquanto caminhavam para o Boeing, o copiloto comentou com a comandante:
– As pessoas estão apressadíssimas para passar o Natal com a família! Que bom que o tempo ajuda e não há previsão de fechamento dos principais aeroportos do país!
– Sim. Felizmente!
– Quanto a nós, já estamos há tantos anos sendo escalados para voar na "Noite Feliz" que praticamente não sabemos mais o que é passá-la em família!
– De fato. Particularmente, desde que comecei a voar equipamento 737, só passei um Natal em terra. Nos demais, exceto quando fora da aviação comercial, estive voando pelo menos até às 23 horas. Não me importo, pois substituo colegas que têm família próxima com quem cear. Não é o nosso caso.
– Bem já passei um Natal com meu primo. Mas isso foi há vários anos.
(...)
Algum tempo depois já deixavam para trás o Aeroporto Afonso Pena, de Curitiba.
Rumando para São Paulo, ao nivelarem, a piloto deixou a navegação a cargo de seu colega e, por um instante, transportou seus pensamentos para as estrelas lá fora.
–"Que linda noite!" – pensou.
Quando desocupado da monitoração, Mário voltou-se para ela:
– Em que está pensando, comandante?
– Penso nas estrelas...
– Na nossa querida Via Láctea, portanto...
– Mas não só nas dela. Penso também nas estrelas de nosso avião!
– Há artistas famosos a bordo?
"Cmte. Sô" riu e explicou:
– Não me refiro a "essas" estrelas. Adivinhe quais são as estrelas de nossa aeronave!
– Não tenho a mínima ideia de quais seriam.
– Estão nas pontas das asas, por exemplo.
– As luzes de navegação?
– Sim. E as anticolisão.
– As luzes vermelhas e verdes não se parecem com estrelas.
– À primeira vista, não, mas, pense bem: as asas estão escuras, só há luzes em suas pontas. É como se as luzes estivessem soltas no espaço. Luzes isoladas no céu, no meio da escuridão – o que são?
– Estrelas.
– Viu só? E esse conjunto de luzes do avião é uma constelação!
– Puxa, você pensa em coisas em que eu jamais pensaria...
– O voo me inspira muito! Sempre foi assim. Aprendi com vovô. Aliás, na época dele, voava-se de olho nas estrelas – as de verdade – pois era através delas que os navegadores calculavam a posição da aeronave, principalmente nos voos noturnos mais longos e sem contato visual com referências no solo. Você, por exemplo, sabe usar um sextante?
– Eu? Sequer saberia segurar um...
– Pois eu aprendi a usá-lo. Aprendi com vovô. Não tem utilidade para nós, atualmente, com esses computadores dos aviões de hoje mas, naqueles tempos, era uma grande garantia para se chegar ao destino certo, por mais longa que fosse a viagem!
Contato com o Controle São Paulo e alguma espera sobre o radiofarol Rede, um balizamento da entrada da terminal São Paulo, pois o tráfego ainda era intenso.
Um pouso suave, para uma pista de tamanho restrito. Estacionaram perto da ala norte de Congonhas.
Havia tempo para uma voltinha, mas a comandante não deixou a aeronave. E Mário, que também não tinha pessoas próximas com quem passar aquela noite, preferiu também ficar lá dentro. Com "ela".
E ela não se incomodou com isso – muito pelo contrário, agradeceu, pois filosofava a respeito do período das Festas e sabia que, como um discípulo em aprendizagem com seu mestre, ele estava sempre pronto a ouvi-la.
Porém, para que ela começasse a liberar seus pensamentos, ele fazia a pergunta de sempre:
– Em que está pensando, comandante?
– Ainda no Natal. O Natal de nós, aviadores. O Natal de quem o passa longe dos familiares e também o Natal de quem não tem com quem passá-lo.
O silêncio dele dizia: "Continue, por favor".
E ela não se fez de rogada:
– Quando criança, eu adorava passar o Natal em família. Mas, aos poucos, nossa família, que já não era das maiores, foi diminuindo, com a morte de nossos pais, avós, tios, e até a ida de alguns parentes para outros estados ou para o exterior. Jorge, que então já era piloto, ficava muito pouco com a gente... Fomos deixando de fazer ceias, "amigos secretos" e mesmo reuniões mais simples para rever os parentes. Só restaram árvores de Natal e presépios em algumas casas. Meu irmão passou alguns anos voando ou fora de São Paulo. Numa época em que trabalhou muito mesmo, tentou dividir um apartamento, perto de Congonhas, com uns colegas, pois o apartamento de nossa família, perto da rua Augusta, éra-lhe muito distante do aeroporto. Assim também nós nos separamos, embora aos poucos pudéssemos nos rever com maior frequência. Mais tarde, morando sozinhos, cada um montou seu "cantinho”.
Cada vez que pensava nela assim solitária em seu lar, Mário desejava ser-lhe companhia frequente também dentro de casa...
– Na verdade – ela continuava – meu lar não é meu apartamento. Meu lar é Congonhas. E também aqui, o cockpit. Estou em casa, agora.
Uma pausa, para concluir:
– Bem, vamos fazer voar novamente minha casa, meu caro primeiro-oficial.
Era a senha para que Mário a auxiliasse nos preparativos para a nova decolagem, desta vez rumo a Belo Horizonte.

(...)

A maior parte dos passageiros embarcou em São Paulo.
Na decolagem da 35 Left tinham, à direita, no horizonte, a iluminação natalina das torres da Avenida Paulista e um show pirotécnico nas proximidades da mesma. Mas não havia tempo para ficarem apreciando tal espetáculo.
O grande avião alçou voo novamente, rumo às estrelas.
Uma vez nivelados, "Cmte.Sô" tratou de fazer o speech especial do dia:
– Senhores passageiros, aqui quem fala é a comandante. Informo que hoje será servido champanhe e panetone em nosso serviço de bordo. E, em nome de toda a tripulação, desejo-lhes um Feliz Natal!
A piloto mal podia imaginar que seu speech permitiria que uma agradável surpresa lhe fosse revelada...
Nem dois minutos depois e Fátima, uma das comissárias, entrou na cabine de comando para lhe falar:
– Comandante, um passageiro quer vê-la. Parece que reconheceu sua voz!
– Quem será? – a piloto voltou-se e viu a colega aeronauta alargar o sorriso, ao responder:
– Papai Noel!
Enquanto Mário, atônito, olhava para as duas:
– Meu Deus! ELE!!! – disse a piloto.
– Ele virá até aqui, comandante?
– Não. EU irei até lá. Fátima, muito obrigada pela informação.
A comissária retornou à outra cabine e Sônia tratou de esclarecer – ou lembrar – Mário:
– Não se recorda do senhor Nicolau? Creio que você o tenha visto somente no primeiro Natal que passamos voando juntos, mas eu pude vê-lo noutras ocasiões também.
– Um Papai Noel?
– Sim.
– Ah! É mesmo! Aquele de Belo Horizonte?
– Exato. O que anualmente, após ter deixado de ser uma criança pobre, embora sem ter enriquecido e mantendo-se muito humilde, viaja para São Paulo para fazer o Natal das crianças de orfanatos, como aquele onde viveu. Ele distribui doces, presentes...
– Um verdadeiro Papai Noel!
– Com certeza.
A comandante já se levantava.
– Deseje-lhe um Natal repleto de felicidades! – pediu Mário.
– Pode deixar. Transmitirei seus desejos.
Ela percebeu que havia se esquecido de perguntar à comissária qual era a poltrona do bom velhinho. Talvez precisasse perguntar-lhe, ao entrar na cabine de passageiros, para localizá-lo logo.
Porém, logo notou que não seria necessário. Ao contrário das outras vezes em que o encontrara a bordo, desta vez ele estava exatamente vestido a caráter, com as roupas vermelhas, incluindo o gorro, que estava sobre a cabeça.
Já a longa barba branca, era natural. O velho de setenta anos de idade – mas com uma disposição de metade desse tempo de vida – cultivava-a há anos. Tinha também olhos de um azul muito intenso e deixara de ser chamado pelo nome com que fora batizado a partir de quando se mudou para Minas e passou a ajudar a alegrar o Natal dos pequenos – era simplesmente conhecido por Nicolau há quase cinquenta anos!
Ele percebeu como foi fácil para a piloto reconhecê-lo. Sorriu, enquanto ela se aproximava.
Mas antes mesmo que ele começasse a falar, ela lhe disse, ao chegar mais próximo:
– A Manche Negro agradece por estar preferindo a nossa empresa!
– Oh, oh, oh – à risada de Papai Noel seguiu-se, de imediato, um pedido – Sente-se ao meu lado, que as poltronas aqui estão vagas. Só um pouquinho, vamos!
Enquanto ela se sentava, ele já continuava:
– ... e eu lhe explico que mudei de empresa aérea ao saber que VOCÊ havia mudado também, justamente para reencontrá-la, como neste ano: neste voo deu certo!
– Felizmente, Sr. Nicolau! E como está o senhor?
– Cansado mas feliz, muito feliz. As crianças que ajudo são muito carentes, principalmente de amor e atenção, e isso gasta minhas energias, mas a missão está mais uma vez cumprida.
– Desta vez resolveu viajar já vestido?
– Sim. Desde o Natal anterior. Mas só na volta para casa. Para levar comigo as emoções do contato com os pequenos... – baixou o tom de voz e falou-lhe bem perto – E, é claro, eu me divirto muito ao ver a cara de espanto dos passageiros...
– Pensei no senhor, noutro dia. Eu já estava com saudades... Sinto grande orgulho de ser amiga de um Papai Noel realmente de verdade.
Ele riu novamente.
– Sou Papai-Noel por vocação, embora não por profissão.
– Até mesmo voa!
– Pois é, apesar de não ser de trenó, oh, oh, oh... E já tenho um sucessor!
– Verdade? E quem é?
– Meu irmão adotivo.
– Ah, o senhor já tinha me falado sobre ele...
– A barba dele já está ganhando da minha, em comprimento! Ele é vinte anos mais jovem do que eu. Quando eu não tiver mais forças para as crianças, ele ainda terá.
– Sua força será eterna, através dele! Bem, senhor Nicolau, terei que voltar à minha cabine, agora. Foi imenso meu prazer em revê-lo.
– Espere! Tenho um presente para você! Pegue, por favor, meu "saco de Natal" aí em cima...
Ela pegou o saco de tecido vermelho do Papai Noel no compartimento de bagagens de mão. Ele abriu-o, depois, e dele tirou um gorro idêntico ao seu, embora um pouco menor.
– É para você. Para você jamais se esquecer de mim!
– Que lindo, Nicolau! Não precisava se importar...
– Sou também SEU bom-velhinho, minha querida "Piloto Noel"
– "Piloto Noel"... gostei! Mas não o usarei agora, certo?
– Tudo bem, mas só se você me der um beijo.
– Um por mim e um por Mário, que também está a bordo e pediu-me para desejar-lhe um Natal muito feliz!
Após a despedida carinhosa, a comandante retornou ao cockpit e à moldura noturna dos instrumentos e telas iluminados um a um nos painéis.
Ao entrar, resolveu colocar o gorro na cabeça.
Sentou-se em seu lugar e só depois é que Mário voltou-se.
– Comandante! – ele exclamou – Clima natalino, é?
Ela sorriu, colocando os fones sem tirar o gorro.
– Pois é. Ah, Nicolau retribuiu seus votos.
– Agradeço. Como está ele?
– Muito bem, como sempre. Muito bem humorado, também. Além de estar vestido da cabeça aos pés como Papai Noel!
– É uma pessoa muito amável e bondosa.
Não muito tempo depois, aterrissavam no aeroporto mineiro. Nicolau, já desembarcado, acenou-lhes do pátio e os pilotos retribuíram a despedida. A missão do Papai Noel brasileiro estava terminada.
Os dois tripulantes ainda voariam mais, voltando a São Paulo. Cruzaram o céu na noite de Natal. Tinham, porém, a certeza de que não encontrariam o trenó e as renas do bom velhinho porque já o haviam deixado em casa...”



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“COMIDA DE AVIÃO” 


Companhia: Passaredo
Trechos: Guarulhos-Ribeirão Preto e Ribeirão Preto-Guarulhos
Aeronave: ATR72-500
Data: 10 de dezembro de 2014
Observações: Opções de bebidas: Coca-Cola normal, Guaraná light e água com ou sem gás. Só.
Fotos: autoria de Solange Galante




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“CAPAS”

Algumas capas de revista de aviação do passado que se destacam por si só ou trazem homenagens históricas. Colabore você também enviando as que mais gosta!

1981. Capa da revista oficial do Clube de Aeronáutica, da FAB com o Aeroporto do Galeão.


 Interessante voo em elemento em 2001.


 Capa da revista oficial da Fundação Ruben Berta, gestora da saudosa Varig, data não anotada. 


Capa da extinta revista Voar em 1983 com a primeira pintura dos Airbus da Vasp.


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 “Sites úteis”


Nesta página você encontra Airworthiness Directives (ADs), banco de dados de performance de aeronaves, registros de aeronaves nos EUA e em outros países, regras para registros (prefixação), Federal Aviation Regulations (FAR) da FAA, reportes de acidentes do NTSB, estatísticas de aeroportos, diretório de companhias aéreas, fabricantes e fornecedores de equipamentos, cálculos em geral, real-time live ATC, fóruns, museus de aviação... e muito mais!


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N O V I D A D E S


Vejam na revista Avião Revue número 183 (dezembro de 2014), minha reportagem sobre os cursos de aviação do SENAI-SP. 

 (Foto: Divulgação SENAI)


Vejam na revista Flap Internacional número 506 (2ª. quinzena de novembro de 2014), minha reportagem histórica sobre a finada Meta Linhas Aéreas. 




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Envie não só sugestões, comentários, reclamações como também denúncias de maus tratos em companhias aéreas, flagrantes em fotos e textos, desabafos, histórias, contos, crônicas, piadas, tudo o que lhe agradar divulgar, anonimamente* ou não.
(*podemos publicar anonimamente depois de comprovar se o autor realmente existe!)
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Veja o texto da Lei EM VIGOR em:

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4 comentários:

  1. Solange, está aí algo que faz tempo que eu não entendo: por que os aeroportos daqui estão "cercando" a vista para a pista?

    Meu pai foi da aviação, e tenho uma paixão muito grande por aeronaves, tendo uma coleção de miniaturas, matérias, livros e muitos itens relacionados (até da ex-Vasp, onde o velho trabalhou por vinte anos). Lembro que, como muitos daqui quando pequenos, iam até Congonhas para ver os aviões em atividade na pista.

    Hoje sou pai, e gostaria de fazer isso com meu filho, que com três anos já gosta de avião tanto quanto eu. Porém agora só passo do lado de congonhas para ele ver, quando possível, alguns parados, mas assim como em CGH e em GRU, não se tem mais aquela vista privilegiada.

    Não sei do que tanto estão com medo, ou querendo esconder. Só sei que retiraram o prazer de muitos amantes da aviação, e a oportunidade para novos e futuros amantes da aviação.

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  2. Ah! Muito legal a matéria do link que postou sobre os aviões preservados da VASP. Houve uma dedicação ali para deixá-la em ordem. Enquanto isso o Mike-Alpha...

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Pois é, Raí, e eu te garanto – qualquer um que viaje para lá sabe o que digo – que nem nos EUA, sempre alvo de terroristas, aviões são tão escondidos. Lá eles sabem a diferença entre spotters e passageiros e pessoas ameaçadoras.
    Abração

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